A ONFIRE surgiu no mercado, inicialmente apenas como revista, no início de 2003, tendo eventualmente evoluído para outros projectos, alguns dos quais duram até hoje. A revista em si durou mais de 13 anos, tendo sobrevivido a várias fases conturbadas do mercado e, mais ainda, dentro do grupo de trabalho.
O primeiro ano foi claramente o mais difícil, por diversas razões. Se por um lado a ONFIRE rapidamente encontrou o seu lugar no mercado, por outro ainda não estava claro se o projecto era viável de um ponto de vista financeiro. A periodicidade, bimestral, tinha sido pensada para garantir a qualidade do produto, mas fazia com que gerasse receita apenas a cada dois meses e muitas despesas fixas eram mensais. Para sobreviver nos primeiros anos os sócios fundadores/trabalhadores não foram pagos, entrando num ciclo onde praticamente se teve que pagar para trabalhas. Da parte dos anunciantes via-se uma boa adesão mas, mesmo cortando nos “escravos de serviço”, ainda era “resvés campo de Ourique” todos os meses para pagar as contas.
Mais complexo ainda eram os problemas que se viviam nos bastidores, entre o staff. Havia uma divisão entre os 4 membros, com opiniões a divergir na direcção editorial do projecto, uma fase vivida com grandes discussões e um mau ambiente que ultrapassou o mundo profissional e para sempre prejudicou amizades de muitos anos. Na fase final desta edição a grande discussão era a capa, com um membro a fazer um duríssimo lobby para uma imagem de João Alexandre “Dapin”, que acabou por entrar em destaque dentro da revista, e a sequência de Nuno Telmo, fotografada por Miguel Ceitil, que acabou por vencer esta disputa por ter sido aprovada pelos outros três membros. Alguma má vontade fez com que a capa ficasse aquém do seu verdadeiro potencial, mas não houve cedências. Estas disputas chegariam ao fim na edição seguinte, com o afastamento de um dos sócios.
As situações acima mencionadas fizeram com que o projecto parecesse estar sempre a sobreviver por um fio, que poderia quebrar a qualquer momento. Foi aí que aconteceu um dos pontos mais baixos da história da revista. Devido às discussões referidas no parágrafo acima, a revista foi entregue tarde na gráfica, entrando num timing de muito “tráfego” na mesma, o que fez com que a entrasse numa fila de vários dias para começar a ser impressa. Quando finalmente passou essa fase, entrou no acabamento mas, além de também ter várias publicações à frente, grande parte dos trabalhadores desse departamento estavam de férias. Cedendo à nossa pressão, os responsáveis da gráfica subcontrataram outra empresa o trabalho de montar e colar a revista e esses, por sua vez, por problemas de calibração, não colaram bem as páginas. Resultado, 99% das revistas depois de abertas soltavam as páginas. Este problema ficou bem visível quando os primeiros exemplares chegaram ao nosso maior anunciante, que ficou com as páginas dos seus anúncios nas mãos na primeira folheada. De repente começou a chegar o feedback de amigos, familiares e leitores que o problema era geral e nessa fase já não havia nada a fazer. Parecia ser o fim do projecto, tudo nessa edição cuja semana de lançamento coincidiu com uma das maiores ondas de calor dos últimos anos. Vários membros do staff passaram noites de pouco sono, cada vez com mais dúvidas se o sonho de viver deste projecto seria possível. Foram semanas duras, mas em vez de aceitar a derrota, decidimos enfrentar as criticas e lançar mais edições, para apagar a má memória da “edição” destacável.
E o que é certo é que o desafio foi superado e sobrevivemos para lutar mais uns anos, dando por terminada, não oficialmente, essa parte da ONFIRE apenas 74 edições mais tarde.
Comentários
4 comentários a “A edição que quase acabou com a ONFIRE no seu primeiro ano”
Todas as minhas revistas de surf estão guardadas religiosamente e lembro-me tao bem da primeira: Fluir e na capa tinha o surfista Paulo do Tombo. Folhear uma revista, sentir o cheiro da tinta do papel procurar e descobrir pagina a página as fotos as entrevistas ir a papelaria buscar a revista sao momentos indescritíveis. Nicky grande trabalho principalmente por ser uma causa que sempre defendeste e gostaste. KEEP ONFIRE !
Obrigado grande Ricardo, um abraço
O que eu dava para ter estes tempos de volta com uma Onfire em papel a 3€!!! Sim, voltem, os nossos filhos precisam de revistas de Surf impressas!
É verdade grande Nuno, era uma parte importante da cultura do surf português que se vai perder…