João Kopke deu um dos mais importantes passos na sua carreira de surfista, terminou os seus anos de sub18. A partir de agora, além do Pro Junior Europeu, o seu futuro competitivo passa, além da Liga MOCHE, pelo WQS.Este é momento de decisões e que implica, além de um bom apoio de patrocinadores, uma vontade, trabalho e determinação a que poucos estão habituados. Qualquer surfista que deseje chegar ao WCT tem, mais do que nunca, de se entregar à séria ao um mundo díficil e que exige muitos sacrificios. Quisemos então saber qual o caminho que João Kopke, que fechou a sua carreira de sub-18 com chave de ouro ao sagrar-se campeão nacional, pensa seguir e por isso colocámo-lo debaixo do quente Spotlight virtual da ONFIRE.
Zenguito, concordas ou não que os surfistas portugueses demoram tempo demais a fazer uma ataque a full time ao WQS. Esta pergunta é difícil de responder. Se falarmos de números, é verdade: os americanos, australianos, brasileiros entram cedo para o WCT, e andam pelo mundo mais cedo. Mas se olharmos para a estrutura destes atletas (australianos, americanos e alguns brasileiros que são escolhidos), vemos que existe uma máquina para que eles possam dar a volta ao mundo desde muito cedo sem olhar para a carteira.
Em Portugal, à parte de um ou dois surfistas, fazer um circuito Junior europeu envolve sacrifícios. E se este circuito, que é um circuito que dura pouco tempo e é relativamente barato, nos custa, não se pode pedir a um atleta europeu que deixe a escola, ganhe o que não se consegue ganhar por aqui, e que se atire à vida de surfista profissional sem garantias de que aos 20 e poucos anos não tenha que voltar a pedir dinheiro aos pais, ou dormir na sala de um amigo.
À parte disso, acho que a vida é longa e que o trabalho é recompensado, mesmo que 3 ou 4 anos mais tarde.
Este foi o ano em que acabaste a tua carreira como Esperanças sub-18. E agora, o que se segue em termos de surf competitivo? Para o ano acho que o leque diminui. Se por um lado existia este circuito em que me sagrei campeão e que era sem dúvida um objetivo, também participei em campeonatos importantes no meu escalão a nível internacional, como o ISA, que é um bom campeonato para se fazer notar. Para o ano é diferente, destaco três campeonatos: o Pro Junior europeu, a Liga MOCHE e o WQS. No fundo, à medida que me vou tornando mais maduro, o surf também deixa de ser uma coisa de criança, deixo de despender energia em muitos circuitos diferentes e passo a concentrar-me em circuitos chave. Mas não quero muita pressão, acho que quando me divirto surfo melhor, e é esse o meu principal objetivo para o ano, mesmo a nível competitivo.
Se terminaste o circuito Esperanças com chave de ouro, uma vez que te sagraste campeão, já a Liga MOCHE não correu como esperavas. Tiveste heats brilhantes, como o de Peniche em que estavas em combinação e deste a volta, alguns vacilos noutros heats e outros em que se calhar não foste justamente compensado pelo teu surf. O que faltou para terminares com um ranking melhor e mais de acordo com o teu nível? Não consigo sumariar tudo o que correu mal, no fundo foram acontecendo muitas pequenas coisas que, umas atrás das outras, tiveram como resultando um mau lugar na tabela. Acho que não foi de modo algum nível de surf, pelo contrário, acho que estou melhor surfista que nunca. Foi um ano de muita mudança e ao mesmo tempo de muita coisa para fazer (acabar a escola e terminar o meu curso de música para começar logo outro). Mas com pequenos erros é que se aprende e sobretudo aprendi que em 20 minutos pequenos erros têm por vezes grandes custos. Por outro lado coloquei demasiada pressão em mim próprio para mostrar ao mundo que fiz escolhas certas. Essa pressão talvez tenha sido impulsionadora de muitas más decisões na água, por isso é que digo que tenho como objetivo para o ano divertir-me mais e pressionar pouco as coisas.
Começaste 2013 a terminar contracto com o teu antigo patrocinador (a Hurley) mas rapidamente assinaste com outro main sponsor, a O’Neill. Como será 2014 no campo dos patrocínios? Ainda se está a tratar de muita coisa mas eu espero começar a conseguir fazer QS’s mais a sério. Tenho que dizer que este ano fiquei surpreendido pela positiva com a forma com que tudo se compôs, visto que mudei quase tudo e tudo correu melhor. Estou convencido que o ano que vem vai ser ainda mais feliz e eu vou andar mais de avião.
Além da competição, quais os teus outros objectivos para 2014 em termos de surf? Sem dúvida que quero estar mais em contacto com os media no surf. Este ano pequei por não aparecer muito nas revistas e por ter feito poucos clips. No fundo quero que o retorno que dou aos meus patrocinadores não esteja só ligado com a competição mas também com o próprio surf, que tem um espírito próprio e diferente do surf de competição. Até porque reconhecimento público é um grade ego booster, tenho que admitir ahahahah!
Pergunta típica: quais os surfistas que mais te inspiram em Portugal? Neste momento, para além do Saca, olho muito para o Kikas e o Zé Ferreira. Olho para os dois pela mesma razão: trabalharam e o trabalho moustrou-se. O Kikas sempre foi visto como alguém que ia longe, mas não se encostou a nada este ano. Trabalhou e ficou com mais surf, mas reconhecimento e teve resultados muito bons como a final no WQS de Lacanau.
O Zé, passou sempre pelos sítios com muito surf mas não tinha resultados que mostravam isso. E eu conheço bem o Zé e sei que teve alturas difíceis. Mas ele não parou e estão lá os resultados disso, fez uma final em Pantin e de repente viam-se 8 e 9 pontos em campeonatos de alto nível. Acho que, no fundo, valorizo mais qualidades de pessoas do que qualidades só de surfistas.
Sabemos que já tens carro mas ainda não tens carta. Quando é que vais ser dono e senhor desse importante documento (para fugirmos quando te virmos)? Ahaha, tenho treinado de manhã e à tarde, e à noite vou para o conservatório que fica em Lisboa. Tenho feito umas aulas ocasionais mas ainda não consigo precisar uma data. Não se preocupem, quando o dia chegar atropelo-vos de surpresa hehehe.
Este ano acabaste também o 12º ano. Já agora com que média? Acabei este ano o 12º com uma média de 16.5
Vais entrar na faculdade e congelar a matricula certo? Que curso queres tirar? Já o fiz, na Nova de Lisboa, em Relações Internacionais e Ciência Política, era o que eu queria.
Não és um grande fã das redes sociais mas andas muito activo no Instagram… Rendi-me à arte de achar que sei fotografar! Mas só devo ser mesmo eu a achar porque tenho poucos seguidores!!!
Agradecimentos finais? Tenho que agradecer a todas as pessoas que estiveram aqui para mim este(s) ano(s). Para começar a minha família que leva comigo estoicamente desde os primórdios da minha existência, e também à minha namorada. A todos os que me ajudaram em outros anos como os meus antigos treinadores. Este ano, obrigado ao Nuno e à O’Neill, ao Tiago e à Fonte Viva, ao Álvaro e à Polen, à O&E, à Futures, à minha clínica de Fisioterapia Reequilibrius e ao físio David.
Mas acho que devo um agradecimento especial ao Pedro, meu treinador, que trabalhou muito comigo este ano e a quem eu agradeço muitos dos meus sucessos (espero que ele não veja isto para não chorar…. ). Ahaha, boas ondas!
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