Entre 2003 e 2016, anos em que as 78 revistas ONFIRE foram publicadas, surgiram várias evoluções a nível técnico que mudariam muito o processo de produção de publicações impressas e talvez a mais impactante tenha sido a “guerra” entre a fotografia analógica VS digital.

Em Janeiro de 2003, quando saiu a primeira ONFIRE já se usavam imagens em formato digital mas apenas para pequenas fotografias sem ser de acção de surf propriamente dita, como era o caso do popular artigo “Hot Nights”. Já as fotos de surf eram captadas em formato analógico, com rolos de slide que permitiam 36 “shots”, antes de se ter mudar de rolo. Para uma surf trip os nossos fotógrafos chegavam a levar 30 rolos, que numa boa viagem poderiam não ser suficientes. Depois havia a revelação e mais tarde, quando feita a escolha, a digitalização, fazendo deste processo por vezes quase tão dispendioso quanto os restantes custos da viagem.

Mas aos poucos começaram a surgir máquinas digitais com mais qualidade e, por consequência, as primeiras imagens de surf nesse formato foram chegando à redacção da ONFIRE. A primeira página inteira de surf fotografada em formato digital nas nossas páginas foi uma fotografia de um snap de Alexandre Ferreira “Xaninho” na ONFIRE #3, captada por Ricardo Bravo num dia de luz perfeita. No entanto era visível que faltava alguma coisa, no minímo profundidade, no máximo havia um receio de quebrar com algo tão tradicional desta profissão desde a sua existência.

Entre a ONFIRE e a concorrência disputava-se muita coisa, mas não havia pressa de nenhum lado para dar o salto para o digital. No entanto, no final do primeiro ano da revista apareceu uma imagem do nosso colaborador residente na Ericeira, Sérgio Rosário, que tinha um acesso privilegiado para a época ao nosso melhor surfista, Tiago Pires, que por sua vez ainda não tinha feito capa na ONFIRE. Nessa edição fizemos a primeira entrevista ao “Portuguese Tiger”, apesar de ser dividida com o único “Europeu” a conseguir a qualificação para o CT de 2004, o franco-brasileiro Eric Rebiere. O “shot” era perfeito, uma paulada de backside vertical, com vários elementos que destacavam a imagem, como o fato amarelo e preto e o facto de não ser o momento marca regista do Saca, e, mesmo faltando a tal profundidade, era um “no brainer“, a primeira capa digital do surf português estava escolhida.

Foi uma edição bem aceite, comprovando a teoria de que ter o maior nome do surf português ajudava nas vendas em banca. Não foi feita qualquer menção dentro da revista sobre o facto de ser uma imagem digital e o que é certo é que pelo que sabemos, e tirando os fotógrafos, ninguém reparou. Nas edições seguintes o digital foi ganhando espaço ao analógico até ao formato praticamente desaparecer. O próprio processo de digitalização de slides começou a cair em desuso e anos mais tarde quando surgiu uma imagem em slide com todas as características para fazer uma capa já não se conseguia retirar a qualidade exigida na digitalização, acabando no interior da revista. Essa imagem acabou por ser a despedida da fotografia analógica na ONFIRE, aparecendo pontualmente mais à frente mas sempre dentro de um contexto “retro” e de pouca expressão. É algo a geração que cresceu com a internet e com o digital já praticamente não reconhece, considerando-o algo do passado, como as cassetes de fita magnética que fizeram parte das nossas vidas durante muito tempo…

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