Todas as etapas do Championship Tour contemplam a presença de convidados, wildcards, surfistas locais ou não que poderão acrescentar interesse e qualidade de surf aos eventos. O sistema de dois tours da WSL, anteriormente ASP, existe desde 1992 e é justo assumir que ao longo dos anos tanto organizadores como a própria World Surf League terão dado “uns tiros ao lado”. A ONFIRE selecionou 5 surfistas que, mesmo tendo valor para participar em etapas do CT, foram escolhas invulgares…

Isaac Keneshiro – Coke Classic – North Narrabeen – 1993
Hoje em dia é um facto quase esquecido que, depois de se tornar no surfista mais novo da história a conquistar um título (masculino) de campeão mundial da ASP, um feito que ainda hoje não foi superado, Kelly Slater teve o pior ano da sua carreira. Apesar de ter começado o ano com um 5º lugar em Bells Beach, o campeão em título só começou a mostrar algo semelhante ao que tinha feito no ano anterior perto do fim da temporada. A derrota para a “velha raposa” do tour, Barton Lynch nos quartos de final da primeira etapa foi seguida por outra, ainda mais cedo em Narrabeen, no round 2 para o wildcard Isaac Keneshiro. O que é curioso desta derrota, disputada em esquerdas de um metro com vento on-shore, é o facto de Isaac não ser, como é mais típico, um wildcard local ou patrocinado pelo sponsor do evento. Keneshiro é um surfista havaiano descendente de japoneses que na época corria o circuito QS apesar de nunca ter tido grande sucesso. É uma incógnita a razão que levou a organização do Coke Classic a escolher este surfista como wildcard e o que é certo é que, mesmo tendo eliminado o (que viria a se tornar) melhor surfista de todos os tempos, foi a sua primeira e última participação numa etapa do Championship Tour e apesar de ter competido durante mais algum tempo no circuito QS, nunca teve grande sucesso, caindo na obscuridade como surfista profissional.

(Um dos raros registos de Isaac no evento pode ser visto no filme da Hot Buttered – Surf Nastys – minuto 12:37)

Carlos Burle e Pedro Muller – Quiksilver Pro G-Land – 1995
Em 1995 nove dos 44 tops do Championship Tour eram brasileiros, um número que já impunha respeito e colocava este país como uma das grandes potências do surf mundial. Não havia no entanto o respeito pelo surf brasileiro como há hoje em dia, sendo bem visível a falta de destaque que tinham nas revistas de surf e filmes norte-americanos e australianos, e a falta de apoio de marcas estrangeiras. Então como surgiram dois wildcards brasileiros num campeonato que é creditado como o evento que deu origem ao “dream tour”? É simples, para dar mais visibilidade a esta que seria a primeira etapa sem público na praia, a Quiksilver publicou um anunciou nas revistas de surf de quase todo o mundo, pedindo ao público para votarem nos seus surfistas favoritos para wildcards. E para surpresa do resto do mundo, o Brasil mostrou a sua dimensão, qualificando logo dois surfistas virtualmente desconhecidos fora do seu país, Carlos Burle e Pedro Muller. A eles juntaram-se o mítico Tom Carroll, conhecido não só pelos seus dois títulos mundiais mas também pelas suas performances em ondas pesadas como Pipeline, Sunset e G-Land, e o local Made Switra, mas foram os brasileiros quem mais avançaram. Muller, que actualmente vive em Portugal, bateu Taylor Knox e Piu Pereira no round 1, e Burle eliminou Taylor Knox no round 2, acabando ambos por ser eliminados na fase seguinte por Sunny Garcia e o eventual campeão da prova, Kelly Slater.

Miguel Diniz – Coca Cola Figueira Pro – 1996
O Coca Cola Figueira Pro foi um evento muito esperado pelo surf português, sendo a primeira vez que uma etapa do Championship Tour passou pelo nosso país. Até aí o acesso a figuras de topo como Kelly Slater, Sunny Garcia, Shane Powell, Kalani Robb e muitos outros existia apenas através dos filmes de surf ou para quem pudesse viajar até ao sudoeste de França durante o verão para acompanhar um das três etapas que aquele país recebia todos os anos. Até este evento nenhum surfista português tinha competido numa etapa do CT e o primeiro acabou por ser Miguel Diniz nesta etapa. Presentes nesta prova estiveram também João Antunes, o primeiro a vencer um heat neste circuito, Bruno Charneca, que eliminou Kelly Slater no round 2, e ainda Rodrigo Herédia. Miguel, mais conhecido como Frey Tuck, tinha sido um dos grandes nomes do surf português no final dos anos 80 e início dos 90, tendo vencido inclusivamente uma etapa do circuito nacional no ano anterior, mas na época já não estava entre os 10 melhores portugueses, o que fez desta participação algo bastante invulgar. O que não quer dizer que não tenha feito boa figura, tendo surfado bem, mas acabou eliminado no round 2 por um inspirado Rob Machado.

Brendon “Margo” Margieson – Billabong Pro – 1997 e 1998
Antes de Dave Rastovich e muitos outros surfistas fazerem carreiras como free surfers profissionais, havia Brendon Margieson, o fiel companheiro de Mark Ochilupo em filmes como Bunyp Dreaming e The Green Iguana. “Margo”, como era mais conhecido, era o surfista não competidor mais conhecido dos anos 90 graças ao destaque que os filmes de surf tinham na altura. O que não é tão conhecido é que Margieson ainda tentou a sua sorte no QS durante um par de anos e recebeu wildcards em anos consecutivos da parte do seu patrocinador, a Billabong. A prova de 1997 foi realizada em Kirra e Brendon até venceu um heat mas a falta de sucesso no ano seguinte fez com que a Billabong “reformasse” o lado competitivo deste australiano, apostando mais na área onde tinha mais sucesso, o free surf.

Menção honrosa
Ricardo Toledo – Rio Surf Pro – 1996

Ricardinho Toledo hoje em dia é mais conhecido por ser o pai de “Filipinho”, pela sua t-shirt cor de rosa que usa em praticamente todas as etapas do CT e pelos assobios em código durante os heats do seu filho. Mas Toledo foi um dos grandes surfistas do seu país na sua época, conquistando dois títulos de campeão brasileiro profissional. Talvez por ter sido pai tão cedo ou por falta de patrocínios à altura, Ricardo não apostou no circuito mundial com a mesma intensidade que outros surfistas no mesmo escalão de talento da época, recebendo mesmo assim um wildcard para competir no Rio Surf Pro de 1996. Toledo acabou por ser eliminado cedo por Rob Machado mas décadas mais tarde tornou-se numa das personalidades mais conhecidas no backstage do tour.

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