Durante décadas o surf profissional foi dominado por atletas de poucas nações. Os EUA (continental e Havai) e a Austrália estiveram no topo desde o início, juntamente com a África do Sul e, um pouco mais tarde, o Brasil. Ao longo dos anos foram se juntando surfistas de países, como o Tahiti, com Vetea David nos primórdios do Championship Tour (e mais tarde Michel Bourez) e, ao longo dos tempos foram aparecendo surfistas europeus, inicialmente com Russell Winter da Inglaterra (se excluirmos Martin Potter, que cresceu na África do Sul e mais tarde emigrou para a Austrália mas representou o Reino Unido no tour), vários franceses, dois portugueses, um espanhol/basco, um alemão e um italiano. Esta lista é completa com mais uma mão cheia de países, como a Nova Zelândia, e no tour feminino o Peru, a Costa Rica e… o Japão.
O Japão tem um historial curioso no tour, tendo estado nos anos 90 muito à frente do surf europeu. Em épocas tão distantes como 1993, surfistas japoneses marcavam presenças em finais de provas QS mas seguiram-se anos de estagnação. O circuito doméstico deste país é a razão que muitos deram para a ausência de surfistas japoneses no top do circuito de qualificação enquanto que a Europa começou a marcar uma posição cada vez mais sólida. Masatoshi Ohno foi a esperança deste país durante alguns anos mas, mais tarde, pareceu mais uma aposta de marketing da marca que o patrocinava que um verdadeiro candidato ao Championship Tour. Depois surgiu Hiroto Ohhara, que venceu o US Open de 2015 e se colocou numa excelente posição para entrar no CT, acabando por “bater na trave” e repetir a tendência nos anos que se seguiram.
Tudo mudou em 2018, quando Kanoa Igarashi passou a competir pelo Japão no Championship Tour. Igarashi tinha se qualificado pelos EUA, país onde nasceu e cresceu, mas a influência nipónica dos seus país e as oportunidades que surgiram pelo facto deste país estar em vias de inaugurar o surf como modalidade olímpica fizeram com que se tornasse no primeiro japonês no tour, garantindo no ano seguinte a primeira vitória numa etapa do Championship Tour. A partir daí o Japão começou a ganhar momentum como potência de surf. No fim de 2019 Amaro Tsuzuki garantiu uma vaga no tour feminino e venceu o título mundial júnior feminino. Outro nome que surgiu da terra do sol nascente recentemente foi Shun Murakami, um surfista que venceu a sua primeira prova do circuito QS aos 16 e que no ano passado se destacou nos World Surfing Games realizado no Japão, onde fez a final juntamente com Ítalo Ferreira, Gabriel Medina e Kolohe Andino. Shun provou no Corona Open China que uma vaga no Championship Tour é uma questão de tempo, vencendo a etapa e passando para a liderança do circuito QS.
E, ao que tudo indica, isto é apenas o começo de uma forte presença japonesa no mais importante circuito de surf do planeta…
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