A esquerda de Desert Point, situada na Ilha de Lombok, Indonésia, é considerada como uma das melhores ondas do mundo. Conhecida pelos seus tubos, longos e pesados, é uma onda que exige um nível de surf alto e durante muitos anos era paragem obrigatória para qualquer tube rider. Até que as Mentawai foram descobertas e “roubaram” um pouco da visibilidade desta e de outras ondas.
Curiosamente noutra época o recife não era o único perigo deste spot de nível mundial. Por ser um pouco mais afastado das grandes cidades que os spots de Bali, Desert exigia um tipo de compromisso que não era para qualquer viajante. Sem qualquer tipo de infraestrutura local para alojar os surfistas, estes eram obrigados a acampar em zonas perto do pico e trazer praticamente todas as provisões para a sua estadia. Apesar dos viajantes se manterem bastante próximos, por questões de “protecção contra os elementos”, estavam expostos a ataques dos habitantes de uma aldeia próxima, que aproveitavam o facto de estarem longe de qualquer tipo de autoridade para assaltar as tendas e cabanas feitas pelos surfistas. Foi numa dessas ocasiões que, no fim dos anos 90, Desert Point foi notícia na comunidade surfista pelas razões erradas. Isto porque um dos visitantes apanhou um “nativo” a assaltar a sua cabana e tratou de o espancar. Para azar dele, o assaltante não vinha só e quando os seus colegas deram pela falta de um elemento e foram à sua procura, apanhando o surfista em plena agressão. O resultado foi que o surfista levou uma valente “catanada” no braço, ficando com ele preso apenas por parte do osso, e pele. Como se isso não chegasse, ainda o agrediram na cabeça com a parte não cortante da catana, o que o deixou numa situação bastante precária já que não havia como o fazer chegar ao um posto médico rapidamente. O percurso foi feito numa maca improvisada, e só algumas horas mais tarde conseguiram fazê-lo chegar a um posto médico, apenas para ser levado para um hospital em Bali, onde acabaram por salvar o braço apesar de ter perdido alguma mobilidade. Mais tarde as autoridades apareceram, mas foi apenas para expulsar os visitantes de Desert Point, receando que mais situações semelhantes pudessem acontecer.
Aos poucos os surfistas foram regressando, alguns por terra, outros de barco, uma via que se tornou cada vez mais comum. As “batalhas” continuaram e nem sempre eram contra os locais. Anos depois surgiram na área dois grandes grupos de surfistas, um de australianos e outro de brasileiros. Depois de alguns desentendimentos na água, a “guerra” passou para terra, com um confronto físico entre as duas nações que acabou sem claro vencedor mas com muitas idas ao posto médico mais próximo. Anos mais tarde um grupo de praticantes de jiu jitsu decidiu monopolizar o pico, expulsando praticamente todos os outros visitantes que surgiam de barco. Apesar de terem sido bem sucedidos, há relatos de um pequeno indonésio ter entrado no line up de barco, munido de uma catana, correndo assim com os “protectores” do pico.
Ao longo dos anos esta zona foi sendo desenvolvida e hoje em dia já há surf camps no local e mais infraestruturas, apesar de ainda haver alguma agressividade no pico. Mas algo não mudou, os tubos, que continuam a fazer desta uma das melhores ondas do mundo.
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