O surfista do Guincho, Zé Ferreira, tem mostrado potencial ao longo dos anos para estar no topo do surf europeu. A nível técnico o seu surf já está num patamar elevadíssimo mas faltavam os resultados para confirmar o seu valor. Recentemente, Zé conseguiu dois grandes resultados de seguida, primeiro esteve muito perto de vencer pela primeira vez na Liga MOCHE e logo de seguida foi o melhor português num WQS de 6 estrelas no México, terminando na 24º posição. A ONFIRE falou um pouco com ele sobre a fase que atravessa no momento.
Recentemente tiveste o teu melhor resultado até à data na Liga MOCHE. O que fizeste diferente nesta etapa para teres chegado à final?
Para ser sincero não fiz grande coisa de diferente no que diz respeito à forma como costumo competir, realmente senti-me em forma pois tenho trabalhado bem, mas a grande diferença foi ter levado alguns dos meus melhores amigos bem como a minha namorada para me apoiarem. Isto fez-me sentir bem durante todo o tempo de competição, pois conseguia ligar e desligar o “focus” entre heats e após longos dias na praia, o que de certa forma me deixou mais fresco para os heats!
Ribeira D’Ilhas é um local onde mostras sempre muito bom surf. Achas que é uma onda que se encaixa bem no teu surf?
Sim, gosto muito da onda de Ribeira D’Ilhas. É uma onda comprida e técnica, mas ao mesmo tempo com diferentes secções, sendo assim considero Ribeira uma onda “high performance”. Penso que me dou bem lá pois é uma das minhas ondas preferidas. Acho que o meu surf é de linhas mais abertas, clássicas, e Ribeira pede realmente que o surfista consiga surfar a onda de maneira fluida e bonita mas também agressiva, que é basicamente o que quero e treino para ver no meu surf.
O que faltou para venceres a etapa?
Bem… Pergunta chata, ahah, acho que o que me faltou na final foi posicionamento no pico simplesmente. As ondas estavam escassas, maré vazia, swell de norte, meio metro, não havia ligação entre o outside e o inside… Nestas condições o importante, por mais técnica que tenha o surfista, é apanhar as melhores ondas! O Tomás Fernandes fez um excelente trabalho toda a competição, melhor ainda na final e acabou por ganhar! Fiquei triste por não ter conseguido mas feliz por ele, acho que todos nós precisamos de pequenas vitórias diariamente para continuarmos motivados!
Qual é a importância para ti de vencer na Liga MOCHE?
Vencer na Liga hoje em dia não é brincadeira nenhuma! Temos o campeonato nacional com mais nível da Europa, provavelmente os melhores presidentes que tanto a ANS e a FPS poderiam ter a trabalhar diariamente com único propósito de elevar o surf e os surfistas em Portugal, surfistas de fora a prestigiar o evento como o Gony e Marlon, e um público cada vez mais interessado! Portanto vencer na Liga não só é um impacto mediático muito grande como começa a ser tão difícil e prestigioso como um WQS de 3* por exemplo. A única diferença é que no 3* há mais prize money, e isto é algo com o que todos temos lutado para melhorar, e está cada vez melhor! Mas na minha óptica, se o surf é um dos desportos mais amados no mundo, hoje em dia mais que muitos desportos, deveria estar a receber de empresas e investidores nos campeonatos mais do que aquilo que está.
(Zé Ferreira em Ribeira D’Ilhas durante o Allianz Ericeira Pro)
Tiveste um resultado muito bom no México, podes falar sobre esse campeonato?
O México para mim foi um género de ponto de viragem. Na verdade, sinto que este último ano tenho andado de certa forma apagado, sem tirar grandes resultados, sem aparecer tanto. Mas realmente tenho tentado algumas coisas novas na minha rotina, como o Jiu-jitsu, acompanhamento por um psicólogo, grandes conversas sobre motivação com o meu tio Miguel e talvez aqui me apercebi de várias coisas. Neste campeonato fiquei com o Marlon Lipke, e penso que também muito por ele se deveu isto. Aprendi bastante com ele, sobre as suas ópticas de ver a vida como desportista, treino, bem estar em campeonatos, um pouco de tudo, sendo que me abriu outros horizontes, vontades e caminhos a seguir, outra fome para competir. Parece que neste campeonato percebi que realmente por muito difícil que seja o heat, não interessa contra quem seja, posso vencer. Tanto o heat, como a ronda, como o campeonato. Como tal, entrei para os meus heats com a mesma humildade, mas com uma postura diferente, mais sólida e composta. Adicionei a minha vontade de passar e o meu surf a isso, e tirava notas com alguma facilidade… Lembro-me no 1º heat fazer uma onda e pensar que ia sair como um 4,5 ou assim e deram-me um 7,5, deixando-me muito surpreso mas no bom sentido!
O que achaste da onda de Los Cabos?
É uma onda boa. Deve ter os seus dias perfeitos como todas as boas ondas, mas durante este campeonato esteve bastante inconsistente. De manha, no free surf, esperava-se 15 minutos para apanhar uma onda com o crowd, e também ai não foi fácil perceber como a surfar melhor, pois tinha uma secção rápida ao princípio passando depois para uma parte com mais água, mais mole e por vezes com backwash… Não era fácil, mas definitivamente melhor do que por exemplo o wqs de Inglaterra ou outras etapas durante o ano. Era uma onda que apesar de “tricky”, era bem divertida, e como se viu dava para fazer bom surf e bons scores!
O que significa para ti este resultado?
Para mim este resultado significa o meu começo neste que vai ser um longo, árduo e incrível caminho no mundo de alta competição no surf. A verdade é que neste mundo, perdemos mais do que ganhamos o que pode ferir a auto estima e confiança de um atleta, por exemplo, passei 3 heats este wqs 6* mas posso chegar ao próximo e perder de primeira, o que interessa é continuar a ir e a acreditar pois se continuarmos com a cabeça no objectivo e trabalhar-mos para esse acontecer, ele há de ficar cada vez mais perto!
O que se segue?
Por agora fico na América central! Tenho para a semana um WQS 4* em Acapulco, México, e seguidamente outro 6* em El Salvador! Depois disto, voltar a casa uns dias, recarregar baterias e seguir para os próximos!
Isso significa que vais faltar à etapa de Peniche (Montepio Peniche Pro by Rip Curl)?
Infelizmente sim. Ainda pensei em não ir ao WQS 4*, mas após uma reflexão com os meus treinadores e o meu tio, decidimos que eu ia ficar aqui e fazer pontos no WQS.
Quais são os teus objectivos neste momento?
Neste momento o meu principal objectivo a curto prazo é ganhar pontos suficientes para entrar nos eventos Prime. Uma vez que estiver ai é reavaliar as condições, traçar outros objectivos e trabalhar para os fazer acontecer! Fora do WQS, competir em todos os Open que puder e tentar ganhar o máximo de etapas, evoluir o meu surf e ganhar 5kg de massa muscular eheh!
Para terminar…
Queria agradecer a todos os que me dão apoio, nem que seja por um segundo, a todas as pessoas que fazem diferença na minha vida, nem que seja uma diferença microscópica e à ONFIRE também, pelo óptimo trabalho. Nisto quero dizer família, amigos, namorada e patrocinadores, O’Neill, Ocean&Eart, Fonte Viva, X-Cult surfboards, Mt Woodgee e Health and Raquet Club Quinta da Marinha!
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