Em Janeiro de 2003, quando lançámos o primeiro número da ONFIRE, tínhamos planos de eventualmente atacar o mercado Europeu. O objectivo não era imitar outros formatos já existentes, mas havia ambição e, acima de tudo, ingenuidade, de fazer algo que tivesse impacto fora do nosso pequeno mercado.
Apesar do sucesso ter sido imediato em Portugal, rapidamente ficou visível que as nossas ambições europeias não eram viáveis. Para quem não sabe, a ONFIRE nunca fez parte de um grupo editorial ou de uma grande empresa e nunca procurou investimento fora do pequeno grupo de sócios, que investiram uma quantia modesta a nível financeiro e uma absurdidade de tempo para fazer de um sonho uma realidade. Apesar da pequena dimensão da empresa, ao longo dos anos foram aparecendo vários projectos que foram surgindo como consequência do impacto da revista no mercado. Fica a conhecer a história resumida dos “filhos” da ONFIRE…
Revista ONBIKE Portugal
A ONBIKE foi o único projecto que a empresa abraçou que fugia da nossa área de conhecimento. De facto, entre os 3 sócios havia um total de uma bicicleta. Então porquê começar uma revista de bicicletas? Simples, havia alguns contactos no meio e parecia ser uma boa ideia, especialmente tendo em conta que um dia o mercado do surf poderia cair e era bom ter outro projecto na empresa. Tentámos então aplicar uma fórmula editorial muito semelhante à da ONFIRE, contratámos alguns colaboradores e pouco tempo depois a ONBIKE estava nas bancas, em meses intercalados com a ONFIRE. O feedback foi bastante variado, algum negativo, algum positivo, e foi-se adaptando o produto durante alguns anos até que na edição #35, 5 anos depois de termos lançado a primeira, acabámos com o projecto. Falando de cabeça tenho ideia de que a primeira edição deu um lucro de cerca de 500 euros enquanto que as 34 que se seguiram ou deram prejuízo ou andavam no break even, o que, na nossa realidade, tendo em conta o investimento de recursos, era na prática também um prejuízo. Alguma ingenuidade e muita teimosia fizeram com que a revista durasse mais do que realmente era justificado, acabando por ser subsidiada pelos lucros da ONFIRE, mas às custas dos sócios da empresa, que durante anos trabalharam/trabalhámos sem qualquer remuneração.
Revista ONSK8
Seguiu-se a ONSK8 em Março de 2006, que ainda foi “contemporânea” da ONBIKE, sendo possível passar nas bancas e encontrar a ONFIRE (bimestral lançada nos meses ímpares), ONBIKE (bimestral lançada nos meses pares), e a ONSK8 (trimestral lançada nos início de cada estação do ano), em exposição. Este produto fazia um pouco mais sentido que a ONBIKE uma vez que o surf e o skate têm uma forte ligação e muitas das marcas ou eram transversais entre os dois desportos ou eram representadas pelas mesmas empresas com quem já tínhamos uma ligação sólida. Para este projecto juntamo-nos a um skater com bons conhecimentos no meio e muita capacidade para, em conjunto com o nosso núcleo duro, lançar um produto com uma qualidade nunca vista até aí nesse desporto. Os primeiros alarmes surgiram na fase inicial do projecto quando mais que um anunciante colocava em causa a capacidade do nosso editor fazer o que era pretendido dele e, da parte dele, muitos no meio do skate diziam para não se meter a trabalhar com “surfecos”. Mas o que é certo é que a revista teve muito sucesso e deu lucro, embora modesto, desde a primeira edição. Deu também mais “dores de cabeça” do que alguma vez pensámos possível. Era o editor que desaparecia na época de designada para o início da produção da mesma, entrando em timings que estavam reservados às outras revistas e arrastando todo um processo que só por si já era complicado. Eram os conflitos do mesmo com algumas marcas e relações “promiscuas” com outras, comprometendo a imparcialidade do produto final. Havia o colaborador que era representante de marcas que não anunciavam mas que aproveitava a oportunidade para colocar o seu produto de uma forma mais apetecível que a publicidade “pura e dura” que outros pagavam para ter. O novo editor, anos mais tarde, uma lenda no meio, que também tinha todas as capacidades de relançar o projecto mas que nunca entrou de cabeça, acabando por não se transformar na mais-valia que poderia ter sido. E, claro, a concorrência e a constante desconfiança por parte do core do skate também teve a sua influência na eventual “decadência” do projecto. Ao fim de uns anos a revista deixou de ser financeiramente viável para entrar no modo break even, sendo terminada na edição 23 antes que também se transformasse em mais um “buraco financeiro”.
Revista Girlz Onfire
Poderíamos dizer que ficamos pelo “não há duas, sem três”, mas houve ainda uma quarta, a Girlz Onfire. Inicialmente o surf feminino tinha uma secção de pelo menos uma dezena de páginas dentro da ONFIRE, algo que, no terceiro ano da revista se tornou num suplemento próprio, vendido em conjunto com a mesma. O mercado dava algumas indicações de que o surf feminino tinha o seu potencial e o que é certo é que algumas das marcas que estavam presentes na ONFIRE também apostaram na Girlz. Editorialmente a Girlz Onfire estava bem desenvolvida, com boas fotografias, bom design e (pouca mas) boa leitura, mas as suas 36 páginas não atraíam grande investimento da parte das marcas fora do meio, nem acrescentava ao valor do produto ONFIRE a nível comercial. Mesmo assim durante anos justificámos a existência de mais um produto que não era viável a nível comercial como uma aposta a nível de marketing da ONFIRE, que assim atingia com mais expressão as surfistas e, potencialmente, as namoradas dos surfistas, algo que nunca se revelou nas vendas em banca nem no feedback que colhíamos sempre que possível. Em mais de 36 edições lançadas, apenas uma resultou em lucro e quando alguns anunciantes de peso optaram por sair do projecto o fim estava anunciado e o surf nacional perdeu a sua mais bem sucedida revista de surf feminino.
Entre os 4 projectos foram produzidas cerca de 180 edições no total, tendo a ONFIRE ganho pela longevidade, mantendo-se activa (desde janeiro de 2003) até Maio de 2016, sendo a última revista core de surf no mercado nacional. Os projectos anteriores, mesmo não tendo sido boas apostas a nível comercial foram experiências enriquecedoras que acrescentaram muito ao historial da ONFIRE em si, algo que pode justificar a razão pela qual ainda existe em alguns formatos num mercado em constante mudança.
Fica a saber mais sobre o percurso da ONFIRE AQUI!
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