Podes não acreditar mas não há melhor exemplo no mundo inteiro do que o dos surfistas do Rio Eisbach, Munique, Alemanha, para perceberes o que é ter respeito durante uma surfada! O conceito de apanhar ondas à vez está mais do que provado que não resulta nas praias e mentes dos surfistas do mundo inteiro. E isso é estúpido! A matemática é quase simples: se o surf fosse feito à vez, ao fim do dia todos os surfistas teriam apanhado mais ondas e certamente que o ambiente dentro de água seria exactamente o oposto do que se vive hoje. Óbvio que os surfistas mais “ricos” (leia-se que mais ondas apanham), apanhariam menos mas a restante classe “média” e “baixa” apanharia mais.

O importante mesmo é que, fosse qual fosse a “classe” do surfista, não haveria stress, não haveria “quando fores à minha praia também não vais apanhar nada”, não haveria desrespeito, porrada, gritos e, acredites ou não, frustrações num estilo de vida que existe para ser divertido.

Orgulhamo-nos de ser diferentes mas, verdade seja dita, somos iguais à sociedade que tanto criticamos. Sentes-te inútil por sentir que quase nada podes fazer em relação ao que se passa actualmente, ou seja, a classe média e baixa continua a sofrer fortes medidas de austeridade – o que se traduz como sabes em menos euros no bolso -, enquanto os ricos continuam a, se não ganhar mais, pelo menos não perder nada. E é triste perceber que no surf se passa o mesmo principalmente sabendo que aqui sim, (teoricamente) é fácil mudar estar forma de estar.

E pensa assim, lá por não ser a tua vez não significa que só possas apanhar ondas quando for a tua vez. O conceito é simples, como disse, e obriga mais uma vez a algo importantíssimo e hoje esquecido, comunicação. Vem uma onda, o surfista com prioridade não quer e transmite-o ao segundo da fila que, caso não a queira, o transmite ao terceiro e assim sucessivamente até alguém a querer.

O mais fácil é que é facílimo comprovares isto. Como? Quando fores surfar com os teus amigos experimenta fazê-lo entre vocês. Se tiverem a sorte de surfarem sozinhos, quando chegar alguém, pois chega sempre alguém, automaticamente absorvam-no no sistema (e nem precisam de lhe dizer nada para tal). Inicialmente ficará parvo por lhe estarem “a dar” ondas mas rapidamente compreenderá o conceito e vais ver que a surfada vai ser perfeita para todos.

Claro que poderás apanhar um Neanderthal mas o problema destes homens das cavernas é que infelizmente não são únicos. Se fossem então perceberiam que são uma espécie praticamente extinta e, se não quisessem desaparecer, mudavam. Como são muitos, fazem a força!

Há um sítio no mundo onde, acredites ou não, tudo isto acontece e é, para todos nós, um lição. Esse sítio é, não no mar, mas num rio! Sim, leste bem, num rio e onde há ondas. Provavelmente já o conheces e já viste fotos e filmagens dele aqui no site da ONFIRE.  O que se calhar não sabes é que é nas ondas do Rio Eisbach em Munique onde realmente se pratica o respeito no surf e, paradoxalmente, onde realmente se sento o que é o Surf!

Fábio Inácio, fotógrafo, esteve neste rio e contou-nos o seguinte: “Foi dos sítios que vi os surfistas respeitarem-se mesmo a sério, fazem fila dos dois lados do rio e entram a vez, em dois dias que lá tive a ver não vi nada de errado, todos se respeitam mesmo os que não sabem surfar têm tanto direito como os outros.

Claro que nem tudo é um mar de rosas e até mesmo neste sítio onde impera o respeito os seus “locais” fazem um “aviso” aos outsiders: “Em conversa com um dos locais perguntei como é que era a relação deles com os surfistas estrangeiros que apareçam lá para surfar. Ele respondeu-me que têm de ter cuidado porque é perigoso e que se tiverem lá muitos locais eles não gostam porque demora muito a chegar á vez de cada um, disse que se alguém quiser ir para lá surfar deve escolher uma altura com pouca gente.“, contou-nos o Fábio.

Como é óbvio um rio não produz a quantidade de dias de surf que uma costa inteira de um país como o nosso produz e facilmente se percebe que há um número limite de surfistas que aquele rio consegue suportar por dia e/ou hora. Mas numa costa onde há dezenas de praias com ondas a rebentar diariamente, esse número limite de surfistas ainda está longe de ser atingido. E acredita que se há dias em que isso não parece ser verdade é porque 99% dos que ali estão não sabem o que é respeito!

A esses, aconselho uma surftrip a Munique para virarem, literalmente, surfistas de água doce!

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