Chefe de júris da Liga MOCHE, Pedro Barbosa, fala sobre o campeonato de vídeo online Jervis and Vagabonds?
Júri há mais de 15 anos, Pedro Barbosa tem incontáveis horas a ver heats em Portugal e no estrangeiro! Barbosa é o chefe de júris do mais importante circuito português, a Liga MOCHE, e foi um óbvio convidado para o júri de Jervis and Vagabonds, que se juntou assim a mais quatro (Alexandre Grilo, um elemento da Ericeira Surf & Skate, um elemento da ONFIRE e o público).
Quisemos saber como é julgar um heat virtual comparado com um heat real na praia, mas quisemos saber muito mais sobre o homem que atribui pontos à performance dos surfistas nas ondas…
Pedro, como te envolveste no mundo do julgamento de surf?
Eu fazia surf desde os meus treze anos e gostava muito de ver filmes e revistas de surf. Sempre gostei muito de avaliar a técnica, estilo e a forma como os surfistas surfam, e havia um amigo meu, Artur Ferreira, que já era juiz e me aconselhou a tirar o curso de juízes. Quando tinha aproximadamente 20 anos julguei a minha 1º prova de referência. Foi a final do circuito nacional em Carcavelos (em 1998), com ondas de 2 metros, clássico. O Saca ganhou e tinha 16 anos, já se vislumbrava uma promissora carreira.
Quais os campeonatos que já julgaste?
No passado WCT’s, WQS de 6 estrelas, provas por seleções, etc. Neste momento faço apenas provas nacionais e por seleções quando convocado e se estiver disponível.
Como é lidar com os surfistas que se sentem injustiçados?
O sentimento de injustiça é legitimo e tenho imenso respeito por isso, contudo e falando pelo julgamento em Portugal podem ter a certeza que procuramos sempre a justiça dos resultados e que ganhe o melhor surfista. A pior coisa que nos pode acontecer é sentirmos que um resultado pode não estar correcto. Quando finalizamos uma prova vemos os vídeos nos diferentes sites de referência para termos a certeza que tudo correu bem e sou a favor de que um dia possamos recorrer a tecnologia para corrigir erros que possam ter acontecido.
De uma forma geral quando finalizo uma prova sinto-me bem porque estou a dar o meu melhor para que tudo corra bem e sinto-me confortável para explicar tudo o que for necessário. Opiniões diferentes são legitimas e criticas construtivas são sempre bem vindas, só assim se pode evoluir.
Quais as características que uma pessoa deve ter para ser um bom juiz?
Gostar de surf, humildade, imparcialidade, postura, memória de elefante, trabalho/empenho e para mim, pessoalmente, é muito importante fazer surf. Neste momento a tendência que se vê a nível mundial é os juízes serem quase sempre excelentes surfistas.
Desde já deixo aqui a mensagem de que o surf Português necessita de juízes surfistas e é com imensa pena que raramente vejo antigos bons surfistas a enveredarem pela carreira de juiz.
E para vingar internacionalmente como juiz?
Eu acho que as características que referi anteriormente são essenciais para o sucesso numa carreira internacional. Paciência para suportar situações mais difíceis de gerir… mas isso é como em tudo na vida.
Neste momento o surf vive uma fase em que o surf aéreo já não está tão em alta como há uns tempos, reequilibrando-se o binómio power surf e surf aéreo. Estamos novamente no caminho certo?
Estamos claramente novamente no caminho certo, na minha opinião surf de excelência é a combinação de surf de rail, Power, velocidade e aéreo (progressivo). É na combinação destas variáveis, mais o factor surpresa, que está o sucesso.
Qual a tua opinião sobre este “campeonato” online de Jervis and Vagabonds?
Acho uma excelente iniciativa e um sinal de que existem diferentes e originais formas de divulgar o surf. Bom exemplo para os departamentos de marketing das marcas ligadas ao surf.
Como foi julgar vídeos em vez de heats na praia?
Até ao momento está a ser relativamente tranquilo, gosto mais da emoção da praia mas está a ser interessante, o recurso ao vídeo é um grande suporte e é cada vez mais uma ferramenta de trabalho no julgamento.
Qual o heat em que tiveste mais dificuldade?
A dificuldade reside essencialmente no facto de estarmos a avaliar condições de mar muito diferentes e ondas filmadas de diferentes ângulos. No julgamento o factor ‘manobras nas secções criticas’ é fundamental quando comparamos ondas de Supertubos com ondas de meio metro num beach break. A escolha torna-se mais fácil.
O do Vasco com o Nicolau foi difícil. São duas ondas semelhantes em termos de secções criticas, o Vasco inicia com um cutback no rail numa secção mole mas depois tem um Frontside Air-Reverse com bastante velocidade, projecção e rotação quase completa. O Nicolau tem um snap no lip um pouco para a frente e depois tem também um Frontside Air-Reverse que chuta bem o tail, mas com menos projeção e a rotação final é feita na espuma. O Front-side air reverse do Vasco é melhor e fez a diferença.
E o mais óbvio para ti?
Talvez o do Tomás Valente com o Zé Ferreira. A diferença das ondas era por demais evidente e o Tomás arranca com um bom tudo e depois faz um Frontside air reverse. As manobras do Zé são bem executadas mas em secções pouco criticas quando comparadas com a onda do Tomás.
Obrigado pelo teu tempo e “vemo-nos” no round 2 de Jervis and Vagabonds.
Espero que os esclarecimentos tenham sido uteis e obrigado pela experiência e oportunidade.
De relebrar que o round 2 de Jervis and Vagabonds começa já na segunda-feira dia 25/11 pelo que tens de ficar atento a jervisandvagabonds.com para votares em que pensas que deve ser o vencedor de cada um dos quatro heats (que nesta fase será disputado o melhor tubo)!
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