Depois de uma longa viagem e de um “passeio” pelas ruas de Los Angeles às duas da manhã para alugar um carro (como podes relembrar aqui), João Kopke, Pedro Boonman e Filipe Jervis acordaram passado duas horas para surfarem Trestles pela primeira vez…
Quer dizer, não acordaram, levantaram-se das camas pois a excitação era tanta que dormir tá quieto! Se houve um momento em que quase se dormiu, Boonman fez questão de acabar com ele ao levantar-se e olhar pela janela para ver se ainda era noite, ao mesmo tempo que olhava para as suas pranchas novas, e acordava todos com a luz do seu telemóvel e apitos de mensagens a cada minuto!
Não sabíamos ao certo onde e como ir para Trestles, apenas sabíamos que tínhamos de andar bastante e passar por uma linha de comboio para chegar a um dos mais perfeitos triângulos aquáticos do mundo! Foi nesse momento que tivemos de interagir com os californianos de San Clemente, e foi aí que percebemos que a má experiência de Los Angeles no que a simpatia diz respeito ficou mesmo para trás.
É impressionante a diferença de simpatia das pessoas aqui e em Portugal. Não houve um único surfista que não nos cumprimentasse com um sorriso na cara! E não só os surfistas, as pessoas passam por ti e cumprimenta-te com um sorriso na cara! E o mesmo se passa ainda no line-up de Trestles onde nos receberam sempre com curiosidade em saber de onde éramos. Se a maioria dos surfistas portugueses tivesse metade da educação e boa vontade em receber e partilhar dos de Trestles, o ambiente na água seria o oposto do que é no nosso país onde infelizmente reina a cara de mau, a indisposição e a mania de “o pico é meu”! A noção de respeito pelas ondas, e por tudo o que estas envolvem, é inacreditável e o mesmo acontece nas estradas, restaurantes ou supermercados, onde as pessoas te recebem de sorriso largo e prontas a ajudar!
Se a recepção por parte dos californianos deixou-nos rendidos, o mesmo não podemos dizer da Lower Trestles. Depois da longa caminhada, chegámos a um pico que em nada parecia o famoso line-up e onde, com maré muito cheia, estava apenas um longboard. Kopke e Boonman já tinham estado em Trestles e juravam a pés juntos que só poderia ser ali, enquanto Jervis procurava o triângulo perfeito que todos nós temos gravado na cabeça sempre que ouvimos as palavras Lower Trestles. O mar estava com um metrinho e algum onshore provavelmente ainda proveniente da chuvada que nessa noite caiu, e quando o longboarder saiu da água e nos cumprimentou, confirmámos com ele que era ali Trestles. Uma maré muito cheia e uma direccção de swell pouco favorável escondiam a perfeição que nos trouxe à California.
Mas era a primeira surfada e era obrigatório soltar os músculos da longa viagem e começar a experimentar as pranchas novas em folha (Boonman e Jervis trouxeram quatro e Kopke três). Ao fim de meia hora a maré vazou um pouco mais e já algumas ondas começavam a querer fazer-nos lembrar que estávamos em Trestles. Essa surfada, acreditem ou não, durou três horas e apenas mais dois surfistas estiveram presentes!
Depois foi tempo de voltar a fazer a caminhada para ir comer rapidamente para voltar novamente a fazer a longa caminhada para a segunda sessão! E que sessão!!!! Com a maré já a encher e com vento totalmente zero, o estranho pico que supostamente era Trestles mas que parecia tudo menos isso durante a manhã deixou-nos incrédulos para a sessão da tarde! O triângulo perfeito para a direita e esquerda com as típicas rochas do inside rebentava e, acreditem ou não, apenas com cinco na água! Foi um daqueles fins de tarde mágicos e onde Jervis, Boonman e Kopke começaram a encaixar o seu surf na perfeição americana.
Deste fim de tarde até ao dia de hoje, ou seja, quatro dias depois, Trestles tem funcionado todos os dias! Tirando Domingo, o crowd não está nem perto de serem os 50 gajos que imaginávamos a batalhar pelas ondas e, não menos importante, a simpatia e o respeito continuam estejam dois ou quinze. Parece que os californianos, pelo menos desta zona, “perceberam” uma “regra básica”: as ondas não são de ninguém e se comunicarem dentro de água todos fazem mais ondas. Sendo um pico triângular poderiam haver vários desentendimentos mas nada como um “left or right?” para o surfista que está com prioridade para arrancares na onda para o lado oposto do dele.
Fizemos ainda uma investida a Oceanside – localizado a 20 minutos para sul – numa manhã em que a maré estava muito cheia para Trestles mas chegámos para ver um onshore descomunal. Decidimos por isso voltar para trás e ir 40 minutos para norte para surfar Salt Creek (um beachbreak). Chegámos e não havia vento mas as ondas não estavam nada de especial por isso decidimos voltar para Trestles! Quando chegámos a maré já estava no ponto e a perfeição começou!
Entre o meio metrinho e o metro, Trestles tem recebido Jervis, Boonman e Kopke da melhor forma – apesar de ainda não termos visto um daqueles sweis dignos de um WCT -, e a cada sessão estes têm mostrado o que uma ondas destas pode fazer ao surf de cada um. Já com as pranchas experimentadas, cada um deles já descobriu quais as mágicas e o seu nível de surf tem sido motivo de gigantescos elogios pelos locais!
Num dos dias ainda tivemos a visita de José Ferreira e que deverá ficar uns três ou quatro dias connosco mais perto do final da nossa estadia.
Ao final de cada dia de surf, nada como voltar para casa para tomar um banho enquanto os imagens do dia descarregam para, depois de lavadinhos, abrirmos uma Corona gelada e analisarmos calmamente as filmagens do dia! Depois desta “sessão”, começa o reinado na cozinha do chef Boonman enquanto Kokpke coloca a mesa onde todos nos sentamos para saborear uma comida caseira e relembramos o que de melhor aconteceu nesse dia!
E, muito resumidamente, é assim que temos passado dias de sonho nos EUA onde ficaremos pelo menos durante mais uma semana.
Não te esqueças de ir acompanhando as crónicas americanas aqui no site da ONFIRE pois na próxima, além do surf que apanharemos, iremos contar-vos algumas dos momentos mais marcantes pela positiva e negativa até agora…
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