Se viveste estas situações, já eras surfista nos anos 90…

1 – Surfar na Indonésia era um sonho impossível. Devido ao boicote português a esse país, como consequência da invasão da ex-colónia de Timor Leste, as fronteiras da Indonésia estavam fechadas aos portugueses.

Excepto se:

Tivesses dupla nacionalidade mas mesmo assim era um grande risco já que os portugueses não eram bem vindos. Houve quem se tivesse aventurado, mas provavelmente contam-se pelos dedos de uma mão quem arriscou.

1-No-Indo-Time

2 – Para saber quem tinha sido campeão mundial, ou mesmo qualquer outro tipo de resultado da ASP, tinhas que esperar que uma das revistas bimestrais saíssem. Redes sociais e webcast? A internet ainda estava a dar os primeiros passos no nosso país e durante vários anos a só conseguias ver resultados, fotografias e mais para meio/fim da década, live scores!

Excepto se:

Visses na televisão. A partir de 1992 apareceu a SIC e o Portugal Radical, Na Maior na TVI (durou poucas semanas) e o sem Limites no Canal 1. Antes disso informação de surf na televisão só se tivesses antena parabólica e estivesses muito atento ao canal EuroSport.

2-PR

3 – Não tinhas dúvidas quem era o melhor surfista português da altura, o seu nome era João Alexandre “Dapin”!

Excepto se:

Fosses da costa da Caparica, a única zona fora da Linha do Estoril que também já tinha grandes surfistas. Sendo daí provavelmente o teu favorito era Bruno Charneca “Bubas” ou João Antunes.

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4 – Para saberes como estava o mar tinhas de fazer uma de três coisas, ir à praia, ligar para o DiskSurf (predecessor do BeachCam.pt) ou ligar a um amigo que morava perto da praia, para o seu telefone fixo já que ainda não havia telemóveis.

Excepto se:

Nada!

4-telefone

5 – Sabias que o melhor fato do mundo era o O’Neill Animal. Custava 100 contos. Em euros seria algo como 500 € ou, fazendo as contas à inflação até aos dias de hoje seria 873.83 €! Apenas algumas lojas o tinham em stock e menos de 10 foram à água em Portugal, incluindo os 2 ou 3 patrocinados da marca receberam o fato. Caso tenhas sido um desses 6 ou 7 que compraram o fato provavelmente foste gozado e invejado por todos!

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6 – Tinhas de pagar para ter um filme de surf, e este vinha em formato VHS. E ao fim de algumas utilizações a fita começava a acusar o uso e a qualidade ia piorando.

Excepto se:

Tivesses um amigo com dois vídeos, yep, já havia “piratas” na altura.

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7 – Se quisesses mudar de quilhas tinhas de… mudar de prancha! Marcas como a FCS só começaram a ganhar mercado no fim dos 90, inícios de 00.

Excepto se:

Pedisses ao teu shaper para as lixar ou mesmo tirar e voltar a fibrá-las, mas ninguém o fazia.

7-quilhas-fixas

8 – Tinhas um nose guard no bico da tua prancha. Algures nessa década esta protecção caiu em desuso, porque deixou de “ser cool”.

Excepto se:

Tiveres levado com uma prancha na cabeça, aí é provável que tenhas voltado a usar um nose guard na tua prancha, ou um capacete na cabeça.8-nose-guard

9 – O teu primeiro fato foi um Gul Classic. Também havia as opções portuguesas OTW e Waterline, ou Reef da África do Sul. Além disso tinhas a Victory, Aleeda, Wavelength e claro, O’Neill e Rip Curl, que na altura já eram sinónimo de qualidade. A Billabong e Quiksilver só começaram a dar os primeiros passos nesse mercado a meio da década. Mas o Gul era o mais barato de todos e mais visto na água.

Excepto se:

Comprasses um fato da marca australiana Peak que tinha desaparecido da varanda de algum profissional de visita ao nosso país. Infelizmente a procura era grande…

9-gul-classic

10 – Surfar durante a semana pela manhã, em quase qualquer pico do país, significava surfar sem crowd. Surfar no dia de Natal era quase garantidamente uma “solo session”.

Excepto se:

Combinasses com os teus amigos todos!

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Foste surfista nos anos 90 e tiveste outras experiências? Partilha connosco!!!

Comentários

22 comentários a “10 sinais de que no início dos anos 90 (já) eras surfista…”

  1. Excelente… 😀 Faltou mencionar o Zinka…

  2. Fernando Gil diz:

    Ir surfar á Arrifana e não ver ninguém.

  3. Paulo Perloiro diz:

    Se fabricaste a tua própria prancha por cópia de uma comprada a uns bifes, se fizeste o teu próprio wax com parafina e aftershave, se achas que inventaste o shop com borracha da farmácia e corda da roupa, se transformaste um fato de mergulho em fato de surf cortando-lhe a “fralda” e a “cabeça”, se foste surfar de bicicleta, de mota, de camioneta, de comboio, antes de poderes ir de carro, se destruis-te a máquina de costura da tua mãe na ilusão que ias dar inicio a uma fulgurante industria de surfware e sobretudo se só aprendeste a fazer bico de pato depois de já saberes surfar, então és um surfista dos anos setenta. Paulo Perloiro

  4. Nelson Antunes diz:

    É sempre bom recordar esta década , pois eu estive por dentro dela e é com alguma pena ver que certos valores desapareceram desde então . Durante quase 7 anos trabalhei na 100% surf! uma surfshop de culto na Costa de Caparica onde a concorrência saudável se fazia sentir através da tenda Samadi .
    Lembro-me das velhas rivalidades entre o pessoal da costa , com o pessoal da linha , Peniche, praia grande, ericeira , Viana do castelo , etc. Onde se davam alcunhas aos surfistas de cada zona. Lembro -me muitas vezes de o motorista da camioneta não nos deixar entrar por causa das pranchas, de os autocarros para Costa saírem do areeiro ou da praça de Espanha. Lembro-me que poucas eram as revistas que haviam e que chegavam todas muitas vezes com 6 meses de atraso fluir,trip.
    Lembro-me do 1 circuito de surf patrocinado pela pisang ambon , onde ainda hoje guardo 1 flyer da festa desse mesmo circuito feita no pecado mora ao lado!
    Na altura partíamos a aventura em carros como o Fiat 127, renault 5 ou um citroen visa onde os extras dos carros era os autocolantes que enchiam a parte do carro. Onde o beachcam da altura era o boletim meteorológico e quando trabalhei na 100% lembro de o telefone não parar chegado muitas vezes a atender mais de 100 chamadas só da parte da manhã … Talvez hoje com 41 anos vejo que está nova geração nunca saberá nem nunca viverá as mesmas experiências que nós pois tem tudo muitas vezes de mão beijada ( havendo raras excepções ). Poderia continuar a escrever muita coisa da década de 90… Foi bom recordar , parabéns pela matéria !

  5. Marco diz:

    Moorey MACH 5
    Leça da Palmeira =”secret spot”

  6. JPB diz:

    A propósito dos filmes, falta um que era de culto: North Shore!

  7. Pedro morais is diz:

    Epa incrível… Revivi agora momentos incríveis… E não é que o meio primeiro fato era igualzinho ao da foto… Brutal… E na altura tinha um shop da balin, também já não se vê muito… Ainda cheguei a ter uma prancha com deck completo da gorilla… Acho que comprava quase tudo na loja da Costa 100% surf… Boas ondas pessoal

  8. Ricardo M diz:

    Mike stewart Turbo III, waterline, redley fins.
    Filmes (todos sem qualidade), Offspring, Greenday, cabelo com wax, Eppo, Reeves… etc etc

  9. RM diz:

    Boa matéria. mas… Quanto ao Animal, alguém me emprestou um dos primeiros mas era quente demais (sim, e caro demais). E que tal os Subaqua, e os 2nd Skin, os primeiros fatos a sério (ok, mas isso foi nos idos anos 80). Falta as thermotebe, percussoras das licras. E as pontes para os chops antes dos copinhos e FCS e afins? Alguém se lembra das proporções de acelarador e catalizador para que a fibra não demorasse uma eternidade a secar?. O João Alexandre continua a ser o melhor surfista da década, sem dúvida. O Tomi era vivo e podia tê-lo sido também. Filmes VHS? E os 8mm projetados na parede de casa dos poucos sortudos que tinham cameras de filmar! OK, Anos 90. Mais que os nose guard, os Gorilla Gripp, decks do tail ao nose, e o Sex Wax? Antes do DiskSurf dos Gémeos Barreto ligavamos para o Faísca na Praia Grande, onde estava sempre épico. E apanhar o autocarro no Campo Pequeno para Peniche ou Ericeira, pois não havia ligações da linha. As idas de Yamaha DT para o Guincho, à boleia, sem saber se havia ondas. As noites no Deck, seguidas de diretas para matinais na Poça (onde quando está mau está bom) e Azarujinha, porque o primeiro comboio já tinha passado. Para alguns uma surf trip siginificava fugir ao picas nos combóios. Havia quem cheirasse pão com marmelada e queijo flamengo a 5 metros de distância debaixo de de um fato molhado dentro da mochila. E uma chapada de vez em quando para pôr ordem no crowd de 5 ou 6 abutres era considerada como uma iniciação e não como um caso de polícia. Anos 90, we will talk soon

  10. Duarte diz:

    Falta um pormenor. Proteção para o nariz era Zink. Cor de rosa ou amarelo fluorscente de preferência!
    E eu tinha uma Astrodeck no pé da frente da minha “tábua”!

  11. Rodrigo Amaral diz:

    Há que não esquecer os kms de tape que usávamos para tapar buracos porque ninguém remendava (e era muito caro), as idas a peniche de mota 50cc com um pendura que levava uma prancha a tiracolo de cada lado penduradas pelos leash, os ditos leash que eram de tubo de borracha oco com uma corda por dentro, … 🙂

  12. Berna diz:

    Incrivel! 🙂 já sorri imenso ao ler estas linhas… quase tudo confere! Uma viajem de Lisboa ao Amado era o equivalente a uma incursão pelo Continente Australiano 🙂 Bons tempos!