Apesar de não ser um nome tão familiar para as novas gerações como devia, Bob McTavish é um dos grandes responsáveis pelo tipo de pranchas que todos utilizamos actualmente. Foi ele que, nos anos 60, juntamente com o seu amigo George Greenough, deu um enorme contributo para a que seria chamada de “shortboard revolution”. Esse movimento, em que os surfistas deixaram de usar “troncos” e passaram para pranchas mais pequenas, mudou para sempre a maneira como as ondas passaram a ser aproveitadas. O seu contributo não ficou por aí e a sua marca de pranchas, a McTavish Surfboards, surgiu em 1962 e continua forte até aos dias de hoje. Apesar de surfar há 62, este simpático australiano nunca tinha estado no nosso país e aproveitou uma apresentação da Pukas, empresa que representa a McTavish Surfboards para a Europa, para nos visitar. Foi nessa ocasião que a ONFIRE conseguiu falar um pouco com esta lenda do surf e fazer-lhe algumas perguntas…

Bob, é a sua primeira vez em Portugal, o que tem achado?
É um país magnífico. É óbvio para mim que Portugal vai ser a capital do surf na Europa.

Que ideia tinha do nosso país antes de vir?
Vários amigos já me tinham dito que é maravilhoso, todos os australianos que vinham diziam que tinha que ir a Portugal. Eu perguntava porquê e eles diziam que a estrada passava por dezenas de ondas boas, a comida é apanhada no oceano e o vinho vinha das colinas. Por isso a comida e vinho são perfeitos juntos e o que mais um surfista podia pedir (risos)?

 

O que finalmente o trouxe ao nosso país?
A marca McTavish Surfboards. Fazemos 2.000 pranchas por ano e eu e o meu filho fazemos os shapes todos. Cerca de 300 deles eu faço na Pukas, para onde eu viajo todos os anos e onde estou por duas ou três semanas, e o resto mando da Austrália. A Pukas está com novos distribuidores (NR: a empresa Despomar) e eu quis conhecê-los e sentir um pouco o país, ver o oceano, experimentar a comida e vinho.

Andando um pouco para trás, para a “shotboard revolution” dos anos 60 e 70, qual foi o seu papel nesse movimento?
Primeiro de tudo houve uma pessoa chamada George Greenough, um kneeboarder da Califórnia que veio ter comigo e os meus amigos à Austrália em 1964. Quando o vi surfar ele estava a desenhar linhas que se equiparavam ao surf moderno dos dias de hoje, grandes cutbacks roundhouse, acelerações rápidas do bottom e manobras no lip. Na altura surfávamos todos de longboard, andávamos para trás e para a frente para ganhar velocidade, íamos direito a direito pelas secções e tentávamos voltar à parede, um surf bidimensional apenas, e em ondas grandes apenas íamos a direito. O George surfava a três dimensões, fazia manobras verticais no seu kneeboard, quando o vi surfar disse que um dia ia fazer isso de pé na prancha.

Qual foi o passo seguinte?
Na altura fiz uma prancha 5 pés para mim mas a mudança era muito grande, foi muito frustrante pois era um era um passo grande demais, passar de 9 pés para isso. Até que em 1967 dissemos, ok, vamos tentar novamente. Começámos por tirar 6 polegadas a partir do nose, 6 polegadas a partir do tail, e no fim do ano tínhamos passado de 9 pés / 9’6” para 7´6”, o que fez uma grande diferença na época. E começamos a fazer vee bottom no fundo…

Consta que o Bob também inventou o vee bottom!
O George Greenough sugeriu isso também, ele era pescador e já conhecia os vee bottoms dos barcos, que ajudava na manobrabilidade. Em Janeiro de 68 aconteceu algo ainda mais importante, eu levei o vee bottom para o Havai e foi um desastre. Derrapava em Sunset Beach, algo que sabia que ia acontecer, por isso nesse ano, em casa do George, eu shapeei uma 7’11” com 20” de largura com pouco rocker, um vee muito leve e rails redondos e surfei Rincon, na Califórnia durante 6 semanas nesta prancha incrível. O George no kneeboard dele e eu na minha prancha éramos os únicos que faziam as secções todas de seguida. Mais ninguém o conseguia pois aqueles “troncos” não aceleravam a partir do tail e não passavam as secções mais rápidas. Isso para mim isso foi o início do shortboard.

Os surfistas nessa época estavam à procura desta evolução ou mantinham-se fieis ao surf mais tradicional?
O meu grupo de amigos, com quem surfava, era go go go (a favor da evolução). Antes disso seguíamos o que se fazia na Califórnia e aí tivemos de abandonar essa visão pois eles continuavam com os “troncos”. Nós fizemos o nosso caminho, eu, o George, Nat Young, Ted Spencer e mais alguns. O nosso “gang” puxava pela evolução e a partir daí, 68/69 as pranchas começaram a ficar cada vez mais pequenas. No fim desse ano tínhamos pranchas bastante evoluídas, mas ainda single fin. No ano seguinte já eram twin fins e 10 anos depois vieram as thrusters.

Na sua opinião que surfistas, ao longo da sua carreira, influenciaram a evolução do shape?
Antes dos anos 60 foi o Phill Edwards, que era o master of flow, gracioso e elegante. Depois o Nat Young mostrou o que podia ser feito numa prancha, como carves em Sunset Beach. Seguiu-se provavelmente Tom Curren, que trabalhou com o Al Merick e acho que os dois aperfeiçoaram muito as shortboards, as pranchas estavam perfeitas em 98/99!

 

Disse que fazia 2.000 pranchas por ano. É o que o mercado exige neste momento das McTavish?
Já tivemos uma dimensão maior, a nossa empresa vendia 5.000 pranchas por ano há cerca de 10 anos. Entretanto fizemos um “downsizing” para garantir a qualidade e decidimos instituir uma política de todas as pranchas serem shapeadas por mim ou pelo meu filho, não temos back shaper. O que fazemos preenche bem o propósito da nossa empresa, vendemos as pranchas todas sem dificuldade. É possível expandir novamente, nos próximos 5 anos, mas por agora, como estamos posicionados no mercado global, está perfeito.

Para terminar, quais são os modelos McTavish mais procurados e que especificações têm?
O “Fireball Evo” é o longboard mais procurado e tem um “motor” muito forte na parte de trás, rocker no tail para permitir drops em ondas mais levantadas, e é muito estável para andar nele e surfar no nose. É uma prancha amigável que a guardas por 20 anos e está sempre ali para ti. Temos também outro óptimo longboard, o “Noosa ’66”, que é a prancha que Nat Young usou para vencer o título mundial em 1966. É uma prancha boa para andar e fazer noserides em ondas pequenas. Nas “mid-lengths” temos a “Rincon”, que eu desenhei em 1968 e é muito popular. É uma prancha que está disponível entre de 7’2” a 8” pés, tem pouco rocker e é uma single fin muito elegante. Depois temos os modelos “Tracker” e “Bluebird”, que foram desenvolvidos entre o fim dos anos 70 e início dos 80, e o meu filho tem uma “frota” de coisas boas. Tem uma twin fin chamada “Vinnie” que tem um tail bastante estreito, não te obriga a movimentar o pé de rail para rail, tem muita área, é muito rápida e acelera muito bem. Tem a “Butterball”, que é uma quad 5’4” que tem nose e tail muito largos e faz tudo, até aéreos em secções rápidas. Finalmente tem também a “Diamond Sea”, que vai de 5´5” a 6’5”, é uma single fin com muita área e pelo modo que o rocker e rails estão colocados faz dela a single fin mais rápida que eu já vi.

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