Os verdadeiros homens do mar não procuram fama desmedida nem atenções forçadas. Fazem-no, em primeiro lugar, pela sensação de uma total sintonia com o Oceano. É nele que encontram energia para viverem as suas vidas normais. O reconhecimento da comunidade vem com o tempo, sem pressas e sem vaidades histéricas. Vem com os invernos, nos dias difíceis e nas sessões clássicas. O anonimato é uma realidade para muitos. Outros, mais expostos pela opção de viverem em Santuários de Surf, não têm escapatória às lentes das máquinas fotográficas que fazem o que só elas sabem fazer. Registar! As imagens amplificam os actos, mas serão sempre as palavras que, transmitidas de boca em boca, de geração em geração, transformam homens em lendas.

Já conhecia o Peter Cole através de imagens e de palavras. Conheci-o melhor através do livro de Stuart Holmes Coleman que fala sobre a vida (curta) do lendário Eddie Aikau, famoso waterman havaiano. Peter começa a surfar nos anos 40 em Malibu, Califórnia, e muda-se para o Havai para ensinar matemática no liceu. Corrijo, muda-se para as Ilhas para surfar as melhores ondas do mundo financiando-se com o seu emprego de professor. Esta figura mítica faz parte de um grupo de corajosos que surfavam dias de grandes ondulações no North shore da ilha de Oahu. Pioneiros na famosa onda de Waimea Bay e exímios surfistas de Sunset Beach. São heróis involuntários e famosos neste subgrupo da sociedade.

Peter Cole ainda surfou mares de meter medo até bem perto de completar 80 anos e sem recorrer ao leash. Excelente nadador, era comum vê-lo a dar aos braços entre as fortes correntes havaianas para resgatar a sua prancha e voltar a remar para o outside. Nos seus últimos anos já se tinha deixado dessas aventuras mas guarda em si uma caderneta de recordações que merece ser partilhada.

Rest in Peace Peter Cole – 12.10.1930 – 07.02.2022 – Artigo retirado e adaptado de https://cadernetademarblog.wordpress.com

 

Sobre o Autor:
João “Flecha” Meneses | Com cerca de três décadas de surf nos pés, “Flecha” enquadra dois adjectivos de respeito no surf, “underground” e “Soul” surfer. Originalmente local das ondas da Caparica, João tornou-se residente da Ericeira há mais de uma década e é um daqueles surfistas que não aceita insultos do “Sr. Medo”. Nos seus tempos livres é escritor de mão cheia e esta foi mais uma grande colaboração com a ONFIRE.

 

 

Comentários

Os comentários estão fechados.