Neste preciso momento Frederico Morais encontra-se do outro lado do mundo, isolado a fazer uma quarentena obrigatória de 14 dias. Não serão tempos fáceis mas logo de seguida terá finalmente a oportunidade de voltar a mostrar o seu surf ao lado dos melhores surfistas do mundo. Aproveitámos estes (seus) dias de tédio para meter a conversa em dia com o português do Championship Tour…

 

Conta o que estás a fazer neste momento…
Basicamente nós estamos neste momento a fazer uma quarentena obrigatória na Austrália, não interessa se testámos negativo ou não, somos sempre obrigados. Neste momento só australianos podem entrar na Austrália mas a WSL conseguiu arranjar um voo charter e as autorizações para nós voltarmos aqui e continuarmos com o tour. Neste momento estou no meu quarto, tenho aproveitado para ler, para treinar dentro do possível, tenho visto alguns filmes, respondido a algumas entrevistas e tentar sentir que os meus dias têm um propósito, que chega ao fim do dia e foi um dia que valeu a pena e não cair aqui na inércia de não fazer nada porque aí é que acho que uma pessoa acaba por ficar mais saturada e é mais complicado passar estes 14 dias.

Quais foram para ti os pontos altos a nível profissional e pessoal em 2020?
Dada toda a situação não diria que 2020 foi um ano de pontos altos, mas dentro do possível fez-se o que podia. Felizmente consegui fazer a Liga MEO e voltar a sagrar-me campeão nacional, já tinha saudades de competir no circuito, surfar contra amigos e rever amigos. Surfar em praias que eu adoro, no meu país, à frente dos portugueses, sem dúvida que isso foi um ponto alto, até, para mais, com um título renhido até ao fim tanto com o Vasco (Ribeiro) como com o Afonso (Antunes). Depois tive o Eurocup, também em Ribeira D’Ilhas, que diria que foi também um ponto alto, um bom campeonato. Não tivemos (Championship) Tour esse ano mas foi o mais parecido com o World Tour que tivemos, numa onda que eu adoro e onde consegui sair vencedor numa final com o Ítalo (Ferreira). Ou seja, para mim 2020 foi um ano super positivo, consegui continuar a surfar e ainda fizemos alguns campeonatos e, dada a situação que se estava a viver na altura, e que continuamos a viver, posso dizer que somos uns sortudos enquanto surfistas porque podemos continuar a surfar e ainda termos campeonatos e podemos fazer aquilo que mais gostamos. A nível pessoal também foi um bom ano, aproveitei para passar mais um ano em casa, para fazer coisas que não costumava fazer quando tínhamos o tour a full time, ou seja, também deu para aproveitar e acabou por ser um ano positivo dentro do possível.

Como foram estes meses que passaste em Portugal, conseguiste meter o surf em dia?
Consegui, claro que havia algumas restrições mas dentro do possível fiz bastante surf, consegui treinar. Nós tínhamos uma autorização para se poder surfar, deu apanhar boas ondas e experimentar pranchas. O Richard (“Dog” Marsh) esteve em Portugal comigo a fazer uns dias de treino antes de virmos para a Austrália. Estive também na Madeira onde apanhámos ondas incríveis e realmente deu para treinar bastante e foi uma ilha que me deixou apaixonado, é um lugar que vale muito a pena ir.

O que vai ser a primeira coisa que vais fazer quando saíres do confinamento?
Obviamente vai ser surfar, 14 dias sem surfar só acontece mesmo se uma pessoa tiver uma lesão, por isso mal posso esperar para voltar a meter o surf no pé e ainda para mais de fato de banho. Voltar a surfar em água quente vai ser ótimo.

Sentes-te pronto para a perna australiana? O que achas dos quatro eventos aí?
Sinto-me pronto. O nosso trabalho é diário e continuo, não é por termos um ano off que paramos de trabalhar. Claro que estes 14 dias fechados num quarto vão ser mais complicados mas acredito que depois seja rápido a voltar a sentir-me a 100%. O trabalho físico foi feito antes de me ir embora e está a ser mantido agora durante a quarentena, por isso acredito que estou pronto e mais do que isso estou cheio de vontade e ansioso para voltar a vestir a lycra. Acho que são quatro boas etapas e duas delas, Narrabeen e Newcastle, são ondas onde eu já surfei bastante. Newcastle é mesmo dos locais onde eu mais gosto de estar aqui na Austrália. O Ryan (Callinan), um dos meus melhores amigos, mora lá, ou seja, é um sítio onde eu já passei bastante tempo. São bons beach breaks, tem boas ondas, infelizmente no WQS não parece, são períodos de espera bastante mais curtos. agora num evento WCT com mais dias acredito que iremos apanhar boas ondas. Em Narrabeen já competi nos tempos do World Juniors e tenho uma ótima ideia da onda em si. Margaret River também é uma onda que eu gosto bastante, apesar de nunca me ter encontrado muito, acredito que possa ser este o ano e Rottnest Island não conheço de todo. O Richard já lá esteve, já lá competiu e também diz que pode ser uma boa onda e uma boa localização.

Fala da prova de Pipeline, é um evento em que te sentes apto a fazer cada vez mais estragos?
Sem dúvida alguma, Pipeline é uma prova em que eu sinto cada vez mais à vontade e capaz de avançar e de fazer alguns estragos. Tem sido uma onda onde eu tenho apostado mais, nos tubos, que é um dos pontos fracos no meu surf, mas que, como em tudo, eu quero melhorar e quero ultrapassar esse desafio. Infelizmente ainda não apanhei um heat com ondas clássicas de Pipeline, mas espero que aconteça em breve e espero continuar a melhorar e cada vez mais estar à altura do desafio.

Como era o dia a dia no Havai até ao cancelamento dos eventos?
Eram basicamente surfar e treinar, a vida em si era super parecida com os outros anos pois naquela zona o vírus estava mais controlado. Não havia tantos casos e nós fomos testados várias vezes, o controlo era super apertado, não dava para andarmos de um lado para o outro, tínhamos um bocado a nossa bolha. Eu estava a ficar com o Richard, era a única pessoa que eu via e no campeonato tínhamos a bolha da casa da Billabong, onde basicamente só estavam as pessoas do campeonato e os treinadores. Fora isso tudo normal, fizemos muito surf, apanhamos ondas incríveis, acredito que em termos de swell foi das melhores temporadas que tive no Havai.

Sunset e Bells são etapas onde já tiraste grandes resultados, sentes que a ausência desses eventos te vai prejudicar muito?
Claro que são etapas que eu gosto, são ondas que gosto bastante, mas como saem umas, entram outras etapas, e tenha a certeza que Newcastle, Narrabeen e Rottnest Island vão ser ótimas ondas. São beach breaks por isso tudo depende também de como vão estar as condições. E ao fim do dia as condições são iguais para todos e uma pessoa tem só que surfar e tem que querer mais e surfar melhor.

Quais são os teus objectivos para 2021?
Para ser honesto ainda está tudo um bocado em aberto dado que só temos estas quatro etapas confirmadas, depois não sabemos qual vai ser o caminho do tour por isso vou encarar um bocado etapa a etapa…

 

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