A Liga MEO Surf demorou a arrancar em 2020 por razões óbvias mas, quando arrancou, veio cheia de surpresas. Uma delas é um surfista da Ericeira, Henrique “Neco” Pyrrait, que é o actual 4º classificado do ranking ao fim de duas etapas. Filho do mítico José Pyrrait, Neco cresceu em Ribeira D’Ilhas e vive do, e para o, surf. Falámos um pouco com este surfista logo depois do seu 3º lugar na prova da Ericeira…
Neco, acabaste de conseguir dois resultados muito expressivos na Liga MEO Surf, como te sentes?
Sinto-me muito bem e muito feliz por finalmente estar a conseguir mostrar o meu surf em competição! E sinto-me muito motivado para continuar a treinar para que estes resultados comecem a ser algo habitual.
Já corres a Liga há algum tempo mas este ano é que o resultados realmente estão a aparecer. Sentes que é uma evolução natural do teu trabalho ou tens feito alguma coisa de diferente nos últimos tempos?
Acho que é uma mistura da evolução natural do meu trabalho com uma grande mudança de mentalidade da minha parte! Estou a conseguir soltar-me e estou a conseguir divertir-me imenso enquanto estou a competir! Acho que esta paragem me fez bem para organizar a cabeça e para me conhecer um pouco melhor.
Bateste alguns dos nomes mais “míticos” de Ribeira D’Ilhas, como o Tiago Pires e o Tomás Fernandes. Podes “dissecar” um pouco os teus melhores heats?
Foi sem dúvida muito especial vencer a dois surfistas que são sempre considerados favoritos no que toca a campeonatos em Ribeira D’Ilhas! Com o Tomás foi um dos heats mais disputados do round, com algumas ondas boas e com um ambiente muito bom. Mas tenho que admitir que o heat com o Tiago Pires “Saca” foi dos heats mais especiais da minha vida, pois o Saca para mim sempre foi uma inspiração e uma referência. Eu cresci a ver o Saca a surfar, eu chorava de tristeza quando ele perdia e vibrava como poucos quando ele vencia, e além disso ele é um amigo, ele andou comigo ao colo quando era bebé! E quando a carreira de surfista profissional era apenas um sonho eu dizia “um dia vou ganhar ao Saca”, e consegui! Pode não ter sido no auge da sua carreira, mas o Saca é sempre o Saca, então em Ribeira…
Estás com um backside muito forte, sentes que o frontside se equipara?
O meu backside é mais forte do que o meu frontside, sem sombra de dúvida! Mas cada vez me sinto mais confortável e confiante com o meu frontside, e sei que com treino e empenho também posso fazer estragos para a esquerda! Aqui na Ericeira as esquerdas estão em minoria, e as que há estão sempre dependente da maré certa, do swell certo, etc. Mas tenho treinado, e cada treino que passa me sinto mais confiante!
Poucos surfistas cresceram em Ribeira D’Ilhas como tu, podes contar quais são as tuas memórias mais antigas de surf nesse pico, tanto da tua iniciação como do surf competitivo?
As minhas memórias deste pico são tantas que fica muito difícil falar de algum momento em específico! Foi em Ribeira, com o meu pai que tudo começou. Ele na altura tinha a escola de surf no antigo surf camp e para mim sempre foi algo natural estar dentro de água a surfar, a nadar ou a brincar. Passava quase 24 horas do meu dia naquela praia, rodeado de surfistas e de pessoas do meio. Quase que seria estranho não surfar (Ahahah).
Já o meu início na competição foi meio lento, as condições não eram as melhores e nem sempre era fácil conseguir ir aos campeonatos! Aproveitava muito os campeonatos do Ericeira Surf Clube, pois era o mais perto e o mais barato! Até que lá para os 16 anos comecei a empenhar-me mais e a começar a ganhar aquele bichinho pela competição.
Sentes que tens uma forte vantagem competitiva nesse pico ou nem por isso?
Sem dúvida que sim, Ribeira D’Ilhas é uma onda muito técnica e muito difícil de surfar! Por isso quanto mais horas de surf tivermos neste pico, melhor a vamos surfar! E tenho a certeza que não há surfista da Liga com mais horas de Ribeira do que eu!
Fazes parte de uma geração que praticamente trabalha para ter a oportunidade de competir. O que te motiva a investir numa carreira onde cada vez há menos retorno?
É verdade, 98% do que ganho invisto na minha carreira! Tenho um retorno gigante de tudo aquilo que gasto, recebo em felicidade! É o surf que me motiva, é o gosto por este desporto, é o saber que com a experiência , e como surfista profissional consigo mudar e melhorar a vida de muito gente! E sempre me ensinaram a lutar e a seguir os meus sonhos, e é o que faço!
Qual é o teu trabalho no dia a dia e como fazes para conciliar com o teu percurso como surfista?
Eu sou professor de surf, trabalho em Ribeira D’Ilhas! Sou um professor muito orgulhoso dos meus meninos, pois tenho uma relação muito especial com os meus alunos, o que faz com que ame o meu trabalho e que seja tudo muito melhor! Nem sempre é fácil de conciliar, mas há sempre tempo para surfar! Embora o cansaço, e a fadiga por vezes compliquem! Mas por vezes quando surfamos quando podemos e não quando queremos também nos dá uma motivação extra para aproveitarmos melhor o momento!
Tens competido bastante no circuito QS, quais são os teus objectivos aí?
Sinceramente, eu antes da quarentena tinha decidido que em 2020 não ia competir no QS, é uma vida dura e MUITO cara e precisava de um ano de pausa para me organizar e para me preparar! Mas agora que já passamos a primeira metade do ano, estou cheio de saudades de competir no QS!
Mas para 2021, o meu objetivo é surfar bem, mostrar o meu surf nos heats, mostrar que tenho nível para lutar e para passar
Fala um pouco dos teus patrocinadores e o trabalho que desenvolves com eles…
Eu tenho uma grande sorte com todos os meus patrocinadores. Tenho uma relação muito saudável e muito forte com todos. No ano passado entrei para a Oslo, marca portuguesa, com um estilo de roupa muito original e que me identifico muito! Debaixo dos meus pés conto com a POLEN Surfboards, provavelmente as pranchas é dos factores mais importantes na carreira de um surfista! Uma boa prancha pode mudar a nossa vida, e eu e a POLEN temos desenvolvido várias! Temos feito um trabalho muito positivo nos últimos anos, que aproveito já, para agradecer a TODOS os trabalhadores da fábrica pelo trabalho!
Ericeira Surf Clube, Jam Traction, Future Fins, Pizza Mobile, O Pescador, E Nche são as outras marcas que estão ao meu lado! Todas estas marcas e pessoas que estão por detrás são quem me apoiam e são um pilar muito importante na minha carreira!
E nunca esquecendo algumas pessoas fundamentais. A minha mãe, o meu pai, (que é o meu treinador) que estão ao meu lado desde sempre, e sem eles nada seria possível!
O Carlos Andrade e o Ruben Francisco, que são os dois treinadores físicos que mudaram a minha vida física, e que me ajudam muito!
E por último, à minha namorada, que me apoia em todos os momentos, que acorda as 6 da manhã para me filmar, que vê os meus treinos, que vibra com as minhas vitórias como ninguém e que sofre com as minhas derrotas como se fossem as suas!
A todas estas pessoas e mais algumas que não referi mas que sabem quem são, OBRIGADO!
Quem são as tuas referencias (no surf e na vida)?
Tenho várias referências mas a principal é o meu pai! O meu pai é uma grande inspiração para mim! Por mil e uma razões que nem preciso mencionar! E no surf há duas pessoas que se destacam para mim, a primeira é o Tiago Pires, por todas que razões que já mencionei em cima! E por último o Ítalo Ferreira, pelo surfista e pela pessoa que aparenta ser!
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