Como seria a história do surf profissional sem Kelly Slater? É difícil imaginar o nosso desporto sem o GOAT, mas poderia ter acontecido. Fica a conhecer a história de 5 surfistas que fizeram campanhas incríveis que foram apenas paradas pelo 11x campeão mundial.

Shane Powell – 1994
A grande resposta australiana a Kelly Slater era Brett Herring e, apesar de ter mostrado o seu potencial em 1992, “queimou” cedo, como muitos outros promissores aussies, e em 1994 já estava de saída no Championship Tour. Surgiu então Shane Powell, que acabou o ano com duas vitórias, três 3ºs lugares, três 5ºs e um 9º, terminando apenas 400 pontos atrás de Kelly e mais de 600 à frente do terceiro classificado no ranking, Sunny Garcia.
A realidade conta uma história menos “apertada” que a estatística, já que Slater conquistou o título na penúltima etapa, Pipeline, e, desinteressado, perdeu cedo na última e mais valiosa etapa, em Sydney, na Austrália, enquanto “Powelly” venceu. Mas não deixa de ter sido uma campanha memorável para o australiano, um feito que não voltaria a repetir ao longo da sua carreira.

Rob Machado – 1995
Rob “The Mob” Machado era um dos poucos surfistas no tour que parecia ser superior a Slater em algumas condições, principalmente em beach breaks. Em 1995, os “bros” já não estavam tão inseparáveis, pois Machado, apesar da sua aparência relaxada e pouco preocupada com pontos, queria muito o título mundial. Com um tour cheio de beach breaks e point breaks de esquerda e tendo vencido três etapas, Rob poderia ter conquistado o título, mas falhou noutras, como em G-Land, onde perdeu para Larry Rios (17.º), em Saint-Leu para Matt Hoy (9.º), em Lacanau para Gary Elkerton (9.º) e no Brasil para Ross Williams (9.º), heats em que era sempre o claro favorito.
Entretanto, Sunny Garcia assumiu a liderança na penúltima etapa ao chegar à final e, caso tivesse vencido, Slater ficaria sem hipóteses matemáticas de conquistar o título. No entanto, foi batido por Barton Lynch, naquela que seria a última vitória da sua carreira, e a disputa seguiu para Pipe, com Sunny, Rob e Kelly ainda na luta. Garcia estava bem posicionado, pois tinha um bom historial em Pipe, mas apanhou o regresso de Occy à competição. Apesar de ambos serem patrocinados pela Billabong e do australiano ter deixado o havaiano apanhar as ondas que quisesse, Sunny acabou por perder, adiando o sonho do título por mais cinco anos.
Entretanto, Machado, que não tinha um bom historial nesta prova, mostrou que podia vencer, avançando até às meias-finais, onde competiu contra Slater. Se o californiano vencesse, era imediatamente consagrado campeão, enquanto que Kelly teria de avançar até à final e vencer. A disputa foi renhida, com direito ao mais famoso “high-five” da história do surf profissional, mas foi Slater quem levou a melhor, batendo Mark Occhilupo na final para conquistar o seu terceiro título mundial. Rob Machado ainda disputou o título noutros anos, mas nunca mais chegou tão perto.

Shane Beschen – 1996
Shane já competia contra Kelly Slater desde as categorias juniores e, depois de algumas disputas renhidas, parecia que 1996 seria o seu ano. Slater venceu a primeira etapa da temporada, o Coke Classic, mas Beschen terminou à sua frente em Kirra e Bells. Depois venceu duas etapas consecutivas, o Marui Pro, em Chiba, Japão, e em G-Land, assumindo assim uma liderança sólida.
No entanto, o tour na época tinha 14 etapas, e Slater venceu quatro das cinco seguintes, em Jeffreys Bay, Huntington, Hossegor e Biarritz. A diferença entre os dois tornou-se tão grande e o requisito para Slater conquistar o seu quarto título era tão baixo que Beschen alegou uma lesão e nem compareceu à etapa seguinte, realizada na Figueira da Foz. Com esse cenário, Slater apenas teve de entrar na água e, mesmo perdendo para o português Bruno Charneca, sagrou-se campeão mundial.
Beschen ainda voltou a vencer provas no Championship Tour, mas nunca mais atingiu o mesmo nível de sucesso, retirando-se sem conquistar o título mundial.

Mick Campbell (e Danny Wills) – 1998
Danny Wills teve um arranque fraco no Championship Tour, mas tudo mudou em 1998. O regular australiano começou com um 9.º lugar na Gold Coast, seguiu com um 5.º em Bells Beach e um 3.º em NSW. Depois veio o Japão, onde se realizavam as duas etapas mais valiosas em termos de pontos, e Wills não teve adversários nessa fase do tour, vencendo ambas para garantir uma liderança impressionante, enquanto Slater, que tinha vencido a primeira etapa, caía para o 5.º lugar.
A partir daí, parecia que Danny apenas precisava de manter alguma consistência para conquistar o título. Entretanto, o seu sparring partner, Mick Campbell, começou a subir no ranking, com um 3.º lugar em Bells, um 3.º e um 5.º no Japão, um 2.º em Huntington Beach, um 3.º em Hossegor e, ao chegar à final da penúltima etapa, no Brasil, assumiu a liderança, com uma vantagem de 110 pontos sobre Wills.
Infelizmente para eles, Slater estava apenas 100 pontos atrás e, sendo a derradeira etapa em Pipeline, o cenário complicava-se para os aussies. E quase que pior não podia ter acontecido. Pipe estava grande, e os australianos não estavam tão preparados. Mick perdeu na 2.ª ronda para o wildcard Bruce Irons, e Danny caiu na 3.ª ronda contra Ross Williams.
Mesmo assim, Kelly ainda precisava de chegar às meias-finais, e conseguiu, eliminando Renan Rocha nos oitavos e Rob Machado nos quartos. Acabou por ser eliminado pelo eventual vencedor da prova, Jake Paterson, mas já tinha feito o suficiente para conquistar o título. Depois disso, retirou-se temporariamente com os seus seis títulos mundiais.
Danny Wills ainda voltaria a liderar o circuito mundial, mas por pouco tempo, e Mick nunca mais mostrou o mesmo nível de competitividade.

Jordy Smith – 2010
Jordy Smith faz parte da terceira geração que Kelly Slater enfrentou e, por alguns meses, o sul-africano mostrou potencial para “roubar” um dos eventuais 11 títulos que o superfreak conquistou ao longo da sua carreira.
Ao fim da quarta etapa, em Jeffreys Bay, Jordy tinha conquistado um 1.º, um 2.º e dois 5.ºs, contra um 1.º, um 2.º, um 9.º e um 17.º de KS, o que lhe deu uma liderança de quase 4.000 pontos. Mas foi a última vez nesse ano que Smith terminou à frente de Slater. Apesar de ter conseguido mais uma série de 5.ºs lugares e uma final, Kelly respondeu com um 3.º, um 2.º e três vitórias, terminando o ano 17.000 pontos à frente de Jordy, enquanto este acabou com uma diferença semelhante para o 3.º classificado, Mick Fanning.
De todos os surfistas mencionados nesta lista, Jordy Smith é o único que ainda pode sair dela, já que continua no tour e tem surf de sobra para furar o top 5 e disputar o título no WSL Finals.

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