Tiago Pires é um ícone do surf português, um nome que independentemente do que outros atletas façam no futuro, será sempre lembrado por todas as barreiras que quebrou no plano internacional, numa época em que o surf português não tinha qualquer expressão fora das nossas fronteiras. O seu percurso abriu o caminho para que outros sigam as suas pegadas e continuem a elevar o surf português, algo que é bem visível actualmente tanto no circuito QS como CT. Apesar de estar reformado da competição, Saca mantém-se activo na indústria, actuando em diversas áreas de negócio relacionadas com este desporto. Já em modo “quarentena”, Tiago falou virtualmente com a ONFIRE para fazer um apanhado dos últimos anos e da actualidade.

 

Já lá vão uns bons anos desde que largaste a competição, sentes falta?
Sim, às vezes sinto falta. Sou uma pessoa extremamente competitiva, competi em vários desportos antes de começar a competir em surf, o que aconteceu por volta dos 13 anos. Neste momento, com 40 anos, estou mais ou menos há cinco anos sem competir. Não diria mesmo cinco porque fiz umas provas da Liga, mas uns bons 3, 4 anos, tirando o Capítulo Perfeito. Acaba por haver sempre algum campeonato pelo meio porque realmente o “bichinho” mora cá, mas sim, sinto falta às vezes de competir mas também de estar ao meu melhor nível. É mais por aí. Aquilo de que sinto que realmente falta, e que hoje em dia não tenho, é de estar a 100% enquanto surfista, coisa que vivi durante muitos anos, mesmo com lesões. Neste momento da minha vida o panorama mudou um bocadinho, portanto é mais disso que sinto falta, de estar em forma, estar ao meu melhor, sentir aquelas sensações quando fazes aquelas manobras e aqueles tubos profundos, e também o simples facto de poder arriscar numa onda à vontade, sem que a tua consciência pese.

Depois de tantos anos, on the road, como foi a adaptação a uma vida mais caseira?
A adaptação foi fácil porque, quando parei de competir, estava mentalmente exausto. E também foi na altura em que tive o meu primeiro filho, portanto conciliaram-se ali alguns eventos importantes que junto com o cansaço que tinha mentalmente do stress de estar no tour, acabou por ser mais fácil do que eu pensava. Como também me envolvi naquele projecto do documentário, que durou mais do que um ano e fiquei bastante ocupado. Fiz algumas viagens a competir nos QSs para filmar para o documentário, portanto acabou por ser uma adaptação fácil. A adaptação da vida de atleta para a vida de empresário, ou de empreendedor, é que é um pouco diferente, um pouco mais difícil.

Podes falar um pouco sobre esse teu percurso profissional depois do tour?
Eu tenho a Tiago Pires Surf School aberta desde 2011, um projecto que o meu irmão Ricardo levou a cabo com algum envolvimento da minha parte. Mas na altura competia e estava a viajar no tour e não podia estar presente tanto quanto hoje em dia. Há 2 anos o meu irmão saiu de cena e deixou-me o projecto nas mãos, e esse é um projecto que lidero. Este ano consegui arranjar uma equipa bastante boa e penso que a escola vai dar um grande salto qualitativo. Além disso em 2017 envolvi-me em projectos start up, com o intuito de trazer e representar marcas do mundo do surf para o nosso país. Aconteceu quase organicamente com a MF Surfboards, as pranchas de espuma do Mick Fanning, um pouco devido à minha relação com ele. E depois acabei por me envolver num projecto start up, que é a Atlantic West, que representa outras marcas. Embora eu não tenha nenhum trabalho executivo estou com eles no projecto. E também de uma maneira orgânica, que foi um bocado pela maneira que sempre agi na vida, seguindo muitos os meus instintos, comecei a ajudar atletas. O projecto REACT começou com o Vasco Ribeiro, embora hoje que em dia já não trabalhemos juntos. Foi uma coisa que eu sempre senti que teria capacidade e vontade de o fazer no final da minha carreira. Já passaram alguns atletas pela REACT, como a Teresa Bonvalot e mais recentemente o Santiago (Graça) e o Jácome (Correia). A REACT basicamente assenta-se em dois pilares, que são os atletas e a gestão das suas carreiras, com todo o conhecimento que tenho, e todas as ferramentas que desenvolvi durante a minha carreira, e a parte de eventos, que acaba por ser o que no fundo dá muito mais trabalho. É preciso formar equipas, porque acabam por ser eventos que, não sendo enormes, são eventos que ainda dão trabalho e é preciso fazê-los com bastante profissionalismo. É uma coisa que eu sempre tento dar aos meus projectos, é o cunho do profissionalismo, fazer as coisas muito bem feitas. Há pouco tempo envolvi-me com dois elementos bastante experientes e entusiastas, que são os irmãos Stilwell, que organizam a Surf Out Portugal, e decidimos juntar forças entre a REACT e a Good Swell. Neste momento estamos a trabalhar juntos, somos uma agência só, embora que os nomes tenham se mantido. E pronto, acho que temos aqui uma equipa bastante completa, para levarmos a cabo este projecto de agenciar quer atletas, quer a realização de eventos.

Como é o teu dia a dia actualmente?
O meu dia divide-se entre levar o meu filho à escola de manhã e depois tentar fazer uma sessão ou de ginásio ou ir ao mar. Depois um almoço e à tarde costumo de estar a trabalhar em projectos ou em casa, no escritório, na escola de surf aqui na Ericeira. A meio da tarde, se precisar, vou buscar o meu filho à escola, depois passo um pouco de tempo com ele a brincar e chega aquela hora fulcral dos banhos e dos jantares mais cedo, que as crianças precisam. A dinâmica muda um pouco quando tens filhos em casa, eles passam a ser a prioridade na tua vida, e tentas te adaptar da melhor maneira para que consigas ter a tua vida mas também corresponder com eles. São dias que passam muito rápido.

Em que lugar nas tuas prioridades está o surf?
Eu ainda continuo a sentir-me um surfista profissional até porque o meu contrato com a Quiksilver só acaba este ano, no final de 2020, e mesmo sem ter a obrigação de competir sinto-me na obrigação de representar bem a marca e representar bem o atleta que sou e que fui. Por isso o surf sempre teve algum peso, e continua a ter, na minha vida. Eu diria que o surf está sempre ali ou no número um ou no número dois, se bem que, hoje em dia tem estado mais no número dois também devido à lesão que contraí no joelho, em 2018. Tu abrandas um pouco, focaste muito na recuperação portanto esqueces o surf durante vários meses. Durante esse tempo aproveitei para trabalhar noutros projectos, nomeadamente os eventos que fiz, a maior aula de surf do mundo e também a REACT. São coisas que, parecendo pequenas ainda, dão bastante trabalho no dia a dia e o surf acaba por sofrer um pouco. Eu vou gerindo a coisa da melhor maneira possível, ainda que uma coisa não faça mal à outra, e vice-versa.

O que são as tuas funções hoje em dia como team rider da Quiksilver?
O contrato que assinei em 2011 continua em vigor mas hoje em dia o meu papel é mais como embaixador. Já era suposto, quando assinei o contrato, que na segunda metade ou o último terço do contrato eu ingressasse mais no papel de embaixador do surf português, enquanto atleta Quiksilver, enquanto representante da marca e é isso que acontece hoje em dia. Tenho uma relação muito próxima com a Quiksilver e também temos a Boardriders com o meu nome. Sinto-me um privilegiado, sinto que tive alguma sorte em ter convivido com pessoas como o Pierre Agnes, que tinha um mind set muito bem apurado, tinha uma visão do surf e da economia e da indústria muito limpa, muito correcta a meu ver. Esses são os meus valores, seguir um pouco aquilo que foi a ideologia de um Pierre Agnes, que criou a Boardriders, as lojas bandeira da marca Quiksilver, que hoje em dia acaba por ser a Billabong também e todas as marcas do grupo. Continuo com uma ligação bastante forte à marca, apesar deste ser o meu último ano de contrato acho que dificilmente trocarei de marca outra vez.

Sentes alguma pressão de manter um nível de surf elevado mesmo já não tendo o surf como principal prioridade?
Como disse há pouco, sinto alguma pressão, eu ponho-a em mim próprio, talvez por ter estado tantos anos no topo da pirâmide e ser um pouco o líder deste país. Não consegui fazer um “desmame” total daquilo que representei enquanto atleta. E apesar de hoje em dia termos grandes atletas e de termos surfistas capazes de levar a bandeira, de uma certa forma continuo a rever-me ainda como um embaixador do surf português. É claro que é de uma maneira um pouco diferente, não tanto na parte competitiva e de performance, mas mais a extrapolar um bocadinho o mundo do surf, levar o surf a outros lugares, a outros sítios do país, trabalhar no desenvolvimento do desporto, mas saindo fora do nosso universo. São coisas que me dão bastante vontade e que me sinto quase na pele de um elemento que acaba por ser preponderante, quase que uma obrigação, primeiro por ter aberto as portas ao surf profissional, e neste momento devido ao bom momento que o surf atravessa no nosso país, com muitos eventos e cada vez mais pessoas a praticar, eu acho que temos aqui realmente um país que sempre teve este potencial de ser uma grande potência do surf mundial. Lentamente tem vindo a acordar para isso, sinto-me talvez a pessoa que pode dinamizar e catalisar mais esse boom do surf. Para responder à pergunta, sinto-me na obrigação, sinto alguma pressão em mim próprio, ou seja, pressiono-me a mim próprio para estar ao melhor nível, de estar bem, a representar bem aquilo que sou enquanto atleta, mas não é uma coisa que me tire horas de sono.

O surf profissional mudou muito recentemente, principalmente no que toca aos patrocínios dos surfistas. Consideras que houve um downsizing e, se houve, qual é a tua opinião sobre o tema?
Sim, penso que são épocas estranhas. Da mesma maneira que o mercado tem crescido, tem decrescido um pouco o investimento das marcas em atletas, especialmente das três grandes marcas e até se calhar se inclui mais uma ou duas. Eu penso que é devido ao facto das marcas não facturarem tanto hoje como há 10 ou se calhar 15 anos atrás, onde tinham muito menos concorrência onde o mercado era mais pacifico, não havia tanto marketing digital, tanto comércio digital. E com isto, com esta facilidade em gerar e promover negócio, apareceram muitas marcas e muitas pequenas marcas que acabam por “roubar” um pouco do nicho do surf, e naturalmente as grandes marcas sofreram um pouco nos últimos anos. Também penso que elas começaram a separar cada vez mais o que é um contender, um surfista que pode ser campeão do mundo e realmente investir muito nesse tipo surfista e desinvestiram naqueles que estavam um bocado abaixo para apostar nos juniores, nos próximos futuros campeões. É uma gestão diferente dos orçamentos, e sim, acho que houve algum downsizing, e continua a haver. E agora, depois desta crise, estou com algum receio daquilo que poderá ser o investimento de marcas em patrocínios de atletas, ninguém sabe bem o que isto pode gerar mas o facto é que já antes desta pandemia nos últimos dois ou três anos as marcas começaram a cortar nos orçamentos dos surfistas. É o momento que estamos a atravessar mas os surfistas também conseguem ir buscar mais dinheiro a pequenas activações nas redes sociais, que há uns anos não conseguiam. É uma maneira diferente de viver, de gerar dinheiro, de fazer negócio e as principais marcas têm sofrido realmente com esta “azafama” de marcas que hoje em dia há.

Que surfistas portugueses vês neste momento com potencial de chegar ao Championship Tour?
Tirando o Vasco, que é um caso que está na eminência de conseguir a qualificação, penso que temos uma nova geração que ainda está a maturar mas que ainda vai precisar de mais alguns anos. São surfistas que têm entre os 10 e os 16 anos, uma geração que eu penso que vai ter alguns potenciais surfistas no tour. Há muito talento e começa a haver exemplos mais explícitos como é o caso do Kikas, como é o meu caso, começa a haver mais caminhos traçados, coisa que começa pouco a pouco a ser mais atingível e mais normal. Eu penso que estes novos atletas já vão olhar para o tour de uma maneira um bocadinho diferente da maneira como eu olhei, como o Kikas olhou e como o vasco olha. Eles têm muitos eventos em casa, é quase normal estarem rodeado destes surfistas. Portugal atravessa um muito bom momento, há muito talento, há muito surfista a virem para cá para treinar, para beneficiar um bocadinho das condições que temos. Estes surfistas novos que têm alguns anos pela frente, e têm muito talento vão usar isso tudo para seu beneficio. Eu penso que essa geração, diria de um Afonso Antunes para baixo, um João Mendonça, um Santiago Graça, são muitos miúdos. É claro que estar a falar de miúdos de 14 anos e de 12 anos é bastante difícil, eles ainda vão ter que passar muitas provas, quer na vida pessoal, quer na vida enquanto atletas, e pronto, sem querer pôr pressão nestes miúdos, eu penso que realmente há alguma margem para termos atletas no CT, mais do que um mas é preciso muito trabalho, muita calma, muita consistência na vida, e um acreditar que seja constante, sem qualquer arrogância mas um saber que aquilo é uma coisa que vai acontecer.

O que falta para apareceram mais surfistas com potencial de lá chegar?
Eu acho que neste momento temos dois exemplos muito visíveis à nossa frente que exemplificam bem a realidade. Eu acho que temos um Kikas que tem uma cabeça de campeão, formatada para competir, mesmo talvez não sendo o surfista mais talentoso que temos em Portugal tem feito resultados muito grandes, muito expressivos, fez uma final no CT portanto ele é um atleta muito completo. E temos um Vasco, que é um atleta super talentoso, que toda a gente gosta de ver surfar quando está no seu melhor, é um surfista que tem um nível de surf de top mundial mas que depois não consegue adquirir uma consistência na sua vida e na sua cabeça para vingar num mundo onde temos de tudo. Temos desde surfistas super consistentes e talentosos, a surfistas menos consistentes e mais talentosos, num QS há de tudo em alguma quantidade e se nós não somos consistentes e não conseguimos trazer o nosso melhor jogo grande parte do ano, ou diria todo o ano, é muito difícil uma pessoa se qualificar. Falando agora dos miúdos, acho que é investir ao máximo na carreira deles, pôr a cabeça para baixo e trabalhar, com humildade, sabendo que hoje em dia temos de tudo para chegar ao CT mas que precisamos andar a seguir a caravana do circuito, ou dos pro juniores. Onde andam os melhores atletas é onde eles têm que lá andar, nem sempre é fácil ter budget para isso mas sempre que possível fazer viagens estratégicas para estar rodeado dos melhores surfistas e em casa serem humildes e trabalharem, surfarem qualquer tipo de mar sem qualquer problema. Tentarem juntar-se aos melhores surfistas mesmo em casa e tentarem trabalhar também a cabeça deles para uma vida de vitórias e derrotas, que nem sempre é fácil. Um campeão é uma pessoa que sabe muito bem lidar com as derrotas, porque elas vêm, elas vão estar sempre a vir, vão estar sempre ao virar da esquina. E esta vida de atleta, mesmo que curta ainda são muitos campeonatos por ano, muitos heats, é preciso ter uma cabeça muito bem trabalhada e muito bem preparada.

Quais são as principais diferenças que vês entre os surfistas das novas gerações e os da tua?
Eu penso que o mindset mudou completamente, o chip mudou. O surfista da minha geração achava que ter uma carreira de sucesso era fazer uns bons campeonatos na Europa, eu fui o primeiro que quis sair desta mentalidade, tirar a “tampa” de cima e ir lá para fora. E hoje em dia os miúdos já se comparam com os melhores do mundo, é uma comparação banal, também as redes sociais aproximam toda a gente e é cada vez mais natural que isso aconteça. Os miúdos hoje em dia começam a surfar muito mais cedo, muitos já são filhos de pais surfistas, que é um privilégio, também adorava ter tido um pai que me levava para o surf e que surfava, mas é mais uma coisa natural que já acontecia na austrália, e na América, Brasil, Havai, há muitos anos e o surfista de hoje em dia tende a ser mais completo, cada vez mais cedo. Ele sabe que precisa de ser bom em aéreos, ser bom em todo o tipo de manobras e surfar todo o tipo de ondas senão não chega lá. Na nossa geração nós não nos preocupávamos muito com isso, só queríamos passar uns heats e pronto, a teto era muito mais baixo. Com isto acho que os miúdos hoje em dia têm muito mais competição à volta deles. Têm que estar sempre a provar, sempre a inovar, sempre em cima das redes sociais e acaba por ser uma vida um bocado mais exigente que a nossa. Nós esperávamos que as revistas saíssem nas bancas para irmos ler o que se estava a passar, esperávamos por ver um programa de televisão que passava de 15 em 15 dias a falar de surf, e pronto, era isto, era uma vida se calhar mais calma, onde se calhar dávamos mais valor às pequenas coisas. Ficávamos a olhar para uma imagem durante 5 ou 10 minutos, e revíamos essa imagem várias vezes. Hoje em dia passamos pelas imagens mais incríveis de sempre com o nosso polegar, e nem sequer cinco segundos paramos para olhar. A vida tornou-se mais exigente, há mais tipos de carreiras diferentes, há os influencers, os bloggers, os free surfers, os surfistas de ondas grandes. Há muito mais no “menu” que só o surfista profissional, é uma vida mais exigente e acho que os miúdos estão mais preparados para isso naturalmente.

No ano passado fizeste um heritage heat com o Taj Burrow em Ribeira. Achas que terás outras oportunidades de uma “revanche” e que outro surfista gostarias de enfrentar num heats desses, e onde?
Aceitei o convite de Ocean Events para durante a prova de Ribeira D’Ilhas, contra o Taj, um heritage heat. Foi bastante engraçado apesar de ter levado uma combinação. Estávamos a brincar antes de competirmos e fui fazer uma pesquisa e a última vez que tínhamos competido tinha sido no meu último ano no tour, que por acaso fiz um campeonato bom no Tahiti e também lhe tinha dado uma combinação daquelas pesadas no terceiro round. Ele na brincadeira disse-me que me ia pagar de volta e acabou por fazê-lo. A verdade é que foi um heat engraçado, trouxe muita gente à praia. Gerou muita expectativa e acabou por descomprimir um bocadinho o ambiente do campeonato pois trouxe dois atletas que acabam por ser referências. Eu por estar a surfar em casa, o Taj por ser vice-campeão do mundo várias vezes e um ícone do surf mundial. Foi um momento bastante interessante, bastante giro, uma competição muito saudável mas acabei um pouco chateado por ter perdido. Eu gostava de fazer este tipo de coisas porque não me roubam tempo e são bons momentos de confraternização, de reviver um pouco aquilo que fizemos. Quem gostaria de defrontar? Adorava voltar a Jeffreys Bay, apesar de nunca ter tido um grande resultado lá, nunca fui além do 9º. Sinto que é uma onda que sei surfar muito bem, e que é realmente o estilo de onda que se molda muito bem a mim enquanto surfista. Enfrentar alguém como o Joel Parkinson seria muito interessante, ou um Mick Fanning em Bells Beach. Há muita coisa aí para fazer e é giro as marcas e os eventos hoje em dia também abrirem o leque de activações e acontecimentos mesmo em campeonatos. Acho que temos um desporto e um estilo de vida incrível, com muitas histórias de sucesso que acabaram por fazer com que as pessoas sonhassem muito. Os surfistas foram ícones, foram pessoas que representaram muito para muita gente e é interessante poder rever memórias, tentar que a chama fique acesa, é quase uma forma didáctica de levar a vida. É o que hoje em dia a WSL está a fazer, abrir o vault, abrir o baú, começa a mostrar campeonatos do passado que foram incríveis, acho que os eventos podem fazer a mesma coisa, de uma maneira gira, e que traga mais atenção e credibilidade ao evento.

Para terminar, como tens estado a passar o teu tempo agora que estamos em quarentena?
Tem sido muito desafiante. Tenho uma filha que nasceu agora em Dezembro e por um lado até é engraçado ter que passar tempo em casa com ela, porque se não estivéssemos nesta situação eu estaria muito ocupado e teria que sair de casa bastante. Por outro lado, com o outro filho de 4 anos, acaba por ser bastante pesado porque continuamos a tentar que ele tenha objectivos na escola, que tenha trabalhos para fazer e estamos a acompanhá-lo quase como se fossemos professores. Depois tentamos ainda fazer algumas coisas a titulo profissional e há a dinâmica de casa, estamos a cozinhar muito mais, a limpar muito mais. Apesar de estar na Ericeira e de ter um jardim e ter algum ar livre para respirar, o que é bastante bom, o facto de olhar para o mar e não poder ir para a água tem sido bastante difícil. Tento motivar-me com alguns treinos físicos e ser o mais organizado possível para que a gestão de casa consiga fluir um pouco e a gente não fique completamente maluco, mas tem sido bastante desafiante. Está a mudar um bocadinho o paradigma das coisas, estávamos muito habituados a sair de casa e agora somos obrigados a ficar dentro de casa, como se vivêssemos todos num Big Brother, temos que fazer tudo em casa. Estamos na terceira semana já, acho óptimo podermos continuar a trabalhar, por pouco que seja e por mais devagar que seja, acho óptimo até para a saúde mental nos mantermos activos e nos reinventarmos e começarmos a fazer outras coisas, sei lá. Cursos online, estou a pensar já em fazer uma horta aqui biológica, no meu terreno, há muita coisa para fazer, é preciso é estarmos receptivos a elas, portanto espero que isto passe rapidamente e que possamos voltar à água e que possamos voltar à nossa vida normal.

 

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