Foi no passado dia 28 de Janeiro que João Kopke deslumbrou as mais de 100 pessoas que se juntaram para ajudar os refugiados através de um concerto humanitário, “Singing for Peace”.

 Foi por volta das 22h da noite que João Kopke, que todos conhecemos por ser um dos melhores surfistas nacionais e por produzir vários conteúdos diferenciadores, acompanhado da sua mãe, entrou no magnífico salão de uma casa particular em Caxias, gentilmente doado por Joana Gaspar para o evento, e onde mais de 100 pessoas se encontravam para ouvir ao vivo os dotes musicais da família Kopke.

“Prefiro sempre ficar resguardada da multidão até ao último momento…“, confessava-nos a professora de piano do Conservatório Nacional em Lisboa, mãe dos Kopkes e com múltiplos concertos dados, mas que mesmo assim não escondia algum nervosismo. Talvez actuar com os seus filhos seja sempre razão para algum nervosismo extra, ou talvez a causa humanitária desta noite ajudasse a algumas passas um pouco mais fortes no cigarro que segurava enquanto observava o seu filho a falar descontraidamente ao telemóvel a um minuto do início.

No salão, Maria, irmã de João, também ela dotada de uma estrondosa voz, representava os artistas, falando calmamente com os presentes e respondendo às várias questões que iam surgindo.

Com o bater das 10 badaladas, Maria Kopke, acompanhada pela mãe ao piano, deixou todos com pele de galinha. Conhecíamos os seus dotes musicais por alguns vídeos seus nas redes sociais mas podemos dizer-vos que estão muito longe de fazer justiça à sua incrível voz. A razão: por muito avançados que os telemóveis sejam hoje em dia, os seus microfones são ainda pré-históricos, principalmente quando têm de captar peças de autores como Puccini, Donizzeti, Verdi, Bizet e Mozart.

A noite prosseguiu com a família Kopke a hipnotizar todos os presentes, que apenas saíam do transe para aplaudir sempre que uma peça terminava. A noite passou a correr, e quem não esteve presente nunca saberá o que perdeu.

O sucesso do concerto foi garantido mas, mais importante, o grande objectivo da noite, a angariação de fundos para os refugiados, foi um sucesso ainda maior. Foi por esta noite mágica e pela sua causa nobre que decidimos fazer uma pequena entrevista a João Kopke.

João, conta-nos como surgiu a ideia do “Singind For Peace” (S4P)? A ideia surgiu a partir da percepção de que partilhar vídeos no Facebook não estava a chegar para que a minha irmã e eu nos sentíssemos bem connosco próprios. Há cerca de 6 meses atrás, o nosso social media passou a ser montra para todo o tipo de imagens e vídeos de pessoas que fugiam da guerra, da fome, do sofrimento e eram barradas ou recebidas em condições precárias às portas da Europa. Eu e a minha irmã tentámos informar-nos sobre como ajudar mas as opções eram limitadas. Passado um tempo, a nossa amiga Joana Gaspar perguntou à minha irmã se ela não queria envolver-se nesta causa e parece que todas as peças se juntaram.

22

João e Maria Kopke não poderiam estar mais felizes no final da noite!

Que músicas foram interpretadas no “S4P”? Foram cantadas peças de Puccini, Mozart, Leoncavalo, Verdi… Entre outros. Tanto áreas de ópera como canções napolitanas e, claro, para terminar, ainda gritámos todos em conjunto o “Sole Mio” (NR: o público não desapontou e foi o fechar perfeito de uma noite de sonho).

Em resposta ao desafio que lançaste através das redes sociais e media core de surf e alguns generalistas, o espaço do S4P ficou cheio. A proporção das doações foi a mesma? Foi maior! Ainda estão a chegar coisas e já fizemos uma viagem ao Centro de Acolhimento para Refugiados em Portugal. Teremos que fazer outra. Quem quiser doar pode ainda falar comigo através da minha página do Facebook ou do meu Instagram (@joaokopke)! Quanto mais pudermos ajudar, melhor.


“Das contribuições monetárias é a criação da app “Time Peace” que permite a troca de serviços entre cidadãos europeus e pessoas refugiadas na Europa. Acho que é um conceito inovador (…)”


Consideras então que os objetivos do “S4P” foram cumpridos? Com certeza que sim. Claro que a diferença que fizemos não vai resolver o problema. Um problema que é um grande problema. Ainda assim, acho que vamos ajudar muita gente. Mas o grande objetivo desta iniciativa não era, somente, esse: é fácil ficar indiferente. Num mundo tão informado como é o nosso, recebemos tantas notícias sobre o sofrimento alheio que é difícil não cair na tentação de dizer “não posso ir a todas” e acabar não indo a nenhuma. Não fazer nada. E era disso que queríamos fugir. Principalmente para mostrar que não são precisos mais recursos para ajudar do que aqueles que, em princípio, todos nós temos. Usámos as nossas vozes, as nossas casas, os nossos carros. E poderiam ter sido outros, todos nós temos alguma coisa para dar, só é preciso vontade. Acho que o grande objetivo era provar que todos somos capazes de ajudar e que, se cada um de nós ajudar, o mundo vai ser mais feliz para todos. E foi isso que fizemos.

Qual o destino final das doações? O destino final das doações materiais é o Centro de Acolhimento para Refugiados em Portugal, como disse. Das contribuições monetárias é a criação da app “Time Peace” que permite a troca de serviços entre cidadãos europeus e pessoas refugiadas na Europa. Acho que é um conceito inovador, que vai permitir a aproximação das pessoas e a maximização das qualidades que trazem para cá e que pode contribuir para melhorar a vida de todos.


“Ainda assim, esperava uma resposta mais impressionante do meio do surf, sinceramente.”


Agora que se passaram três dias desta iniciativa como sentes que foi o feedback do core do surf? E do meio generalista? Todos me felicitaram, muita gente mandou mensagens e teve atenção ao evento. A (pequena) estratégia de divulgação nos meios de surf e fora do surf teve sucesso porque enchemos a sala e tivemos doações de gente que não esteve presente no evento mas soube que podia contribuir por outros meios. Ainda assim, esperava uma resposta mais impressionante do meio do surf, sinceramente. Abanaram-se muitas árvores para a quantidade de laranjas que caíram. É normal que assim seja, todos temos muita coisa para fazer, mas acho que era um dia especial em que tínhamos oportunidade para fazer a diferença (e não é todos os dias que isso acontece) e, apesar de termos sido já muitos, podíamos ter sido ainda mais.

Surf e música são as tuas duas grandes paixões. Dá-te mais prazer ganhar um título nacional ou cantar com este objectivo concreto? Acho que são prazeres muito diferentes: Um é um prazer pessoal, um objetivo egoísta (no bom sentido). O outro é para os outros. Não sei qual prefiro, espero poder conciliá-los :). Mas, falando do S4P, devo dizer que me abriu o apetite para oferecer o que tenho para ajudar outras pessoas. Já me contactaram, posteriormente ao evento, para realizar outras iniciativas como esta e, embora tenha uma agenda ocupada, vou fazer os possíveis para ser mais e melhor por quem precisa, de agora em diante.

O que se segue para o Kopke músico? E para o Kopke surfista? Acho que o objectivo, falando mais da floresta e não tanto de cada uma das árvores, é fazer com que essa pergunta tenha cada vez menos sentido. Claro que a música e o surf terão sempre caminhos distintos, mas quero que a estrada principal seja a mesma para essas duas paixões que tenho. Fazer uma música sobre os caminhos por onde a prancha de surf me leva, deixar um pouquinho de sal no concerto de Koussevitzky para contrabaixo… São duas formas de arte que têm um elo de ligação muito forte, e eu quero contar essa história.

11

 

Comentários

Os comentários estão fechados.