Já lá vão alguns anos desde a última vez que falámos com o Filipe Jervis e, mesmo com dois confinamentos pelo meio, o surfista do Guincho/São Torpes tem sempre novidades…

 

Como foram estes dois confinamentos para ti, como te tens entretido?
Para quem não sabe, sempre fui um bocado “bicho do mato”. Gosto de estar tranquilo em casa, a ver filmes, séries e a jogar fifa. Talvez por isso o primeiro confinamento não me tenha custado tanto. Neste segundo confinamento estive mais entretido, digamos assim. A minha namorada mudou-se cá para casa e estivemos em remodelações, pinturas, etc., o que tornou o confinamento mais divertido. O tempo durante este segundo confinamento não foi grande coisa, por isso acabámos por dar poucos passeios, mas sempre que houve um solinho, ou íamos passear até ao guincho ou aproveitava para dar uma volta na minha mota.

Como fizeste para manter o ritmo de surf nas fases em que não se podia fazer surf?
Não fiz grande coisa honestamente. Sou viciado em fazer desporto, mas não sou viciado em preparação física. A minha preparação física vem do surf, futebol e padel. Numa situação normal sem covid, tenho dias em que pratico os três desportos no mesmo dia. O futebol e o padel trouxeram força e consistência às minhas pernas, coisa que nunca tive. Agora que não pratico nem um nem outro há um mês e tal, sinto me um pouco mais fraco nessa zona. Mal posso esperar para voltar ao meu ritmo louco porque esta força e consistência de pernas dá-me outra confiança no surf.

Como é o teu dia a dia actualmente?
Dependendo das previsões vou gerindo o meu dia. Estas duas ultimas semanas foram de loucos para quem não fazia surf há mais de um mês. Acordei vários dias às 5 da manhã para ir surfar e filmar. Não o fazia há algum tempo porque ando sempre cansado por causa dos treinos que dou diariamente, mas este ano quero voltar a fazer esse esforço para surfar mais.
Normalmente acordo entre as 9 e as 10, se me apetecer faço um ioga com a Maria, tento perceber se há umas ondas e começo o meu dia a partir daí. Ao fim do dia, cozinhar, jantar e ver uma série/filme ou jogar um fifa antes de ir dormir.

Acabaste de fechar um novo patrocínio, foram quantos anos com o bico da prancha em branco?
É verdade, estou super feliz com a oportunidade de fazer parte da RVCA. Estou sem main sponsor desde 2017, depois de 7 anos com a Ericeira Surf & Skate. Honestamente, não acreditava que algum dia iria voltar a ter um autocolante no bico da prancha, muito devido à minha idade.
De inicio foi complicado porque depois de tantos anos a viver a vida de sonho que é a vida de surfista profissional, fiquei sem chão e tive que arranjar uma alternativa para suportar a minha vida. Acabei por ficar 1 ano a trabalhar numa escola de surf, até criar o meu próprio projecto: a Jervis Surf Experience. Este projecto mudou a minha maneira de ver a vida e o surf. O objectivo principal do projecto é ajudar os miúdos com quem trabalho a perceberem o que é a essência do surf, ajuda-los a viver um bocadinho a vida e a serem os melhores seres humanos possível. Sou um segundo pai, um irmão mais velho, ou um grande amigo, que eles vão ter para sempre. Valorizo muito a relação pessoal com os miúdos e se poder ajudá-los um bocadinho a crescer mais felizes neste mundo louco onde vivemos, sinto que o meu trabalho esta a ser feito.
Tornou-se a grande prioridade da minha vida, o meu ganha pão e aquilo que me ocupa a cabeça todos os dias da minha vida.
Com o aparecimento da RVCA, vou aproveitar as minhas manhãs livres (que são quase todas) para surfar o máximo e criar o máximo de conteúdo.

Fala um pouco sobre a RVCA, sabemos que é uma marca com a qual tens uma ligação forte…
Desde o aparecimento da marca em Portugal, algo me atraiu na RVCA. Têm uma maneira diferente de estar presentes no mercado. Desde o branding, o marketing, a linha de roupa e uma visão mais core em vez de ser tudo pensado na venda e nos números. Obviamente que tudo isso atrai publico por si só. A presença deles vai muito para além do surf, é uma família unida e com uma visão muito diferente do que qualquer outra marca de surf. Por alguma razão sempre me identifiquei com isso, com a procura deles em apostar em pessoas que existem e pensam de outra maneira, em vez de procurarem o surfista ou skater mais “marketable” do desporto.
Penso que é exactamente por isso que criámos uma ligação em 2021. Eles acreditam em mim, não só enquanto surfista mas também como pessoa.
Não podia estar mais orgulhoso para ser sincero.

E mais novidades?
Estou um bocado farto da pandemia e de viver nesta situação mas tento ver as coisas de uma maneira positiva e estar activo no mundo e na vida das pessoas mais próximas de mim. Isto ainda vai demorar a regressar à normalidade, principalmente a nível económico.
Vou recomeçar a trabalhar com os miúdos, e dar-lhes força e motivação porque acredito que esta situação para eles ainda seja mais complicada. Estar atento a sinais porque sinto que vem aí uma geração de miúdos com muitos problemas de saúde mental.

Objectivos para os próximos tempos…
Visto que o ano passado foi o meu melhor ano de sempre na liga, deu-me alguma motivação e confiança para querer voltar a tirar bons resultados este ano. O ano passado foi o ano competitivo mais divertido na minha vida, talvez tenha sido desta que aprendi a lidar com a competição (risos).
Assim que for permitido vou também voltar aos estágios de surf da JSE, em São Torpes. Divirtimo-nos imenso e normalmente apanhamos sempre ondas boas.
Queria também voltar a viajar, para mim que passei 10 anos da sua vida a viajar todos os meses, admito que é o que eu sinto mais falta.

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