Apesar das últimas três etapas do WCT (uma ainda está a decorrer...) terem sido das mais empolgantes dos últimos tempos, todos os surfistas portugueses que acompanham o circuito têm sido privados de uma das razões que nos levam a acompanhar assiduamente a elite do surf mundial, a presença de Tiago Pires. O melhor surfista português de todos os tempos parecia estar numa excelente fase até ter contraído uma lesão que o deixou fora destes eventos. Para saber mais sobre o que se passou e em que ponto está a sua recuperação a ONFIRE foi ter com o Tiago em plena sessão de fisioterapia para saber mais pormenores…

Tiago, conta-nos como aconteceu a tua lesão?
Eu estava a surfar em Santa Cruz e estava a ser uma sessão óptima, com altos tubos. Estava já de “papo cheio” pronto para ir embora mas quis fazer mais uma e arranquei tarde numa onda mais pesada. Meti logo para dentro do tubo pois estava com confiança mas não consegui encaixar bem e a prancha não agarrou. Entretanto a prancha ficou de lado, o lip aterrou-me em cima do joelho e a perna torceu para trás. Senti logo uma dor grande e percebi que tinha feito algo coisa muito má.

Deu para perceber de imediato que era alguma coisa grave?
De imediato tive uma grande dor, como nunca tinha tido num joelho e saí logo da água. Nem conseguia andar bem e fui devagarinho para o carro mas senti o rótula um bocado solta. Pus-me no carro e a primeira pessoa que liguei foi ao Nuno Morais. Depois fui para casa fazer gelo, conforme o que o Nuno tinha indicado, e comecei a sentir o joelho ficar cada vez pior. Já não conseguia andar e tive de usar muletas. Não podia fazer exames logo porque estava muito inflamado mas logo a seguir comecei a fazer fisioterapia. Depois de fazer uma ressonância magnética confirmou-se que era o que o Nuno suspeitava, uma ruptura parcial num ligamento interno.

Realizaste logo que ias ter de faltar ao WCT do Brasil?
Sim, há sempre aquela esperança que seja uma coisa passageira mas o “filme” foi outro. Continuámos sempre na expectativa, eu e o Nuno. Acho que somos parecidos nesse aspecto, temos aquele estilo guerreiro e estamos sempre a acreditar, mas o WCT do Brasil ficou logo fora da jogada. Há um período da lesão em que a dor passa bastante, passas de andar com muletas para começar a andar e pensas que a coisa é rápida, mas tudo leva o seu tempo. É uma coisa que tem ficar a 100% pois os joelhos são das coisas mais importantes no surf.

Quando te retiraste da etapa brasileira tinhas como objectivo melhorar a tempo de competir em Fiji, era uma esperança demasiado optimista?
O prognostico do médico que eu consultei era de 6 a 8 semanas, mas a verdade é e eu só fui vê-lo passadas duas semanas por isso na realidade ainda faltam duas semanas para o timing que ele me deu. Depois há o timing do Nuno, que é mais batalhador e está dependente da recuperação que estás disposto a fazer pois isso pode acelerar um bocado as coisas. Infelizmente não conseguimos contrariar o prognostico e não pude ir.

Como te sentes agora?
Sinto-me muito melhor, já estou a fazer surf, é a minha segunda semana. Tinha experimentado surfar antes de Fiji e realmente doeu-me bastante. Depois dei mais três semanas de tratamento e comecei a surfar outra vez, agora com menos dores. Ainda há certos movimentos que eu não consigo fazer, quando a manobra exige torções fortes como bottoms de frontside ou nos cutbacks de backside. Já faço pauladas mas não arrisco, por exemplo, em floaters arriscados nem drops atrasados. O surf agora entra onde a fisioterapia vai acabar pois é a surfar que vou voltar a ganhar todos os músculos de suporte ao joelho que tens naturalmente por fazer surf, e perdes quando paras. Não há simulação que consigas fazer fora de água onde consigas reproduzir os movimentos que fazes no surf. Agora é a fase final, é surfar o máximo possível sem cansar demais, ir surfando, ir esticando-me um bocadinho mais nas manobras, até que vai chegar o ponto em que vou tirar a joalheira pois não vou sentir nada e volto à vida normal.

Quanto tempo achas que vais demorar até ficares perto dos 100%?
Se queres que te diga, nem sei, tudo é muito subjectivo, posso fazer uma torção mais forte e tudo volta para trás. Mas sinto que no ritmo que tenho evoluído nos últimos dias em duas ou três semanas vou estar a 100%.

Então achas que vais conseguir competir no Billabong Pro Tahiti?
Sim, eu acho que ir Tahiti é pacífico, se não houver nenhum azar. Tenho de testar o meu joelho em tubos para a esquerda também, para ver como o meu corpo reage  mas acho que tenho mais do que tempo.

Desde que entraste no circuito só faltaste a uma etapa, o Pipeline Masters de 2008. Com esta lesão já faltaste a três, como é ser um espectador “forçado” depois de tanto tempo no tour?
Tem sido estranho, tenho acompanhado alguns heats, não tenho visto tudo. Em cinco anos de tour só tinha falhado essa prova por isso é estranho pensar que não fui àquelas provas, parece que fica a faltar qualquer coisa. Este campeonato de Keramas, por exemplo, é um campeonato novo mas conheço muita gente lá e é um sítio que gosto bastante. É uma onda onde fiz boas sessões mas sabia que ia ser mais exigente a nível físico porque é uma onda que dá bons tubos, secções para fazeres manobras com muita força, tens junções animais às vezes e tens de estar a 100% para surfar ali.

Para terminar facto de teres faltado a três etapas vai-te obrigar a ter no teu somatório pelo menos dois 25º, tendo em conta que só podes faltar a duas etapas. Isso vai te obrigar a fazer alguma coisa diferente do que tinhas planeado inicialmente?
No ano passado contei com seis 25ºs por isso acho que o ano ainda está em aberto, se eu conseguir voltar bem e forte e conseguir ter um par de resultados acho que ainda me posso qualificar pelo WCT. Depois ainda há os primes mas muito honestamente vou faltar a algumas provas este ano. Tenho os dois primes (Moche Series Cascais Trophy) e vou aproveitar um pouco essa oportunidade de tentar fazer bons resultados em casa. Sinto-me bastante confortável a surfar os primes em Portugal, não sinto o mesmo nível de pressão no WCT e consigo soltar um pouco mais o meu surf. Não estou preocupado com a manutenção no tour porque estas coisas acontecem, acontece a toda a gente e ainda há uma remota possibilidade de ter um Injury Wildcard. Mas ainda é muito cedo para pensar nisso. Para já tenho de recuperar a 100% para conseguir ter uma boa segunda metade do ano. Quero fazer umas viagens para ganhar forma, e não há tempo para tudo. Eu prefiro faltar a alguns primes e melhorar de forma do que estar a ir a não surfar onde eu quero estar e perder tempo. Ficou muita coisa por fazer como experimentar  as pranchas que recebi durante este tempo todo por isso preciso de viajar para voltar a ganhar forma.

Comentários

Um comentário a “Tiago Pires | Em Mini-Entrevista | Faz um “update“ da sua lesão”

  1. diogo diz:

    O saca estava a surfar em Santa de Cruz, do concelho de Torres Vedras?