O nosso correspondente no Hawaii, Nuno Sequeira enviou-nos a sua última crónica. Com a mesma qualidade da anterior, a segunda, irás agora ficar a saber como é o South Shore e como foi o último heat de Tiago Pires de 2012…Episódio 03: O último heat de Tiago Pires em 2012, South Shore e a despedida

Após a grande noite da Surfer Poll Awards Party ficava apenas a faltar um dia para o começo do Pipe Masters. Enquanto a ondulação não entrava tirámos mais um dia para conhecer melhor Oahu e desta vez fizemos a estrada que percorre a costa leste da ilha, o Windward Side. Ao longo da estrada as paisagens e o cenário são deslumbrantes com enormes montanhas onde o verde abunda, enormes baías e praias lindíssimas.

Já no South Shore e após termos encontrado fechada a estrada para o parque natural de Hanauma Bay (local privilegiado para o snorkeling e para relaxar) chegámos à famosa Sandy Beach onde os bodyboarders e bodysurfers davam show nas pequenas mas poderosas ondas. Em apenas 1.30h, e mesmo com os constantes avisos dos lifeguards, três ambulâncias foram chamadas ao local para evacuar três banhistas, dois deles por traumatismos na coluna e um por afogamento: “In doubt don´t go out!”

Neste dia ainda houve tempo para uma visita ao Bishop Museum, o maior e mais importante do Hawaii, onde se fica a saber muito sobre a história, cultura e as artes havaianas. Aponto uma lacuna à falta de elementos acerca do Surf apesar de um responsável me dizer que houve uma exposição temporária há uns anos atrás e que têm um espólio enorme de pranchas e fotografias. O Surf é parte indissociável da história e cultura havaiana e, na minha opinião claro, faz falta num museu desta dimensão e cujo fundador, Charles Reed Bishop, era também ele surfista.

Chega finalmente o tão esperado primeiro dia do período de espera para o Pipeline Masters que coincide com a entrada de uma nova ondulação: a última prova do World Tour de 2012 está ON! Chego à praia após o complicado trânsito e estacionamento na Kamehamea Hw em dias destes e as ondas estão perfeitas e pesadas… cerca de 2 metros e a subir ao longo de todo o dia, que espectáculo! Pipeline passou a ser a onda mais impressionante que vi ao vivo destronando Jeffrey´s Bay onde havia surfado e assistido ao Billabong Pro em 2009.

Infelizmente, logo no início do dia, assisto à derrota de um desinspirado Tiago Pires para o local Kalani Chapman que realizou um dos melhores total scores do dia. Lá terá o “Saca” que aguardar pelos deslizes dos seus mais directos concorrentes à manutenção para saber se mantém presença pelo 6º ano consecutivo no Tour. Parabéns ainda assim ao Tiago. É obra conseguir estar entre o (agora ainda mais) restrito lote dos melhores surfistas do Mundo, a competir por esse mundo fora praticamente sozinho e longe dos amigos, familiares e adeptos. Ali no Hawaii constatei bem esse facto pois em todo o lado há inúmeros australianos, americanos, brasileiros e até franceses. Portugueses contam-se pelos dedos das mãos e certamente que toda esta distância daquilo que é familiar ao Tiago pesa certamente nos momentos mais críticos e decisivos. Just my 2 cents, claro.

Ao segundo dia as ondas voltam a colaborar e o campeonato está novamente a decorrer, desta vez com a entrada dos top seeds. São horas e horas a ver Surf. Ora chove ora faz sol… estamos nos trópicos e é Inverno, típico destas latitudes. Tubos atrás de tubos, “wipeouts” de ir ao rubro, “claims” de todos os feitios, os melhores surfistas do Mundo na melhor onda do Mundo e o título mundial pode decidir-se já no Round 3 e 4. Que sorte a minha! Regresso a Portugal em poucos dias mas, em sintonia com as condições, assisto a mais de metade deste evento incrível. O último heat que assisto (e também o último do dia) é à vitória categórica de Joel Parkinson no Round 4 que carimba a passagem directa aos 1/4 de final. Será um presságio para o que aí vem? Um novo campeão mundial?

Os últimos dois dias no North Shore, com o campeonato a ser consecutivamente adiado por falta de condições boas para os melhores surfistas do mundo, trazem as condições ideais para o surfista comum: ondas com cerca de 1m, offshore (a razão para as ondas estarem mais pequenas foram estes “trade winds” que sopram durante alguns dias com bastante intensidade) e picos espalhados por toda a costa norte, desde o Turtle Bay Resort, onde fiquei na segunda metade da estadia, até à histórica Haleiwa que acaba por ser o local onde mais surfamos e que mais gostamos. Tempo para conhecer o mítico Buttons Kaluhiokalani (que realça desde logo a Nazaré e a onda do Garrett), a quem alugo umas pranchas e com quem partilho umas ondas na água, e uma série de outros / as ilustres desconhecidos / as que residem ou visitam o North Shore para surfar nesta altura do ano. Ambiente super tranquilo com ondas para todos a fazer esquecer aquilo que tinha ouvido e lido acerca do localismo.

A surfada de despedida na última manhã passada no North Shore serviu de tónico para a longa viagem de regresso a Portugal: 6 horas de Oahu a LA, mais 10h de LA a Frankfurt e ainda mais 3h até Lisboa. Juntando 10h de diferença de fuso horário o resultado é um jet lag enorme e o estar acordado às 6.30h da manhã a escrever-vos estas palavras. Obrigado à ONFIRE pela “cunha” para a grande festa da SURFER e por publicar estas crónicas que espero tenham agradado aos leitores e servido de motivação para pegarem nas pranchas e rumarem ao Hawaii pelo menos uma vez na vida… é um destino obrigatório!

Nos próximos dias, Nuno Sequeira, da escola de surf “Puro Surf, irá fazer um pequeno artigo sobre como ir, ficar, o que levar e fazer se quiseres ir para o Hawaii por isso fica atento aqui ao site da ONFIRE pois algum dia terás mesmo de ir ao mais emblemático destino de surf do mundo!

 

Comentários

Um comentário a “Crónicas de um português no Hawaii | Ep.03”

  1. zepedro diz:

    Nao concordo com a lacuna apontada ao Bishop Museum, o Hawai’i é muito mais do que o surf. Espero que ao fim de tantos anos a viajarem para lá, ja tenham visitado o resto da ilha bem como as outras ilhas. Porque para além das ondas, existe muita coisa boa que escapa aos turistas. Desde as Stairway to Heaven(Haiku Stairs), até à enseada logo a seguir a Sandy Beach(Ka iwi) passando por Yokohama Bay e Kailua