Quando em 2014 lançamos o artigo “10 sinais que nos anos 90 já eras surfista” não tínhamos noção que seria um dos mais falados de sempre no nosso site, provando que uma grande fatia dos nossos leitores já andavam nos 30/40 anos apesar da ONFIRE sempre ter comunicado com um publico muito jovem. 10 anos depois sai o “remake” do mesmo artigo, quem se identifica?
1 – Não chamavas pad nem deck ao “grip” que tens para o pé de trás na tua prancha, chamavas “AstroDeck“!
Da mesma forma que chamavas (ou chamas) jipe a um SUV, ou taparuere, ou moreyboogie, é natural que a primeira marca a produzir um produto em massa ou que seja o primeiro player no nosso mercado tenha dado nome ao produto, seja por uma versão aportuguesada ou não. AstroDeck foi a marca que Herbie Fletcher criou para ajudar na tracção sem wax, sendo a primeira a fazê-lo com sucesso, criando assim uma nova categoria no mercado. Por ter sido a primeira marca de grips em Portugal, uma geração inteira chamou o produto de “AstroDeck”, e alguns ainda chamam.
Curiosidade:
A “AstroDeck” que existia em Portugal no início dos anos 90 era uma importação da versão “pirata” brasileira da marca original, um produto cujos padrões de qualidade estavam muito abaixo da marca norte-americana. A indústria de surf brasileira da época tinha várias imitações de grandes marcas, como a Billabong e a Town & Country, que existiam em paralelo, patrocinavam eventos e surfistas, sem ligações à casa mãe.
2 – Não aprendeste a surfar numa escola de surf, nem numa softboard!
No início dos anos 90 se havia três escolas de surf a funcionar de norte a sul do país, era muito e provavelmente só operavam no verão. Só no início da década de 00 é que as escolas começaram a aparecer com regularidade e estrutura e com elas, mais tarde, as softboards. A iniciação no surf podia acontecer em pranchas de esferovite, ou pranchas de fibra velhas, ou, com um bocado de sorte, num longboard clássico de fibra. O melhor cenário que poderias ter era, caso tivesses irmãs, que um candidato qualquer tentasse ganhar pontos a empurrar-te numa prancha de surf. A dificuldade que era começar a fazer surf na altura desviou muitos praticantes para o “MooreyBoogie”…
3 – Metade dos teus amigos faziam “MooreyBoogie”.
Não sabemos qual a proporção de surfistas para bodyboarders na altura, mas poderia ser algo como 60/40 ou mesmo 50/50. Em qualquer grupo de praia poderia haver tantos surfistas como “boogies” e o desporto crescia ao lado do surf, em número e em expressão, com direito a patrocínios, eventos e meios de comunicação ao mesmo nível. Alguns escolheram o bodyboard porque parecia mais fácil e seguro, ou porque era mais barato que uma prancha de surf, porque os teus amigos também faziam ou simplesmente porque te identificavas mais com essa forma de deslizar nas ondas. 99% dos praticantes dessa época passaram para o surf ou parcialmente ou a tempo inteiro e apesar de ainda haver alguns polos de bodyboard por Portugal e pelo mundo, é uma sombra do desporto que uma vez foi (em termos de números).
4 – Não tinhas amigas surfistas!
Quantas surfistas havia de ponta a ponta do país durante os anos 90? Inicialmente, muito poucas. Durante anos era raro haver meias finais femininas no circuito nacional e o primeiro circuito de Surf Esperanças (aka Lightning Bolt) teve apenas duas competidoras nas primeiras etapas. Aos poucos o número foi aumentando com iniciativas como o 1º Encontro de Surf Feminino, realizado em 1999 por Joana Rocha e Maria João Frade, e muitos outros eventos desde aí. Hoje em dia não é invulgar partilhar o line up com mais surfistas femininas que masculinos, e que surfem melhor que tu.
Curiosidade:
Já amigas bodyboarders era mais vulgar. Pelas razões que “dissecámos” acima, era mais vulgar as meninas apostarem no “body”. O bodyboard feminino durante muito anos foi mais forte que surf tanto em termos de praticantes como em resultados competitivos, e é algo que ainda hoje não desapareceu totalmente.
5 – Prendias o teu leash, que chamavas de “shop”, à volta das tuas quilhas.
Saias da água e a primeira coisa que fazias era dar duas voltas ao teu leash na zona das quilhas (fixas), prendendo depois numa das quilhas. Provavelmente não dava saúda ao teu leash, quilhas ou mesmo rail, mas era assim que se fazia. Nada de tirar o leash e guardar na mochila, ou meter na caixa dos fatos no carro. Ao menos assim garantias que nunca te esquecias do leash ou que não te roubavam a cordinha. Segundo Jack Robinson, os paparucos ainda o fazem…
6 – A palavra Mentawai não fazia parte do teu vocabulário.
Indonésia? Não podias! Mentawai? Nem sabias o que era. Hoje em dia é sinónimo de ondas de sonho, sendo talvez o arquipélago mais rico do mundo em termos de ondas. Alguns, aussies principalmente, já andavam por lá desde os anos 80, mas manteve-se o segredo afastado do publico em geral até à década de 00.
7 – Assististe ao Kelly Slater no seu verdadeiro auge.
A uma semana de fazer 50 anos, Kelly Slater venceu uma etapa do Championship Tour, o que significa que muitas gerações acompanharam o percurso do “melhor de todos os tempos”. Slater também conquistou títulos na década de 00, e mesmo o seu último em 2011, mas o seu verdadeiro auge foi na década de 90. O seu surf foi algo nunca visto e diferença para o resto do tour era visível, de tal forma que conquistou um título com 20 anos, mantendo-se até hoje como o mais jovem campeão mundial de sempre (e também o mais idoso), e foi o único a conquistar 5 consecutivos. O Kelly Slater com cabelo era um fenómeno como nunca se tinha visto antes, e nunca mais se voltou a ver. Quem acompanhou, sabe!
8 – Ver um campeonato de surf era ao vivo, na praia.
Transmissão em directo? Não havia! Resultados? Ou assistias na praia ou vias mais tarde nas revistas ou num programa de televisão. O difícil acesso ao surf do mais alto nível, tanto a nível nacional como mundial, faziam com que o publico desse mais valor às poucas oportunidades que tinha. Era algo especial assistir a um campeonato de surf nos anos 90, principalmente quando se procurava acesso aos melhores do mundo. A título de referência, a primeira vez que Kelly Slater meteu os pés em Portugal foi em 1996, e dessa vez mas não ficou por cá muito mais do que 48 horas.
9 – A tua prancha de surf era de uma marca nacional.
Pólen, Semente, Energia Tropical, Atlântico, New Power, Blue Point e Quebra Côco eram os players que havia no mercado e as primeiras duas eram, e ainda são hoje, o “state of the art”. Pranchas estrangeiras vinham pontualmente do Brasil, quando algum familiar trazia, ou numa “feirinha” que os surfistas profissionais faziam quando passavam nas provas QS em Portugal, despachando as suas pranchas velhas e já sem vida para receber novas nos seus próximos destinos. Os nosso vizinhos bascos, da Pukas, já recebiam shapers internacionais, e mesmo a Polen o fez pontualmente, mas o acesso era muito limitado e muito caro. Aos poucos as marcas internacionais foram ganhando espaço nos line ups portugueses e hoje em dia são elas que dominam o mercado.
10 – Usaste ténis Redley antes de usares Vans!
Este não é limitado aos surfistas, mas este grupo esteve ligado ao sucesso da marca. A marca norte-americana Vans popularizou um modelo de sapatos que a Redley imitou e com o qual teve muito sucesso no Brasil e em Portugal. A Redley era a marca obrigatória na adolescência nos anos 90, tendo exprimido o seu sucesso inicial no nosso país por muitos anos, desenvolvendo também uma forte linha de roupa e apostando muito surf, com uma equipa muito forte, que usava Redley dos pés à cabeça e ainda tinha fatos desenvolvidos só para os patrocinados. Eventualmente a Vans estabeleceu-se e tornou-se no gigante do calçado que é ainda hoje, enquanto que a marca brasileira foi-se mantendo mas num registo mais pequeno.
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