Os mais desatentos poderão não ter acompanhado a transição de João Guedes de destaque (e ex-campeão) na Liga MEO Surf para Big Wave Rider em ascensão, mas é algo que já se pode considerar uma realidade. Talvez por manter uma forte presença no circuito nacional ou até pelo facto de nem sempre se fazer coberturas muito detalhadas das sessões de ondas grandes, o que é certo é que este surfista do Porto já foi identificado pela sua “bravura” em ondas de consequência e, como tal, recebeu um convite para surfar na etapa do Big Wave Tour da Nazaré, onde irá enfrentar as maiores ondas do mundo juntamente com a elite da modalidade. Fica a saber mais sobre esta nova realidade de um dos mais talentosos surfistas portugueses de todos os tempos…

 

João, quando soubeste que ias receber um wildcard para competir no Nazaré Challenge?
Foi quando recebi um telefonema do Francisco Spínola, que me ligou uns dias antes da apresentação do evento a perguntar se já estava mais recuperado da minha lesão e se estava apto para ir lá descer umas ondas. Como é óbvio, não hesitei, disse logo que sim e sinto-me bastante contente. Tenho dedicado muito tempo às ondas grandes na Nazaré e sinto que isto é um bocadinho o reconhecimento desse trabalho, não podia estar mais contente e agradecido à organização pelo convite.

Quando foi a primeira vez que surfaste na Nazaré?
Acho que foi há muitos anos numa Taça de Portugal. Na altura vi a Nazaré como um beach break normal, pois foi num dia pequeno. Lembro-me que voltei lá depois para outras outras sessões mas a primeira grande sessão que tive foi, se não me engano, em 2008. Fui com o Tó Mané e com o Faustino e apanhámos a Praia do Norte épico. Foi das melhores surfadas que se registaram lá na altura e estavam altas ondas. Esse dia marcou-me e nem eu sabia que aquilo podia dar ondas tão grandes e tão boas. Estavam uns três metros, off-shore e com picos incríveis pela praia toda.

 

Como sentes que tem sido a tua evolução na Praia do Norte ao longo dos anos?
Sem dúvida que é uma praia onde precisamos de perder muito tempo, não é uma onda fácil. O mar ali tem uma força fora do normal, mas com as idas cada vez mais constantes e com o tempo que temos passado lá tenho me habituado melhor àquela onda e a surfar ali, quer nos dias mais pequenos, que nos dias de tow in e de remada.

Qual é o teu objectivo nessa prova?
O objectivo é ganhar um bocado de experiência. Não só é uma experiência totalmente nova como também nunca competi neste tipo de condições. Este tipo de competições são um bocadinho diferentes do que estou habituado a fazer, assisti aos dois campeonatos anteriores na Praia do Norte e também sigo as provas do mundial de ondas grandes, portanto vou tentar me basear um bocadinho naquilo que aprendi a ver os outros a fazer. Mas, de momento, o meu objectivo é só ganhar experiência, estar presente, e ver como alguns dos melhores se comportam naquelas condições, como reagem, como competem, e tentar chegar o mais longe possível.

Continuas com uma presença muito forte na Liga MEO Surf. Sentes que a tua evolução em ondas grandes complementa-se com o que tens de fazer para te manter competitivo em ondas pequenas?
No fundo o circuito nacional foi algo que teve sempre presente na minha vida e na minha carreira como surfista. A competição em ondas pequenas, em ondas “normais” de surf, é algo que ainda faz parte do meu ano e dos meus projectos. Acho que não se relaciona muito uma coisa com a outra, são dois estilos diferentes. Talvez a Liga MEO e o surf de ondas mais pequenas continuem a deixar o “bicho competitivo” e aquela vontade de competir e de ganhar e talvez isso possa ajudar a passar para a competições nas ondas grandes, quem sabe, mas são dois tipos de competições muito diferentes.

O surf explosivo de João Guedes continua a ser destaque na Liga MEO Surf. Photo by Pedro Mestre / ANS

Até onde vês a tua carreira nas ondas grandes chegar?
Não sei, a minha carreira nas ondas grandes está a começar, realmente já são alguns anos de dedicação a surfar ondas maiores, mas nunca com um intuito profissional. Há alguns anos que vou para a Galiza surfar slabs quando estou ali no Porto pois é mais próximo. É uma coisa que gosto muito de fazer no tow in, mais até que surfar ondas grandes é surfar slabs. Mas obviamente que é um “bicho” que fica sempre dentro de nós e quando vem um swell grande é difícil de deixar passar e no fundo foi isso que me foi fazendo estar nas ondas grandes. O remar para uma onda grande, o estar dentro de água em dias de mar grande, sentir aquele frio na barriga e tudo isso realmente foi o que me fez andar nisto das ondas grandes. Agora, de repente, vejo-me a receber um wildcard para uma etapa do Big Wave Tour, é algo inesperado e que realmente deixa-me a pensar. Agora, carreira… não sei, eu hei de continuar a fazer aquilo que gosto e a dedicar-me cada vez mais às ondas grandes.

Como está o teu quiver para ondas grandes?
Como já ando há alguns anos a surfar ondas maiores e a dedicar-me a isto, fui construindo um bocadinho o quiver. Tenho boas pranchas de tow in, tanto para ondas maiores como as da Nazaré, como para slabs e tenho boas pranchas de remada, todas elas feitas na Polen. Aproveitei o facto de irem lá alguns dos melhores shapers do mundo, como o (Jon) Pyzel e o Timmy Patterson, e fui encomendando pranchas ao longo de tempo para ter um bom quiver.

João Guedes e a família Polen em modo Big Waves.

Qual é a tua opinião do tow in VS apanhar as onda a braços?
Eu acho que são duas modalidades diferentes, o tow in e o apanhar a braços. Acho que o tow in deve ser aplicado quando não é possível apanhar uma onda a remar. Isto depende um bocadinho dos limites de cada um mas sempre respeitando a vontade dos outros. Muitas vezes estamos a fazer tow in em ondas gigantes e estão lá uns malucos a tentar apanhar as ondas a remar, que é algo que temos que respeitar. Acho que o “core” do surf de ondas grandes é sempre, sem dúvida, o surf na remada mas, obviamente, a partir de um certo ponto já não dá para apanhar ondas a remar. Acho que aí, sim, o tow in entra para continuarmos a divertir e a usufruir daquilo que a natureza nos dá. Em relação aos slabs é a mesma coisa, há certas ondas em que não conseguimos apanhar as ondas a remar e aí também recorremos ao tow in para conseguir apanhar os maiores tubos.

Para terminar, é uma motivação acrescida estar a fazer mais uma estreia pelo Norte do país?
Confesso que é sempre uma motivação acrescida o facto de estar a fazer mais uma estreia pelo Norte do país. Era algo que sempre me motivava quando era mais novo e era dos únicos do Porto que vinha às competições. Fartei-me de fazer viagens sozinho mas sabia que tinha uma cidade inteira a apoiar-me e uma data de gente que me apoiava todos os dias e isso sempre me motivou imenso. Realmente é um orgulho poder mais uma vez estar a levar o Norte do país a patamares mais altos.

Comentários

Um comentário a “João Guedes fala sobre o wildcard para o Nazaré Challenge e mais… | Entrevista”

  1. Fan diz:

    Vai jooooaooo!!!