Kelly Slater é claramente o melhor surfista de todos os tempos, sendo inclusivamente o “dono” de muitos recordes na World Surf League. No entanto, por alguma razão, o seu historial competitivo no nosso país não reflecte o domínio no resto do tour. Para ter uma perspectiva mais realista do seus resultados a ONFIRE analisou cada uma das suas participações em prova realizadas em Portugal…
Outubro de 1996 – Coca Cola Figueira Pro – 33º lugar
A esta altura Kelly Slater já tinha conquistado 4 títulos mundiais mas Portugal nunca tinha recebido uma etapa do CT o que fez com que o surfista da Flórida nunca tivesse passado pelo nosso país. Até que se realizou o Coca Cola Figueira Pro e Slater veio, mas tarde. Aparentemente Kelly esperou até ao último momento para viajar e depois perdeu o seu passaporte. A prova começou sem ele mas também o seu único adversário na disputa pelo título mundial desse ano, Shane Beschen, não apareceu. A ASP deixou o heat de repescagem com o português Bruno Charneca para o fim, dando a Slater tempo para chegar, uma bateria que se realizou no fim do segundo dia. Kelly Slater simplesmente não conseguiu fazer o seu melhor surf, sendo eliminado por um inspirado “Bubas” mas saiu da água com mais um título mundial. No dia seguinte Kelly ainda fez uma sessão de free surf no Cabedelo e pouco depois voltou para casa.
Setembro de 1997 – Buondi Sintra Pro – 17º lugar
Esta prova, que foi a única etapa do Championship Tour realizada em Sintra, teve um arranque difícil. A ondulação era fraca e os fundos não ajudavam na Praia Grande, que por norma tem ondas o ano todo. O primeiro round ainda foi realizado na PG e Slater venceu com facilidade, deixando Mick Campbell em segundo e Ruben Gonzalez em terceiro. Entretanto a prova foi avançando a conta gotas, realizando apenas algumas baterias no pico da maré vazia. Até que um dos membros do (na altura) top44, Chris Gallagher, abordou/pressionou Renato Hickel para mudar a prova para outro pico onde dava para surfar todas as marés, a Aguda. No dia seguinte a prova passou para esse “ex-secret sport” mas Ruben Gonzalez, wildcard da prova juntamente com David Luís, Brad Gerlach e Didier Piter, não teve adversário no round 2 já que Shane Beschen, o número 2 do tour na época, pelo segundo ano consecutivo não apareceu para competir em Portugal. Isso significou que Ruben passou directamente para a fase seguinte, onde iria enfrentar o seed número 1, Kelly Slater. O dia da bateria começou com o boato de que Slater tinha andado bem soltinho pela noite lisboeta, algo pouco característico. De tal modo que chegou a hora do heat e Ruben remou para o line up sozinho e só minutos depois da bateria começa é que campeão mundial apareceu. Na altura ainda só com 4 títulos, Kelly desceu a correr as dezenas de escadas do acesso a essa praia e não parou pelo beach marshall, competindo sem fato e sem lycra. Gonzalez, que na altura tinha apenas 19 anos, não tinha feito qualquer onda de consequência mas assim que viu o melhor surfista do mundo a chegar ao pico começou a surfar ao seu melhor nível, com um backside tão afiado que, apesar de Slater também ter feito boas ondas, foi o suficiente para vencer a bateria. Ruben acabaria por ser eliminado pelo eventual vencedor da prova Mick Campbell e a disputa pelo título era adiada para a prova seguinte, na Figueira da Foz. No entanto, o 9º lugar que conquistou nesta etapa manteve-se como melhor resultado de um surfista português no CT até Agosto de 2008.
Setembro/Outubro de 1997 – Figueira Pro – 17º lugar
Dias depois de terminar o Sintra Pro, o circuito seguiu para a Figueira da Foz neste que seria o único ano em que Portugal recebia duas provas do Championship Tour masculino. Slater competiu contra José Gregório e Peterson Rosa no round 1 e foi o brasileiro que surpreendentemente levou a melhor, vencendo a bateria e passando directamente para o round 3. Kelly e Gregório, que na altura faziam parte da mesma equipa, encontraram-se novamente no round 2 e desta vez o americano fez questão de não repetir erros do passado e não ser eliminado por mais um português. Gregório não se intimidou com a maior estrela do nosso desporto mas Slater estava na sua melhor forma e venceu com larga vantagem, eliminando pela primeira vez um surfista português. Na fase seguinte era surpreendo por um Danny Wills em grande ascensão mas a prova não acabava sem conquistar o seu quinto título mundial, algo que aconteceu quando Occy foi eliminado nos quartos de final.
Outubro de 2009 – Rip Curl Pro Search – 17º lugar
Passaram-se 12 anos desde a última passagem por Portugal de Kelly Slater. Já com 9 títulos mundiais, Kelly regressou quando se realizou o Rip Curl Pro Search em Peniche. Esta etapa começou no Molhe Leste, passou pelo Lagide e realizou-se em grande parte no Pico da Mota, antes de voltar para Supertubos onde se realizaram os últimos dois dias de prova. O round 1 foi de “morte súbita” para os menos bem rankeadas, o que fez com que Kelly apenas tenha competido no round 2 contra um red hot wildcard chamado Owen Wright, que venceu a bateria por muito pouco.
Outubro de 2010 – Rip Curl Pro Portugal – 1º lugar
Slater estava na disputa pelo seu 10º título mundial quando foi derrotado por Tom Whitaker no round 1, algo que não surpreendeu ninguém tendo em conta o seu historial no nosso país. No entanto a partir do round 2 o líder do ranking esteve imparável, vencendo todas as baterias até à final, onde derrotou Jordy Smith nos Supertubos. Semanas mais tarde vencia mais um título mundial no Rip Curl Pro Search de Porto Rico.
Outubro de 2011 – Rip Curl Pro Portugal – 2º lugar
Depois da vitória no ano anterior, Kelly parecia ter claramente deixado a maldição para trás vencendo todas as baterias com destaque até à final no que acabaria o melhor ano da história do evento. Adriano de Souza surpreendeu tudo e todos ao vencer a final, mas Slater na etapa seguinte conquistou o seu 11º e último título mundial.
Outubro de 2012 – Rip Curl Pro Portugal – 13º lugar
Depois de vencer o round 1 em Supertubos, contra Dillon Perillo e Damien Hobgood, Slater voltou a competir em condições marginais nos Supertubos, sendo eliminado por Raoni Monteiro numa bateria em que nenhum dos dois chegou aos 10 pontos de média. Mais tarde o veterano do tour comentou que se tivesse chegado mais cedo à praia teria abordado a WSL para não avançar com o evento nesse dia.
Outubro de 2013 – Rip Curl Pro Portugal – 25º lugar
Em 2013 Slater “conquistou” o seu pior resultado do ano ao seu derrotado pelo wildcard Jacob Willcox no round 1 e pelo (também wildcard) português Frederico Morais, no round 2 da prova. Os dois competiram em ondas de meio metro nos Supertubos e Morais foi claramente superior, acertando inclusivamente um bom aéreo reverse para acabar na frente, algo que muitos consideram ter-lhe custou o título mundial.
Outubro de 2014 – MOCHE Rip Curl Pro Portugal – 13º lugar
Depois de ter batido Matt Wilkinson e Nicolau Von Rupp no round 1, Slater foi superado por Aritz Aranburu no round 3, terminando mais uma vez em 13º lugar.
Outubro de 2015 – MOCHE Rip Curl Pro Portugal – 13º lugar
Pelo segundo ano consecutivo, KS venceu no round 1 e perdeu no round 3. Desta vez o seu carrasco foi Brett Simpson, que conseguiu aproveitar melhor as condições pouco tubulares dos Supertubos.
Outubro de 2016 – MEO Rip Curl Pro Portugal – 13º lugar
E como não há duas sem três, Kelly Slater voltou a vencer no round 1 e perder no round 3. Em 2016 foi Miguel Pupo que o eliminou em esquerdas divertidas no Point Fabril.
Outubro de 2019 – MEO Rip Curl Pro Portugal – 9º lugar
Depois de dois anos de ausência por se ter lesionado, Kelly voltou para melhorar ligeiramente o seu recorde. Depois de ter passado o round 1 em segundo lugar e de ter eliminado Sebastian Zietz no terceiro, foi surpreendido por um dos surfistas em maior ascensão da actualidade, Kanoa Igarashi, terminando pelo primeira vez em 9º lugar.
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