Para correr o circuito mundial de surf full time é preciso reunir uma série de atributos, além do talento para o surf. É preciso ter coragem para deixar tudo para trás e seguir um percurso com poucas vitórias e muitas derrotas. É preciso ter capacidades para gerir os momentos mais difíceis e manter as condições para seguir em frente e atingir objectivos que em momentos poderão parecer impossíveis. Pedro Coelho é um dos poucos portugueses que neste momento seguem essa via e, aos poucos, vem provando a ele próprio e aos outros que merece estar a competir entre os melhores do mundo. A ONFIRE falou um pouco com ele entre viagens para saber mais sobre o seu percurso e a vida “na estrada”…
Quais são os teus objectivos no surf?
Os meus objectivos a curto prazo são de qualificar-me para as provas QS de 10.000 pontos, o que é basicamente estar no top100 do QS, já para a segunda metade do ano. A longo prazo é ver como é que o meu surf evolui daqui para a frente e continuar a ser surfista profissional o máximo de tempo possível. E se houver evolução para isso, após os 10.000, é tentar acreditar na qualificação para o CT.
Quando decidiste dedicar-te ao circuito mundial?
Eu tive um percurso um pouco fora do normal. Quando saí do circuito esperanças não tive resultados expressivos no Pro Junior e comecei a fazer o QS mas não tinha os resultados ao nível do que achava que conseguia. Estive cerca de dois anos a perder de primeira em todos os heats mas decidi não desistir. No final do ano passado estive quase a desistir mas tive dois resultados que me deram acesso a provas 6.000 e a partir daí decidi fazer o circuito a tempo inteiro, até porque consegui reunir patrocínios suficientes para continuar a competir.
Quais foram os resultados que consideras mais expressivos e motivantes?
Os dois 9ºs que eu fiz no ano passado, na África do Sul e Inglaterra e o 5º que fiz este ano no Senegal. Foi das provas que me motivou mais pois fiquei a achar mesmo que tinha surf para continuar e até podia ter ficado em 3º lugar, empatei o score nos quartos de final, deu-me imensa pica para continuar.
O que é preciso para correr o QS a tempo inteiro?
Primeiro de tudo é preciso reunir condições financeiras ou fazer sempre resultados que te permitam pagar as provas. É preciso também ser forte psicologicamente e saber lidar bem com as derrotas. São muito mais derrotas que vitórias e se escolhes esta vida não podes desistir.
Porque achas que tão poucos portugueses correm o circuito?
Eu acho são muitos os que correm o QS, mas não a tempo inteiro por várias razões. Acho também que há falta de apoios, são poucos os que conseguem reunir dinheiro suficiente para fazer tudo e é por isso que se vê tão poucos no top200.
Por onde já passaste este ano?
Este ano já estive em Israel, Canárias, Austrália, Senegal, Japão, agora África do Sul um mês e ainda estou a planear depois das provas da Europa ir às Ilhas Martinique e depois Havai.
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Qual é a parte mais “dura” de correr o circuito QS?
Acho que o pior mesmo são os momentos que passas sozinho. Este ano para a Austrália, por exemplo, fui sozinho e voltei sozinho, foram 38 horas para lá e 42 para cá. E também quando perdes e estás longe falta um bocado a família e os amigos para apoiar. Muitos vezes viajas com “amigos” não tão chegados, isso é mesmo o mais difícil.
E a melhor parte?
Conhecer sítios novos, surfar ondas diferentes e claro, tirar bons resultados.
Das tuas viagens recentes, qual foi a que mais gostaste?
Senegal. Além de ter sido o meu melhor resultado até agora achei o sítio “brutal”. Altas ondas, calor, pessoas simpáticas e comida boa. Achei incrível e hei de voltar.
Como é o teu dia quando estás por Portugal?
Quando estou cá treino com o Rodrigo Sousa, da Outside Surf Project, de manhã e depois passo o resto do dia à procura das melhores ondas. Vou muito à Ericeira, Guincho, Costa da Caparica. E duas ou três vezes por semana faço ginásio ao final da tarde.
A Liga MEO Surf também faz parte dos teus planos?
Este ano infelizmente não consegui ir às duas primeiras etapas por estar a correr os QS’s e na que fui não me dei bem mas acho que é algo que vou tentar continuar a correr porque tem um óptimo nível de surf e é uma boa fonte de rendimento para conseguir correr mais provas do circuito mundial.
O que achas que é exigido hoje em dia pelos patrocinadores aos surfistas? É algo que tem mudado muito nos últimos anos…
Eu acho que hoje em dia é preciso fazer-se mais do que antigamente. Antes toda a gente tinha patrocínios e hoje se disser que há 4 ou 5 surfistas profissionais em Portugal, se calhar já estou a exagerar. Agora é preciso estar entre os melhores e se não for pelos resultados tens de trabalhar por outras vias. Fazer vídeos “animais”, ter uma boa imagem… está a perder-se um bocado a coisa dos resultados, para entrar mais na imagem e na influência que tens nos miúdos que fazem surf. Eu tento manter-me sempre activo mesmo nas redes sociais, mas considero-me um surfista de competição e o mais importante é fazer os resultados.
Para terminar, recentemente mudaste de patrocínios, fala um pouco sobre essa mudança…
Este ano mudei completamente os meus patrocínios. Mantive a Transact, que já está comigo há vários anos mas, depois de muitos anos com pranchas do Luís da Lacrau, que gostava muito, decidimos seguir caminhos diferentes e agora estou com a Jobsite, que é uma empresa que tem vários shapers. Assinei também com uma marca de repelentes para mosquitos, a Moskout, estou prestes a assinar com uma marca que ainda não posso revelar e estou com os fatos Wildsuits. Estou muito contente com os fatos, quando vesti um 4/3 pela primeira vez fiquei muito surpreendido. Achei que era muito quente, confortável e maleável. Fechei também com a loja DR Ding, que me tem estado a ajudar muito, não só com material técnico mas também na parte na parte da gestão de marcas e patrocínios. Estou muito contente com estas novas parcerias, espero que continuem por muitos anos.
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