Apesar da sua postura humilde, Timmy Patterson é claramente um dos melhores shapers do mundo. Ao longo da sua carreira este californiano, que muitos na área dão a alcunha de “o guru”, fez pranchas para muitos dos melhores surfistas do planeta e agora tem agora um sério candidato ao título mundial da WSL a usar em exclusivo os seus designs, Ítalo Ferreira. A ONFIRE aproveitou a recente deslocação deste shaper à Polen para saber mais sobre as pranchas do único surfista que venceu três etapas do Championship Tour em 2018…

Quando foi a primeira vez que ouviu falar do Ítalo Ferreira?
A relação com o Ítalo começou com o Pinga, o seu manager, com quem tenho uma ligação há muito tempo. É uma pessoa que percebe muito de pranchas e já nos tinha trazido o Adriano de Souza, algo que foi muito positivo. Depois trouxe-nos o Ítalo, que era muito novo, talvez 14 anos, mas começava a dar-se bem nas provas de juniores. A primeira vez que o vi surfar ao vivo foi em Huntington Beach e o surf que estava a fazer estava muito à frente do de qualquer surfista da sua idade na Califórnia e não só. Os aéreos gigantes que aterrava com aquela base engraçada mostravam um estilo único de surf. Ao mesmo tempo era um power surfer, o seu backside era matador e a velocidade com que ele surfava era incrível.

Como eram as pranchas que ele usava no início?
Eu acho que ele começou a usar o modelo do Adriano de Souza e eventualmente passou para o do Pat O’Connell, que se encaixava bem no seu estilo. Depois vinha à Califórnia e fazia-lhe mais algumas pranchas mais específicas.

Quando passou de desconhecido para um nome bem referenciado no meio competitivo?
Ele teve uma performance incrível num QS aqui no Guincho, se não me engano em 2015 e logo a seguir a isso cruzei-me com Dino Andino (ex-top do CT, pai de Kolohe, treinador, e insider da indústria), que me perguntou quem ele era pois ele era o melhor na água nessa prova. Ele tinha-o visto a fazer coisas incríveis, até o Kolohe e o John John tinham ficado impressionados. Nesse ano qualificou-se para o CT, o Dino previu isso logo aí, mais cedo no ano. Nessa época as pessoas não conheciam o surf dele e duvidavam de como se ia dar em Teahupoo e Cloudbreak, mas logo no primeiro ano no tour mostrou que era um surfista completo.

Este ano em Keramas, quando venceu o seu segundo de três CTs, fez uma onda na final que foi fora de série, com um aéreo reverse de backside seguido de duas pauladas incríveis sem quebrar a linha para receber uma nota 10. O que uma prancha precisa para acompanhar esse tipo de performance?
A prancha era uma 5’9” bastante simples, tinha um pouco de rocker extra, e nose entry rocker, não na ponta do nose, uma polegada atrás. Pequenos detalhes como esse e outros fazem com que a prancha, quando aterra, não prenda.

 

Qual é o modelo de prancha que ele usa?
É um modelo que é muito popular agora nos EUA, que é a prancha com que ele ganhou em Keramas e em Peniche, o IT – 15. Eu tenho feito esse modelo para muitos dos juniores na Califórnia e eles dizem, “é isto, não quero outra coisa”. Estamos a fazer este modelo desde 4’8” a 6’8”! Temos para surfistas a partir dos 9 anos aos 50+, é estranho ter este “range”, é usado por surfistas dos 30 aos 100 quilos.

Quem testa as pranchas?
O Ítalo, ele é viciado em surf, acorda cedo, é o primeiro na água e o último a sair. Ele usa qualquer prancha mas quando apanha uma que gosta mais que as outras é incrível. O Almir (Salazar) fez uma prancha para ele aqui com um template que tinha estado a trabalhar que ele adorou, usou no campeonato e, claro, venceu.

Timmy e a prancha vencedora do MEO Rip Curl Pro Portugal…

São poucos os surfistas de topo que usam uma marca de pranchas em exclusivo durante muito tempo. O que tem esta ligação de tão especial para contrariar a tendência?
Eu e o manager do Ítalo já tivemos uma longa conversa sobre esse tema e chegámos à conclusão que ele está no caminho certo e é algo que se deve manter. Os surfistas mais bem sucedidos, como Kelly Slater, Parko, Fanning, eles mantêm-se com o que conhecem e constroem relações duradouras. É aí que o surfista se pode destacar, sabe o que tem e pode usar isso em sua vantagem. O Ítalo ganhou três eventos este ano. E há uma ligação pessoal, ele é o tipo de pessoa com quem me identifico, como ser humano ele é incrível. Está a divertir-se no seu percurso, isso é muito importante para mim, que ele se divirta no tour, que faça o público feliz. É o tipo de pessoa com quem eu gosto de trabalhar, como eram o Timmy Reyes e o Pat O’Connell, estavam a divertir-se. Quando eu trabalho com uma pessoa muito séria nós não criamos a mesma ligação. Eu tenho no Ítalo um surfista muito tranquilo mas muito trabalhador e tem o estilo de surf e de vida que eu gosto. Ele mistura-se com as pessoas. Este ano, depois de ganhar em Bells Beach, voltou para casa mas antes fez escala em Los Angeles, onde ficaria várias horas à espera do próximo avião. Durante esse tempo ele alugou um carro e guiou (mais de uma hora e meia) até à minha fábrica com a taça do campeonato para que eu e as pessoas que lá trabalham tocassem o sino! Quem mais no tour faria isso?

Não é a primeira vez que tem um team rider na vanguarda do surf performance. Como foi trabalhar com o aérealista original, Christian Fletcher?
Sim, trabalhei muito com ele e o Matt Archbold, que também usava as minhas pranchas. O Matt estava a fazer (no fim dos anos 80 e início dos 90) quase o que estão a fazer hoje! O Christian era mais aqueles aéreos altos, mais “flat”. Nós vivíamos numa comunidade onde se fazia muito surf, muito bmx e muito skate e ele queria skatar nas ondas, queria surfar como andava de skate. O Matt era só surf, grandes carves e grandes airs, está a ser muito bom trabalhar novamente com ele. Com o Fletcher sempre fiz pranchas para ele ao longo dos anos, on and off. Era divertido, ele é completamente diferente de todos os outros, out of the box. Vejam o que as pessoas estão a fazer nas ondas! Foi o que ele começou, ele e o Matt. Um aérealista e um power surfer que fazia aéreos e era competitivo mas na altura não sabiam como julgar os seus aéreos.

 

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