Miguel Blanco tem um longo historial na Liga MEO Surf, com estreia em 2009 e primeira presença no top16 com apenas 14 anos. Este surfista praticamente cresceu no circuito que acabaria por dominar em 2018 e 2019, confirmando o potencial que mostrou desde muito jovem. Hoje está em grande ascensão numa carreira de surfista profissional que se tem revelado muito exigente, onde apenas os melhores entre os melhores conseguem sobressair. Para saber um pouco mais sobre a fase que atravessa a ONFIRE falou com o bicampeão nacional…
Como era o teu estado de espírito antes da última etapa da Liga, sabendo que o título não dependia só do teu resultado?
Eu sabia que era difícil ganhar pois tinha que fazer pelo menos uma final, mas comecei a ver o swell, percebi que iam estar ondas boas em Carcavelos e vi que isso podia jogar a meu favor. Acreditei que tinha uma hipótese e fui atrás.
Já corres a Liga MEO há muitos anos, quando foi o momento que começaste a sentir que tinhas sérias hipóteses de ser campeão nacional?
Não sei, há dois anos atrás eu tinha feito três finais seguidas, nunca tinha vencido e estava a pensar mais em ganhar uma etapa e não tanto no título nacional. Mas entretanto ganhei em Ribeira, fiz mais uns resultados, ganhei a última, fui campeão nacional e este ano ganhei mais duas etapas. Estou muito contente, foi incrível poder revalidar o título e ter um wildcard novamente para o CT.
O segundo título nacional contribuiu para teres melhores condições com os teus patrocinadores ou é pouco relevante neste momento?
Acho que sim, de alguma maneira. Acho que foi mais uma mais-valia mas, até hoje, o que me deu mais “respect” foi sem dúvida a capa da SURFER e é nesse tipo de momentos em que me tento concentrar, mas o título para os meus patrocinadores em Portugal é óptimo.
Como estás de patrocinadores?
Estou bem, neste momento consigo viver do surf. Estou muito diferente, para melhor, do que estava há alguns anos, quando fiquei sem patrocínio. Com a Rip Curl fui crescendo, neste momento tenho patrocínios também do Estoril Praia, Sumol, Joaquim Chaves Saúde, com quem estou desde 2015 e, para além do suporte a nível de saúde, apoiam-me desde a altura que não tinha patrocínio principal, e Brusco com material técnico e suporte da equipa toda, com o Nicolau na Nazaré e a ajuda na produção de conteúdo. Estou feliz por estar a fazer uma carreira daquilo que eu mais gosto, que é surfar.
Não conseguiste acesso à prova da Ericeira, a mais importante prova QS do ano em Portugal. Achas que era merecido um wildcard para o evento, tendo em conta que eras o surfista português mais bem rankeado fora do evento?
É assim, às vezes uma pessoa está dentro, outras vezes não está. Tinha ali hipótese de fazer um bom resultado mas acho que nada acontece por acaso e se não estava no evento é porque se calhar não devia estar. E vendo a coisa de uma perspectiva um bocado de fora, eu queria fazer campeonatos mas também queria estar este inverno a dar prioridade ao free surf e a apanhar ondas boas, estar no sítio certo à hora certa, que é algo que também contribui muito para a minha carreira.
Como consideras que foi o teu ano a nível de objectivos delineados e não só?
Foi um ano incrível, foi o ano que evoluí mais a nível pessoal e não tanto profissionalmente, e isso acaba por se reflectir nas coisas que uma pessoa faz em volta dos campeonatos, das ondas que apanha e dos projectos que faz. Fiz coisas novas, apresentei um modelo de prancha, fiz uma première, estou neste momento numa surf trip, apanhei ondas boas, produzi conteúdo, ganhei outra vez o nacional, foi bom.
Se tivesses a opção de continuar a tua carreira como free surfer, abdicando totalmente da competição, aceitavas?
Não sei, eu acho que há espaço para um surfista hoje em dia fazer tudo, não só focar só no free surf e abandonar a competição. Acho que o surfista tem que surfar pela paixão e pelo surf. E quem não quer competir em ondas incríveis? Ter a oportunidade de competir e uma experiência brutal. Não tem preço apanhar boas ondas e partilhar alguns desses momentos, dessas aventuras, são sem dúvida o que torna para mim o surf mais especial. Mas vou continuar sempre num âmbito de fazer as duas coisas.
Este ano competiste em várias etapas de 10.000 pontos, o que sentes que faltou para tirar bons resultados nessas provas mais importantes?
Acho que vacilei um bocado a nível técnico, estive no US Open e em Ballito, onde havia boas ondas mas fui com a prancha errada e lesionei-me antes da bateria. Em Huntington o mar esteve flat durante 20 minutos, não foram boas experiências. Acho que foi tudo por pequenos pormenores, em Pantin acho que merecia ter passado o heat e não passei, uma série de coisas mas acho que tinham que acontecer para eu nunca me esquecer da parte do free surf e também dedicar tempo a isso. Este ano não consegui ir à Indonésia como no ano passado, não consegui apanhar nenhum swell grande durante o verão como apanhei no México e Nias no ano passado. Acho que foi um wake up call, eu como surfista tenho que estar nos sítios certos, à hora certa, para produzir e apanhar ondas boas que tenham destaque a nível mundial e não só estar na parte competitiva.
Quais são as próximas provas e os próximos objectivos?
Agora estou aqui pela Europa, quero estar perto das tempestades do Inverno e para o ano quero fazer alguns QS’s, Fernando de Noronha, Krui, as provas de Portugal, do Chile, e vou competir no nacional. E fiquem atentos porque vêm aí mais projectos.
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