O surf feminino em Portugal está claramente no seu melhor momento de sempre, com várias representantes lusas a tirar resultados sólidos a nível internacional. Yolanda Hopkins inicialmente passou despercebida no meio da abundância de talento da sua geração mas continuou a evoluir até receber o destaque que merece. Recentemente, em apenas uma semana, venceu duas etapas importantes, o Miss Activo Cup, que lhe garantiu o título da Liga MEO Surf por antecipação, e o Roxy Open, uma etapa do circuito mundial realizada em Inglaterra, um resultado que a coloca entre uma pequena elite de surfistas portugueses que já venceram fora do nosso país. Fica a conhecer melhor a nova campeã nacional…
Sagraste-te recentemente campeã nacional e da Liga MEO Surf de 2019, como te sentes?
Estou super feliz, o campeonato teve ondas muito boas e estou muito agradecida à organização por ter esperado pelo domingo para fazer a prova em ondas melhores, onde consegui demonstrar o meu surf. Como era uma prova só feminina conseguimos entrar na melhor altura e não tivemos que esperar pelos rapazes, como acontece várias vezes nos outros eventos.
O que significa para ti este título?
É um título muito especial para mim, foi um ano de muitas emoções. Ter disputado com a Teresa (Bonvalot), no ano em que achei que ela evoluiu mais e estávamos sempre uma contra a outra nas finais, foi mesmo muito especial para mim.
Já conseguiste alguns resultados internacionais em provas QS, conta quais se destacam para ti e porquê…
Antes de 2019 já tinha feito 2º lugar na Inglaterra, 3º lugar em Marrocos e 5ºs. Fiquei contente por ter chegado à fase men-on-men, por ter conseguido competir com algumas das melhores do mundo. Mas senti um bocado que esses resultados não foram reconhecidos em Portugal, ninguém sabia sobre esses resultados antes de começar a ganhar na Liga.
E entre as vitórias na Liga MEO Surf, qual (ou quais) achaste mais relevantes no teu percurso?
Acho que foi a do Guincho pois foi a minha primeira vitória na Liga MEO Surf e foi muito especial para mim. Deu-me aquele incentivo para treinar o Inverno todo ainda mais duro, ainda mais forte do que alguma vez tinha feito antes. Outra vitória relevante foi a do Porto, este ano, porque acho que fiz sempre o meu surf e estava a sentir-me confortável e a receber os scores que sempre quero ter em todos os campeonatos.
Conta-nos um pouco da tua história. De que nacionalidade são os teus pais e onde nasceste e cresceste?
A minha mãe nasceu no País de Gales mas veio logo viver para Inglaterra. O meu pai é de arredores de Faro. Eu nasci em Faro e cresci ali em Vilamoura, até aos meus 18 anos. e depois mudei-me para Sines e já estou lá há 3 anos a treinar todos os dias e a surfar melhores ondas do que há no Algarve.
Com que idade e onde começaste a surfar?
Eu comecei a surfar quando tinha 8 anos. Estavam a formar a primeira escola entre Vilamoura e Quarteira e entrei com a minha irmã porque o meu professor de Educação Física sabia que eu gostava muito de desporto e perguntou se queria experimentar. Decidi que sim pois sempre adorei o mar e o surf era um desporto óbvio para experimentar. Fiquei lá uns bons anos, depois mudei para Portimão mas achei que não ia apanhar as ondas que precisava então mudei-me para Sines. Em Sines moro na casa do meu treinador, John Tranter, com a família dele.
Quais são os teus objectivos no surf?
O meu foco principal é conseguir ganhar todos os campeonatos em que eu entro mas o objectivo é ser a primeira campeã mundial de surf portuguesa.
Fala-nos um pouco sobre os patrocínios que tens actualmente e como tem corrido a angariação de mais patrocínios para conseguires cumprir os teus objectivos…
Os meus patrocinadores principais o Pig Dog Surf Camp, que me proporciona o melhor treino que alguma vez encontrei, a Fatum Surfboards, a quem estou muito agradecida pelas condições e pranchas que tenho, tenho a C-Skins Wetsuits, que é uma empresa pequena baseada em Inglaterra mas que me apoia muito bem e fazem o que podem para me dar o melhor material e a possibilidade de entrar em muitos campeonatos, e tenho mais dois patrocínios portugueses que me ajudam também. Mas o que eu preciso é mesmo de um patrocinador principal que me conseguisse dar ajuda financeira para conseguir fazer um “assalto” ao circuito mundial mesmo a sério. Queria ir aos campeonatos da Austrália no início do ano e aos da América do norte e sul e África. São aqueles campeonatos que as pessoas que querem mesmo entrar no tour têm que fazer. Aqui na Europa não temos muitas possibilidades de fazer campeonatos com grandes pontuações, vamos ter agora um de 10.000 mas acaba por ser para as raparigas que já estão no top mundial, é difícil de participar.
Conta como foi a prova de Fistral, sentiste desde o início que podias vencer?
Foi uma prova interessante. No início do primeiro dia soube que só ia competir à tarde e as condições estavam boas logo de manhã mas o swell estava a descer. Eu tive sorte que o meu heat foi numa das melhores alturas e estava ainda a sentir o que senti em Aveiro e consegui entrar logo com um heat bom. No ano passado fiquei feliz e triste ao mesmo tempo por ter obtido o segundo lugar, sabia que podia ter ganho mas o mar ofereceu à (Juliete) Lacome o que não me conseguiu oferecer a mim, não havia muitos sets e ela nos últimos segundos conseguiu me bloquear, usando a prioridade na melhor onda que veio e não consegui os pontos para ganhar. Este ano não queria repetir o segundo então quando cheguei à final eu sabia que queria ir com tudo. Falei com o meu treinador antes e durante o campeonato e tentei resolver problemas que tinha nas rondas anteriores e quando cheguei à final estava apenas a divertir-me. Sabia que as fases finais iam ser lutas difíceis mas, trazendo o surf que eu tenho, estava confiante que ia obter o primeiro lugar.
O que achas que esta vitória pode fazer pela tua carreira?
O que esta vitória me deu foi confiança para continuar a treinar e fazer o meu surf. Espero que tenha dado para mostrar a algum patrocinado que eu tenho potencial para chegar ao Championship Tour, só preciso que alguém me apoie para eu ter a possibilidade de fazer um ataque a sério…
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