Foi mais um dia em cheio no Pico da Mota, Peniche, o calorento palco da quarta etapa da Liga MOCHE, o Montepio Peniche Pro by Rip Curl. No final, encontraram-se os quatro finalistas mas o caminho não foi fácil para ninguém!

Com maré ainda cheia e algum on shore matinal à mistura, ondas de um metro rebentavam nos bancos de areia do Pico da Mota, e foram estas as condições que receberam os quartos de final femininos. Sem dúvida que a surpresa foi a eliminação de Constança Coutinho logo no primeiro heat para Carina Duarte e Inês Silva. Teresa Bonvalot e Leonor Fragoso eliminavam Mariana Assis e a local, e a mais antiga surfista portuguesa, Tê Ayala, e Maria Abecasis, Maria Pessanha, Keshia Eyre e Ana Sarmento garantiam a vaga nas meias-finais, sendo que as duas últimas foram responsáveis pela eliminação da ex-campeã nacional Francisca Santos.

Logo de seguida entravam na água os homens, e dava-se assim início a horas e horas de disputas renhidas, vitórias de últimos minutos, notas duvidosas, interferências, e surf de high performance, o mais importante!

A acção não poderia ter começado com mais emoção pois logo nos primeiros minutos do primeiro heat masculino, João Kopke fazia uma interferência que já não é aceite por um surfista com o seu nível e rodagem competitiva mas, para compensar o seu erro, o surfista de Carcavelos mostrou como não baixar os braços e lutar contra todas as adversidades.

A resposta ao seu erro foi feita com brilhantismo, agarrando uma onda do set e disferindo uma sequência demolidora de pauladas e rasgadas de backside, todas com um encadeamento e flow perfeitos. Kopke colocava assim um 7.75, e certificava-se que mantinha a porta aberta para passar o heat, isto pois a nota da sua pior onda contaria apenas metade.

Guichard construiu um score sólido nas longas direitas, deixando Nozes, Raimundo e Kopke a lutar pelo segundo lugar. Verdade seja dita, caso não tivesse a interferência, Kopke teria um lugar fácil nas meias-finais. Raimundo ainda apanhou uma onda no último minuto mas, apesar de uma boa manobra a abrir, não conseguiu um inside que lhe permitisse obter a nota para passar o heat.

Seguiu-se mais um heat com muita emoção, e um heat onde o julgamento acabou por não ser muito justo face ao surf praticado. Morais abriu com uma onda pequena e curta, onde encaixou uma rasgada, um carve e um reentry, recebendo um demasiado alto 7.35, nota essa que acabaria por colocá-lo numa posição segura, principalmente quando lhe juntou um 8.00. Desta forma, Jervis e Guedes teriam de disputar o segundo lugar (o nortenho Tomás Ferreira esteve sempre fora da disputa) o que pareceu injusto pois este foi sem dúvida um heat onde os três disputaram taco a taco as duas vagas na fase seguinte.

Guedes, na sua primeira onda, encaixou surf bottom-manobra do inside ao outside, com power, várias pauladas e rasgadas e acabou por receber um 7.25, sem dúvida uma nota bem atribuída mas que ficava a parecer errada face à nota demasiado elevada da primeira onda de Morais.

Jervis acabaria por encontrar as suas duas melhres notas para a esquerda pois conseguiu encontrar as raras gemas (uma vez que as direitas eram as ondas com maior potencial) que lhe permitiram encaixar surf de rail e power, conseguindo assim superar João Guedes, e passando assim para a fase man on man juntamente com Frederico Morais.

Mouzinho, Alves e Blanco disputaram as vagas do heat seguinte, enquanto Pedro Boonman, um dos destaques do dia de ontem, perdia-se no pico (mas acabaria por se vingar ao fim do dia com a vitória da Malibu Expression Session onde deu um aéreo reverse invertido que lhe rendeu 500 euros). Blanco começou mais devagar mas foi crescendo ao longo do heat e garantiu, juntamente com Francisco Alves, um lugar no man on man.

Luís Eyre usou o seu frontside attack para passar o heat seguinte juntamente com Vasco Ribeiro, ambos eliminando Ivo Cação e o vencedor da última etapa, Tomás Fernandes.

Logo de seguida entrávamos nos quartos-de-final man on man, altura essa em que o maré estava toda vazia e por isso mesmo as ondas demoravam a entrar. Assim os dois primeiros heats foram lentos e com poucas ondas. Jervis acabou por perder o heat quando, depois de estar há um bom tempo com prioridade, entrar uma onda maior, que obrigou o surfista do Guincho a fazer um bico de pato, e que acabou por ser apanhada por Joackim Guichard que estava prestes a chegar ao outside e viu ali uma oportunidade de ouro. Viu-a e aproveitou-a da melhor forma, cravando o rail, batendo e rasgando, com o power típico do seu clã, e fazendo assim um 5.30, que acabaria por ser a sua segunda melhor nota. No último minuto, Jervis ainda procurou a salvação numa esquerda onde encaixou dois carves de rail, uma rasgada e um reentry mas que não foi suficiente para o 5.81 que precisava (recebeu um 4.80). Guichard garantia assim um lugar nas meias-finais.

Frederico Morais e João Kopke disputaram sete ondas entre si em 25 minutos, e no final as notas as duas melhores ondas de Morais (das quatro que fez) foram superiores ao somatório final das duas melhores ondas de Kopke, que via assim a sua prestação terminada mas fazendo mesmo assim o seu melhor resultado da Liga MOCHE este ano!

Seguiu-se Miguel Blanco e Vasco Ribeiro, e com este heat o upset do dia. Desde o free surf do dia 1 que Blanco parece ter encontrado no Pico da Mota uma sintonia muito própria com as ondas, e tem vindo a encaixar o seu surf nelas em todos os seus heats. Rápido, preciso, power e muito mais fluido que nas etapas anteriores, Blanco dizimou as direitas que encontrou para garantir que Vasco Ribeiro não o vencia. Dois 6.75 foram suficientes para eliminar o bi-campeão nacional que competiu ainda a recuperar de uma lesão recente e que, como todos puderam ver, ainda não se sente preparado para arriscar tudo em determinadas manobras. “É mais uma questão psicológica do que física. Vou dar um aéreo reverse e vou a medo…“, contou-nos Ribeiro. Blanco garante, pelo menos, mais um terceiro lugar, lugar esse que conseguiu nas últimas duas etapas, mostrando uma consistência difícil de conseguir.

O último heat do dia foi como o primeiro, cheio de emoção. Erye e o aniversariante Francisco Alves disputaram a liderança onda a onda, com várias trocas de posição ao longo dos 25 minutos. Quando estava no primeiro lugar, e a apenas a alguns minutos do fim, Alves – outro surfista que ainda está a recuperar de uma lesão – cometeu um erro que lhe poderia ter saído muito mais caro pois agarrou uma esquerda sem potencial nenhum (onde apenas deu um carve) entregando a prioridade a Eyre.

E, no último minuto, Eyre agarrou uma onda do set onde abriu com uma paulada, uma rasgada de acerto, uma segunda paulada e, no inside, encaixou um floater. Eyre acabou, justamente, por não conseguir a nota que precisava, e o aniversariante acabou por ver o seu erro não ter consequências indesejáveis para ele.

Amanhã será o último dia e o check in está marcado para 10:30 da manhã. Uma coisa é certa, nesta altura, e apenas com uma etapa a faltar, dois nomes têm grandes hipóteses de disputar o título mais alto do surf português: Frederico Morais e Francisco Alves. De muito perto está Miguel Blanco (que, caso vença amanhã, estará taco a taco com os nomes anteriores), e ainda com hipóteses matemáticas estão surfistas como Tomás Fernandes, João Guedes e Zé Ferreira.

 

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