Chegou ao fim a prova de surf dos Jogos Olímpicos de 2024, um campeonato realizado a cerca de 15k quilómetros da Paris, a localização original do evento.
Estes Jogos Olímpicos estão a ser dos mais polémicos até hoje, e o surf não foi excepção. Uma situação que deu que falar foi o facto de terem obrigado um dos brasileiros em prova, João Chianca, a tapar a pintura de algumas das suas pranchas que, além da bandeira brasileira, mostravam o Cristo Redentor, um dos símbolos do seu país. Alegando representar uma religião, algo proibido nos estatutos, Chianca teve que tapar a pintura, mas por alguma razão uma versão deturpada da última ceia foi permitida na cerimónia de apresentação. E “Chumbinho” não foi o único a ter que tapar uma pintura já que Jack Robinson tinha um quiver de Arakawas inspiradas na pintura “rising sun” de Andy Irons. Aparentemente a pintura ofendia a delegação Coreana e Jack teve que dar bom uso a algumas latas de spray. Depois foi a vez de um juiz ter sido mandado mais cedo para casa por ter tirado uma selfie com Ethan Ewing e Bede Durbidge, dois surfistas da mesma ilha australiana que o juiz. De imediato foi posta em causa a sua imparcialidade e a consequência foi um regresso antecipado. Além disso a escolha de local para esta prova foi constantemente criticada, por ser uma onda muito especifica, que beneficia alguns surfistas, e por ter obrigado à construção de uma nova torre, o que, segundo os locais, teria um forte e desnecessário impacto no recife.
No entanto praticamente tudo o que é críticas e polémicas desapareceram no segundo dia de prova, quando Teahupoo mostrou (como Nuno Jonet diria) “as suas melhores roupinhas” e alguns dos melhores surfistas do mundo, mostraram que esta onda é algo muito especial, algo que mais nenhum outro desporto terá acesso. E quem mais brilhou foi Gabriel Medina, que deu um “show”, fazendo alguns dos melhores tubos de toda a prova e protagonizando o “kick out” visto pelo mundo e que lhe proporcionou (literalmente) um aumento de mais de um milhão de seguidores no seu instagram, que já era de longe o que mais seguidores tinha entre os surfistas profissionais. Com queda de John John Florence e outros “contenders” como Griffin Colapinto, Connor O’Leary e Jordy Smith logo no round 3, o 3x campeão mundial surgia como o mais forte candidato ao ouro. Mas os deuses olímpicos tinham outros planos e Medina seria derrotado por Jack Robinson num heat pobre de acção na segunda meia final, deixando-o, à semelhança do Japão, a lutar por bronze. Na terra do sol nascente Gabriel via a medalha a escapar-lhe entre os dedos, e uma forte sensação de “déjà vu” pairava no ar enquanto o seu adversário, Alonso Correia, liderava o confronto pelo último lugar no podium. Eventualmente, com um par de notas de 7.77 pontos, Medina deu a volta ao resultado e garantiu a sua medalha olímpica. Já o ouro ficou entre Jack Robinson e Kauli Vaast. Jack é um “mago” nos tubos, mas Kauli fez um campeonato incrível, lembrando que já fez uma final no Championship Tour neste local, e um 5º lugar. Apesar do seu incrível nível de surf, é certo que Vaast só poderia garantir ouro olímpico num local em todo e mundo, Teahupoo, e foi o que acontecendo, recebendo assim o lugar de topo e um resultado que ficará para sempre marcado na história do nosso desporto.
Entrando na prova feminina, onde havia duas surfistas nacionais, Teresa Bonvalot e Yolanda Hopkins, ou três, se considerarmos Camilla Kemp, que nasceu para o surf no país onde sempre viveu, Portugal, mas aproveitou as oportunidades que a nacionalidade dos seus país lhe proporcionavam, cumprindo assim o seu objectivo olímpico. Todas surfaram muito, mas Bonvalot e Kemp foram eliminadas no round 2, e Yolanda no round 3 por uma das maiores favoritas à vitória, Brisa Hennessy. Mesmo longe das medalhas, a representação nacional foi forte e algo nos diz que nenhuma destas surfistas vai perder o foco para os Jogos Olímpicos de L.A., daqui a 4 anos. Terão no entanto mais oposição a nível nacional já que o surf feminino português encontra-se num crescendo que o masculino não está a acompanhar neste momento.
De volta às medalhas, Brisa foi considerada com uma das grandes favoritas e mesmo tendo chegado mais longe que Carissa Moore, que se reformou oficialmente nesta prova, Tyler Wright e Vahine Fierro, teve que se contentar com um 4º lugar pois foi batida por Tatiana Weston-Webb na segunda meia-final e por Johanne Defay na disputa pelo bronze. Com o ouro ficou a campeã mundial em título, Caroline Marks, que superou outro grande destaque desta prova, Tatiana, por apenas 0.17 na final.
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