Há vários anos que andava a chatear o Nicolau para me levar à Irlanda, tínhamos tido a nossa primeira experiência lá em 2011 e foi altamente frustrante. Na altura viajei para a Irlanda com o Nicolau, o Tomás Valente, o Alex Botelho e o João Guedes, tudo o que conseguimos foi meio metro on-shore.
Decidi nessa altura que um dia me vingaria.
Em fevereiro de 2019 o Nicolau liga-me, arrancaríamos daí a 2 dias para o swell do ano em Mullagmore, a rainha das ondas grandes na Irlanda e talvez na Europa. Logística tratada e arrancámos com o Rafael Tapia e o Tim Bonython em direcção a Dublin. A nossa recepção foi acompanhada por chuva, vento e frio… que mais se poderia pedir? 🙂
Carro alugado e mais 4 horas de condução até Sligo onde eu e o Nicolau ficaríamos a pernoitar, em casa de Barry (até aqui parecia tudo bem). Cházinho de boas vindas, um ótimo jantar feito pelo Barry e quando chegou a hora de dormirmos… percebemos que não havia um aquecedor no quarto, aliás só entrar no quarto já nos gelava os ossinhos todos do corpo… Restou-nos dormir no chão da sala ao pé da salamandra (que se iria apagar durante a curta noite) com a companhia do cão do Barry que nos ia aquecendo alternadamente os pés.
5 horas da matina e uma noite mal dormida e estávamos prontos para sair de casa, no lusco fusco matinal conseguíamos ver uns sets monstruosos a entrar o dia ia prometer. Eles preparados para 7/8 horas de surf, levavam barras energéticas, sopa e comida nas motas de água para não terem de vir a terra, em terra eu contentava-me com frutos secos, fruta, barras energéticas, botas e calças de neve, casacão com capuz, gorro e luvas… yep! Não é fácil aquela terra.
A maré não estava ainda boa para surfar na remada então o tow-in dominou a sessão, até o primeiro a remar chegar ao pico, aí as motas encostaram e foi ver o espetáculo desta turma em ondas enormes, pesadas e tubulares. Fotografar na Irlanda ou sentir este ambiente de big riders, pouco tem a ver com a Nazaré, cá fora o ambiente é calmo, vê-se muito pouca gente e mesmo no sitio onde as motas arrancam há um espírito de irmandade e entreajuda incrível. No final da sessão está tudo na conversa com uma grande disposição, não senti grandes rivalidades e fomos muito bem tratados por toda a comunidade das ondas grandes.
O Nic apanhou umas bombas valentes, como não podia deixar de ser, mas ali é tudo homens de barba rija que sabem o que estão a fazer, pareceu-me que não há espaço para curiosos que gostam de brincar às ondas grandes. O local mais conhecido, ou mediático, é o Connor Mcguire, um homem pequeno com uma coragem enorme e uma técnica perfeita naquelas ondas, O Rafael da Tapia apanhou a bomba do dia mas de tow-in, um tubo incrível que achei que ele nem ia sair, mas saiu.
Mas o momento alto do dia foi sem dúvida, e pela negativa, uma bomba que John Monahan apanha em tow in, a onda era enorme e pesada e o lip cai-lhe mesmo em cima da perna. Cá fora não percebia bem o que se passava, mas dava para haver que houve salvamento e fuga rápida para o porto de abrigo. Mais tarde soubemos que tinha partido o Fémur e ia ser operado de emergência. Esta situação deixou o ambiente meio estranho, mas felizmente correu tudo bem e provavelmente já está de volta ao lineup.
Surf feito, missão cumprida, e aí vamos ao pub beber umas guiness e comer um bom bife! era altura de voltar a Dublin pois tínhamos avião às 7h da manhã. O tempo estava ainda pior que quando chegámos, uma chuvada teimava em não parar e não me apetecia muito meter-me no carro do Tapia durante 4 horas sob uma tempestade, não é que ele conduzisse mal, mas depois de uma surfada daquelas, com volante à direita e debaixo de chuva intensa às 2h da manhã, não me pareceu sensato embarcar naquela aventura, onde eu e o Nicolau dividíamos um lugar na parte de trás do carro (os outros dois lugares eram ocupados pela mala do telemóvel. Decisão rápida e comprámos um bilhete de Autocarro. Foram 5 horas a dormir o que deu para recuperar energia, principalmente para o Nicolau, que depois de aterrar na portela seguiu directo para a Nazaré.
Quem disse que a vida de um “swell chaser” era fácil? eu não fui:)
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