O julgamento de uma prova de surf tem sempre a sua dose de subjectividade, o que deixa margem para muita insatisfação e críticas, principalmente da parte dos competidores e suas “equipas”. Os surfistas têm formas diferentes de surfar, algo que regularmente é difícil de comparar. Junta-se a isso ondas que nunca são iguais a serem surfadas consecutivamente, com pouco tempo para se analisar os detalhes, e muita coisa pode correr mal. Isso é o que se passa nas provas realizadas no oceano mas a única prova da WSL realizada num ambiente controlado, em que todas as ondas são quase iguais, tinha potencial de ter um julgamento impecável.
Aparentemente não foi o caso, pelo menos segundo a opinião de um surfista do top10, Kolohe Andino. “Brother”, como é chamado por muitos, era o último competidor ainda em prova que poderia “furar” o top8 e chegar à final, ficando a depender das suas últimas ondas. No fim de uma onda impecavelmente surfada falhou a última manobra e recebeu 7.6 pontos, quando precisava de 8.3.
Logo de seguida, na sua entrevista pós run 3 Andino mostrou-se visivelmente abalado pelo resultado, não poupando críticas severas aos juízes. Kolohe começou por dizer que os juízes estavam a fazer jogos psicológicos com ele pois tinha surfado ao melhor da sua habilidade e achava que merecia notas mais altas. Comentou ainda que Jordy Smith tinha arriscado muito e acertado um rodeo mas que o julgamento estava a valorizar muito os que arriscavam pouco. “Um tubo do tamanho da minha cintura não deveria receber uma nota melhor, estou um pouco frustrado e confuso, sinto que estou do lado errado das decisões muitas vezes. Mas isto é o surf profissional, é a carreira que escolhi. Não sei, estou um pouco confuso e desapontado com o que dá uma boa nota aqui, é isso.”, desabafou Andino.
Tenha razão ou não, o que é certo é que se perdeu uma oportunidade única de definir um critério de julgamento que não deixasse dúvidas. Com ondas virtualmente iguais, era possível dividir por secções e atribuir potenciais de pontuação a cada. Um bom exemplo é a direita, que começava com uma secção para manobras, que podemos chamar de secção 1, seguida de um tubo, secção 2, mais uma secção para manobras, secção 3, um tubo rápido e apertado, secção 4, uma secção final, secção 5.
“Dissecando” a onda desta forma, os juízes podiam divulgar o que esperavam de cada uma, como se faz alguns desportos com “ambientes controlados”, dando aos surfistas a oportunidade de fazer o que precisavam em cada uma delas para obter uma nota alta. Infelizmente não foi o caso e cada um fez a sua interpretação ao longo da prova. Os melhores, nomes como Medina, Toledo, Igarashi e Wilson, no final apostaram em praticamente ignorar a secção 4 e terminar com um aéreo arriscado na 5. Entre eles Gabriel Medina e Filipe Toledo foram os mais bem sucedidos mas Kanoa Igarashi também arriscou bastante e apesar de ter ficado com os pontos de um 3º lugar, ficou atrás de Kelly Slater, que apostou no approach mais tradicional, pontuando sempre alto com longos tubos nas secções 2 e 4.
Entrando em mais detalhe, vamos assumir que o julgamento oferecia até 3 pontos caso a primeira secção fosse surfada na perfeição, ou seja, com manobras poderosas intercaladas com surf progressivo e a segunda oferecia até 1.5 pontos, pontuação essa que era conseguida a partir dos 10 segundos de tubo profundo. Na secção 3, mais 1.5 pontos, com manobras poderosas intercaladas com surf progressivo, secção 4, quatro segundos bem deep no tubo poderia chegar para ter mais 1 ponto e sair para preparar um enorme punt e conseguir até 3 pontos por completar a que devia ser a manobra mais impressionante de toda a onda. Um surfista que preenchesse todos estes requisitos na perfeição poderia chegar perto dos 10 pontos enquanto que cada “falha” em cumprir estes critérios significava menos pontos. Muitas ondas enquadraram-se neste julgamento, mas algumas bastante cruciais não tanto. No entanto, como Kolohe mencionou, “isto é o surf profissional”…
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