Como já é bem sabido, Alex Botelho sofreu um acidente grave durante a prova de tow in da WSL na Nazaré e ainda há pouca informação fidedigna sobre o seu estado. Sabe-se sim, que esteve em estado crítico e, ao que parece, está a recuperar. Não há muita informação sobre a gravidade das suas lesões nem sobre a recuperação mas espera-se que seja rápida e a 100%.
Alex actualmente é conhecido pelo seu surf em ondas grandes mas o seu percurso como surfista profissional começou quando era muito novo. Apesar de hoje em dia ser difícil de o imaginar sem o surf, Botelho tinha tudo para não ter sido surfista!
Filho de pai algarvio e mãe Holandesa das Caraíbas, Alex nasceu no interior do Canadá e o conceito de praia era algo que, até aos 5 anos, estava guardado na sua memória como algo que existia no país do seu pai. Até que a família decidiu voltar às origens do lado paterno, estabelecendo-se em Lagos. O seu primeiro contacto com as ondas foi por volta dos 9 anos, enquanto praticava vela no Clube Naval de Lagos. Essa foi a sua primeira paixão e a sensação de liberdade proveniente desse desporto fez com que dedicasse praticamente todo o seu foco à modalidade. Para sua grande frustração nem sempre dava para sair de barco devido às ondulações de sueste, o que o aborrecia bastante. Eventualmente descobriu a sua primeira prancha e começou a aproveitar as ondas das praias mais próximas para se entreter até passar a ondulação. Não durou muito até ao dia em que o “bichinho” pelas ondas superou o gosto pela vela e Alex deixou o Clube Naval para se integrar numa das mais dinâmicas escolas de surf do país, a escola de Sérgio Wu. Sérgio, um surfista de longa data, foi um dos pioneiros no treino de surf do país, e na época já tinha trabalhado com grandes campeões como Marlon Lipke, Gony Zubizarreta e outros nomes fortes da sua geração.
Botelho começou pelo bodyboard e batalhou contra a transição para o surf mas nessa escola era o que se praticava e teve que mudar. A partir daí sua evolução foi rápida, mostrando-se muito à vontade no mar graças às bases da vela. Aos 11 anos já era visível o seu potencial e teve o primeiro patrocínio, de uma marca que ainda estava a dar os primeiros passos no nosso país mas que já tinha fortes ligações com o Algarve e Sérgio. O representante da Volcom em Portugal, Hélder Ferreira, tinha uma estratégia muito bem definida no que tocava a patrocinados já que a Volcom, tanto a nível nacional como internacional ainda estava a “engrenar”. Havia um patrocinado em cada zona do país, Norte e Centro, mas no Sul a aposta foi feito no futuro, ficando com dois “groms” muito prometedores. Alex e Miguel Mouzinho, com 11 e 13 anos, eram as grandes apostas e acabariam por fazer longas carreiras na marca.
Começaram também os campeonatos, e o team algarvio marcava sempre forte presença em todo o tipo de provas, com destaque para os campeonatos de esperanças e Pro-Junior. Botelho fez um percurso que se pode considerar bastante sólido na arena competitiva, surfando regularmente com surfistas como Frederico Morais e Nicolau Von Rupp e conseguindo os títulos de vice-campeão nas categorias de sub12 e sub14. A meio desse percurso, por volta dos 14 anos, Botelho cresceu muito fisicamente e apesar do seu surf ter acompanhado, largou os circuitos competitivos aos 17 anos. Na altura uma carreira no surf ainda era só um sonho e o algarvio inscreveu-se na faculdade das Belas Artes, em Lisboa, com intenções de garantir o seu futuro pela via académica. Mas antes de se atirar de cabeça aos estudos fez uma viagem que acabaria por mudar o seu destino. Alex começou por Bali e seguiu para os Mentawai onde ganhou ficou com o “bichinho” para continuar a viajar, seguindo depois para a Austrália, onde passou o resto da temporada.
Pouco depois de ter regressado a Portugal começou a faculdade e passou o primeiro semestre sem grandes dificuldades. Botelho cumpriu a sua parte, mas tinha ficado a vontade de viajar e de fazer mais alguma coisa no surf, acabando por abandonar o curso com o intuito de talvez recomeçar mais tarde. Um bom contributo para o seu “ fundo de viagem” era o seu patrocinador que já contribuía com “investimento financeiro” desde os 15 anos. Inicialmente o valor era usado para entrar em competições mas não havia qualquer estipulação de como teria de ser gasto e, para dar continuidade a esta relação, que já começava a ganhar expressão, o algarvio apostou em cumprir a sua parte com retorno mediático. Com um orçamento que inicialmente não dava para grandes aventuras, Alex durante alguns anos trabalhou durante o verão para viajar no Inverno. O seu próximo grande destino foi a Califórnia onde deu mais um grande passo na evolução da sua carreira quando enfrentou uma onda que poucos surfistas europeus tinha tido a oportunidade e atitude de desafiar, um pico de ondas grandes chamado Mavericks.
“Quando fui à Califórnia a primeira vez nunca tinha surfado ondas grandes mas Mavericks era uma coisa que estava na minha cabeça. Não levava pranchas grandes mas quando chegámos a essa parte da costa ficámos com uma amiga que vivia lá com o namorado que surfava em Mavericks e levou-nos.”
Foi a primeira vez que surfou ondas grandes, tinha 18 anos, mas foi quando passou na Califórnia pela terceira vez que aconteceu o seu break thru moment. Depois de mais algumas sessões em “Mav’s” Alex já não era o miúdo que passou lá e surfou uma vez e sim um surfista reconhecido em ondas de consequência. E se a sua imagem em Portugal já estava muito forte, a nível internacional também ganhou muita notoriedade, passando a ser patrocinado pela “casa” Internacional da Volcom. Apesar do sucesso em ondas grandes, o seu surf continuava a destacar-se em todo o tipo de surf, atacando ondas pequenas com a mesma atitude e abusando com manobras new school e grandes carves de rail. Isso permitiu que a sua carreira ganhasse uma nova dimensão já que estava em vias de receber um telefonema que o iria elevar a outro patamar. A sua reputação como charger chamou a atenção de um fotografo de surf pouco conhecido, mas que tinha um “tesouro” na mão à espera de ser desenterrado. Alex tinha acabado de chegar da Madeira quando foi contactado por Al Mckinnon, que o desafiou para arrancar numa viagem para as Caraíbas logo no dia seguinte.
“Ele ligou-me e perguntou se estava disponível para arrancar no dia seguinte para um sítio um bocadinho inóspito algures nas Caraíbas. Aceitei, claro. Não fui o primeiro a surfar lá mas a ilha precisava de ondulação de uma direcção muito especial e esta era a maior desde 1960! A onda era num areal extenso e recto e por detrás tinha tipo uma lagoa que juntava com o mar e faz uma ponta. Quando o swell entrava começa a ficar perpendicular ao areal, e é aí que a onda começa a correr e faz essa direita. Quando chegamos lá, num avião pequeno, sobrevoamos mesmo por cima do pico, e vimos logo as ondas a correr, foi uma sorte. No dia seguinte fomos para lá logo de manhã e tivemos 4 dias de ondas a bombar e outros dias flat. Até hoje foi a onda mais impressionante que já surfei.”
As imagens que saíram da viagem foram como algo que nunca se tinha visto. A cor da água, a perfeição das ondas, o elemento inóspito e claro, o surfista que fez tudo encaixar, foi uma combinação que transformou a viagem numa das mais mediáticas de sempre de um surfista português. Capas em várias revistas e várias dezenas de páginas de conteúdo editorial acrescentaram ainda mais ao seu estatuto de free surfer. Seguiram-se outras viagens, com e sem Al, e aproveitando o embalo da sua nova notoriedade Botelho começou a trabalhar a sua imagem através da plataforma mais procurada na actualidade, o vídeo! Qualquer bom surfista pode fazer um vídeo de surf mas Alex acrescentou a criatividade que se tornaria a sua marca registada na série #noedit.
À medida que a sua imagem foi crescendo, outros patrocínios foram surgindo mas a Volcom, 18 anos depois da contratação inicial, manteve-se sempre como o principal. Nos anos seguintes Alex focou-se no surf de ondas grandes, qualificando-se para o Big Wave Tour da WSL em 2018 e marcando presença em finais em provas no género no México, Nazaré e Espanha. Nas sessões da Praia do Norte, Botelho tem estado em grande destaque e quando o circuito acabou foi convidado para participar no Nazaré Big Wave Tow Surfing Challenge presented by Jogos Santa Casa, onde acabou por se lesionar.
A ele e sua família ficam os nossos desejos de uma rápida e total recuperação…
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