A transição como competidor de júnior para sénior é uma das fases mais difíceis da carreira de qualquer surfista em ascensão, mas alguns parecem “sair” já prontos para atacar esse desafio. É o caso de Guilherme Ribeiro, que fechou esse ciclo recentemente com a “chave de ouro” e mostrou-se mais que pronto para fazer frente aos “big boys” dos circuitos mais importantes. A ONFIRE falou um pouco com este talento da Costa da Caparica para saber mais sobre o seu percurso até aqui e os seus objetivos para o futuro…

 

Guilherme, apesar de estar a ser um ano com menos competições tens estado em grande destaque. Como passaste a época do confinamento e como foi o teu treino para te preparares para os eventos que estavam pela frente?
A época do confinamento foi muito complicada, não só para mim, mas também para toda a comunidade do surf. Foi um período em que quase não se fez surf e o treino fora de água passou a ser o meu dia a dia. Desta forma, assim que deram luz verde para a pratica do surf sentia-me muito bem fisicamente e o meu treino para os eventos que estavam pela frente acabou por ser feito dentro de água, a trabalhar alguns aspetos técnicos que não estavam no “pé”.

Quem é a tua equipa?
Neste momento estou a trabalhar com o meu Pai e o Manuel Gameiro que juntamente com o meu grupo de treino (José Champalimaud, João Vidal, Teresa Bonvalot, Gabriel Ribeiro, Martim Ferreira, Lourenço Gomes, Rodrigo Lebre e Diogo Horta) me ajudam diariamente na minha evolução.
Já fora de água, treino no Caparica Performance com o Hugo Falcão e o Gonçalo Arneiro. E tenho algumas sessões de psicologia com o Zé Seabra.

És um dos surfistas da tua geração mais dedicados e mais bem sucedidos nos estudos. Sentiste alguma pressão para dar mais prioridade ao surf?
Durante estes 12 anos de escola, o surf sempre foi uma segunda prioridade. Os meus pais sempre me deram a entender que a escola era a prioridade, uma vez que nunca se sabe o dia de amanhã. Assim, visto que durante estes anos me “portei bem” na escola, os meus pais deram-me a oportunidade de me dedicar as 100% ao surf nos próximos anos.

 

 

Sabemos que congelaste a tua matricula na faculdade, quais são os teus objectivos para os próximos anos e, caso voltes aos estudos, qual será o teu curso e profissão a seguir?
Nos meus próximos anos vou ter a oportunidade de fazer algo que nunca consegui fazer, vou dedicar todo o meu tempo ao surf e tentar alcançar o sonho de entrar no WCT. O facto de ter entrado na FCT em Matemática Aplicada à Gestão do Risco dá-me um grande conforto para iniciar esta longa e dura caminhada, pois sei que tenho um Plano B muito forte.

Como era a tua relação de tempo para surfar/estudos e outras prioridades e como ficará agora a tua rotina?
Sendo a escola a prioridade, é óbvio que houve muitos dias sem treinar e muitos dias de altas ondas sem conseguir surfar, mas tive a sorte de durante todos estes anos estudar Colégio Guadalupe que me ajudaram imenso a conciliar os estudos com o surf. Mas agora que o meu dia a dia vai andar à volta do surf e do ginásio, olho para trás e vejo que todos surfes perdidos vão ser agora compensados e que a dedicação que tive na escola valeu a pena!

Como estás de patrocínios nesta fase em que cada vez há menos apoio aos surfistas?
É verdade, cada vez são mais os surfistas de topo que não têm patrocínios, e o Covid-19 veio complicar ainda mais as coisas. Quanto a mim, posso dizer que já renovei contratos com alguns dos meus patrocinadores para 2021, mas em tempos como este qualquer ajuda é bem vinda!

Sabemos que tens o mesmo patrocínio de pranchas desde o início, algo raro na actualidade. Fala-nos da ligação com o Nuno Matta…
É o facto de ser tão raro que torna esta relação tão especial. Tive a minha primeira prancha feita pelo Nuno aos 9 anos e pouco tempo depois ele integrou-me no seu team. Por isso são quase 10 anos com este patrocínio que acredita muito em mim e que me ajudou a concretizar os meu objetivos!

 

 

Como é a tua postura perante a competição, é um desafio de que gostas ou preferias ser free surfer?
Desde miúdo que prefiro a competição ao free surf. Adoro o nervosinho antes dos heats, a pressão, competir com os melhores… é uma série de coisas que só existem quando se está a competir e é por isso que quero fazer da competição a minha carreira.

Quem são as tuas inspirações no surf?
As minhas inspeções são o meu grupo de treino, os meus amigos, o meu pai, o meu irmão…são todos eles que me ajudam e me dão pica para ir surfar todos os dias!

A Caparica tem um longo historial de grandes surfistas, sentes alguma pressão para continuar a elevar esse legado?
Não chamaria de pressão, mas sim uma grande responsabilidade, pois para onde quer que eu vá, não estou somente a representar o meu pais…estou também a representar o lugar onde treino e surfo todos os dias. Viva a Costa!

A fase júnior da tua carreira chegou ao fim recentemente, cumpriste todos os objectivos que tinhas definido?
Penso que sim, os títulos de Campeão Nacional, as representações do meu país em campeonatos da Europa e da ISA, e agora à pouco tempo consegui finalmente demonstrar o meu surf no Pro Júnior Europeu… são uma série de conquistas que me dão uma enorme confiança para os futuros campeonatos.

 

(Guilherme Ribeiro em 2018…)

Comentários

Os comentários estão fechados.