As ondas portuguesas mais uma vez estiveram em grande destaque no prestigioso evento da WSL, o Big Wave Awards. Às fases finais deste concurso chegaram diversas participações da Nazaré e uma delas, uma onda surfada por Francisco Porcella, levou o prémio TAG Heuer XXL Biggest Wave. A imagem foi captada pelo português Bruno Aleixo e a ONFIRE falou um pouco com ele, para saber mais sobre a imagem vencedora e o fotógrafo que a “imortalizou”.

O teu nome como fotógrafo de surf é bastante recente, podes fazer um breve historial do teu percurso?
Sim, eu não fotografo há muitos anos. Fiz bodyboard durante muito tempo e por diversas razões comecei a surfar menos, inclusive fui morar para um sítio não “muito perto” do mar. Perto é relativo porque nos dias de hoje tudo é “perto” e facilmente se fazem centenas de kms para ir a uma praia ou pico.
Acho que a fotografia acabou por ser o meu escape para continuar mais ligado ao mar, em função do tempo que tinha e acabou por ser a melhor forma de conciliar o mar com a minha vida. Inicialmente não foi fácil porque, não sendo uma pessoa da “comunidade”, esta acaba por ser bastante fechada e é difícil ganhar a confiança e perceber onde decorrem as melhores sessões e onde estar.
Aos poucos e poucos comecei a explorar a costa nos dias maiores e mais perfeitos e à medida que fotografava e mostrava o meu trabalho comecei a ter mais contacto com alguns surfistas e tudo se tornou mais fácil.
Por questões de tempo sempre me concentrei em fotografar só nos dias chamados “grandes” pois, por melhor ideia ou visão que tenhas, o mar/surfista têm de colaborar se quiseres tirar fotos com impacto e isso acabou por ser o meu foco. Dias fora do comum.

Quantas sessões fizeste na Nazaré no passado Inverno e quantas ondas tinhas submetidas no XXL?
Fiz 7 sessões na Nazaré. Dessas tinha submetido umas 10 ondas diferentes, mais coisa menos coisa. Umas 4 eram para Biggest Wave (2 das que foram à final) e uma do Andrew Cotton tirada da areia que eu acho que era monstruosa mas que não chegou à final. Depois tinha mais algumas para paddle que chegaram à final, a do Lucas “Chumbo” e a do Jamie (Mitchell).

Podes falar um pouco sobre o dia da foto vencedora?
Havia muita expectativa para esse dia devido à previsão do swell, embora o vento fosse meio estranho. Nestes dias eu tento estar na praia de madrugada antes de alguém estar na água para poder perceber melhor como está o swell a entrar, onde estão os picos e as ondas a rebentar, para depois tentar posicionar-me consoante o que tenho em mente. Nos dias gigantes como este é sempre difícil escolher o sítio por diversos factores como o numero de fotógrafos na praia ou a visibilidade reduzida, que é usual por causa do spray.
Acaba por ser um bocado um jogo de sorte na posição que escolhes para ficar a fotografar, de haver uma onda que parta no sítio certo e que alguém a surfe. Nesse dia vi muitas ondas excelentes e, na minha opinião, maiores que a do Porcella mas que partiram sozinhas. Não é fácil apanhar ondas nestes dias e eu estive do nascer do sol ao pôr do sol na mesma posição e foram meia dúzia o número de ondas surfadas.

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A imagem vencedora!

Quando tiraste a foto, achaste que era uma das melhores logo aí ou só após melhor análise?
Existem fotos que quando tiro me ficam na memória e esta, honestamente, não foi uma delas. Aliás, desse dia somente uma me estava na mente, não pelo tamanho mas pelo sítio, pois partiu junto ao forte, que foi a do Scooby e que dá uma foto mais envolvente e que chama mais a atenção. Nesse dia para além de não estar no sítio que gosto tipicamente de estar a fotografar a Nazaré, muitas ondas que eram surfadas não partiam num sítio com grande enquadramento pelo que me foquei em conseguir o máximo de envolvência do surfista e maximizar a onda no enquadramento para aumentar aquele factor de impacto.

Quando soubeste que tinhas ganho, viste em directo ou mais tarde?
Soube mais tarde, eu estava na Meia Praia, em Lagos, quando soube. No Domingo quando acordei fui ver que ondas tinham ganham e vi no instagram da WSL a onda do Porcella. Fiquei naquela expectativa, mas como não tinha nenhum email a mencionar o ter ganho, nem referências, fiquei com a ideia de ou “todos os fotógrafos” tinham ganho ou então teria sido outro. Só mais ao fim do dia quando voltei a aceder à internet é que vi a noticia oficial a divulgar os vencedores e quando estava a fazer scroll no telemóvel é que vi o meu nome. E aí, sim, fiquei naquela de que ok, se calhar até fui eu que ganhei 🙂

O que significa para ti ter sido um dos primeiros portugueses a vencer um prémio do XXL Awards?
Não acho que ter sido um dos poucos fotógrafos portugueses a vencer um prémio do XXL Awards faça de mim alguém especial, ou outra coisa qualquer. Acho sim que é bom ser um português a vencer e é uma optima fonte de motivação e teria ainda sido melhor se fosse o (Hugo) Vau a ganhar também. Isso era ouro sobre azul.

O que achas que este prémio vai fazer pela tua carreira como fotografo? 
Muito honestamente julgo que muito pouco. É bom no momento e pode trazer alguma visibilidade mas a médio/longo prazo acho que o impacto é reduzido.

Fala da tua relação com os surfistas que fotografas, há algum contacto da parte deles por já seres um “habitue” entre os fotógrafos que vão à Nazaré, ou nem por isso?
Mais ou menos, existem alguns surfistas com quem tenho um contacto maior, como o Andrew Cotton, que foi alguém que desde o início me ajudou bastante mesmo sem me conhecer. Eu moro longe da Nazaré pelo que a decisão de ir fotografar um dia à Nazaré acaba por ser à base de um conjunto de factores e a sorte é um deles. Procuro minimizar a “sorte” ao máximo e ao início o Cotton ajudou-me bastante a indicar-me e a dar-me dicas se ia surfar ou não, ou sobre as condições do mar. Existem claro outros surfistas que não conhecendo pessoalmente falo por email após as sessões ou porque me perguntam se tenho fotos deles ou indirectamente através de algum jornal ou revista que me contacte a pedir fotos de A ou B.

Como vês a viabilidade de ser fotógrafo de surf em Portugal neste momento?
Sinceramente não vejo viabilidade nenhuma. Eu acho que ser fotógrafo é complicado, de surf ainda pior e num país pequeno em termos de mar ainda menos. Numa actividade como o surf, para se ter uma carreira como fotógrafo é preciso fazer o mesmo que um surfista que quer ter uma carreira de surf e isso passa por se dar a conhecer ao mundo, explorar o mundo, utilizar as redes sociais em sua benesse e procurar um estilo que o diferencie de outros fotógrafos. Cada vez mais existem fotógrafos impressionantes em sítios fantásticos a mostrar imagens que nos deixam parvos e a exporem-se em situações hardcore para capturar aquela foto, pelo que não é opção para alguém que queira ser fotógrafo de surf estar limitado ao seu canto ou país e esperar que tudo corra bem.

Para terminar, na tua opinião, quem é surfista que mais se destaca nas surfadas de ondas grandes na Nazaré?
Eu continuo a achar que é o Garrett (McNamara) porque quando está na água procura uma linha deep, atrás do pico, onde raramente vês outros. Os únicos que se tem aproximado disso é o Sebastian ou o Cotton, que me parece querer seguir as “pegadas” do McNamara…

Comentários

2 comentários a “Bruno Aleixo fala sobre vencer no XXL Awards | Mini-Entrevista”

  1. Sara Guerra diz:

    Que foto! Muitos parabéns Bruno! Tudo perfeito: a onda magnífica, o Francisco e tu no momento certo á hora certa! Foto magnífica! ??????

  2. Sóce Mitra Glue diz:

    Granda Bruno! A representar a margem SUL sóce!