São muitos os surfistas de renome internacional que se rendem às ondas e qualidade de vida de Portugal e acabam por se tornar residentes. É o caso de Kiron Jabour, um dos grandes nomes do surf havaiano da geração de John John Florence, que constituiu família no nosso país e trocou o North Shore pela costa portuguesa. A ONFIRE quis saber um pouco mais sobre o seu historial e a recente transição para uma marca de pranchas nacional…

Conta-nos um pouco da história da tua família…
O meu pai é surfista do Rio de Janeiro, da geração do Eraldo (Gueiros) e Carlos Burle, e eles iam muito para o Havaí bem antes de eu nascer. Ele chegou inclusive a competir no circuito mundial e ia para o Havaí todos os Invernos. Todos os anos, desde que eu era bebé ele levava a família e ficávamos por três meses até que, por volta dos meus três anos, ele e a minha mãe quiseram sair do Brasil. Estavam indecisos entre a África do Sul ou o Havaí, quase se mudaram para Jeffreys Bay mas acabaram por ficar no Havaí, que foi onde eu cresci. Eu cresci a ver o meu pai surfar todos os dias, íamos para a praia todos os dias e eu brincava na praia e acabei por aprender a surfar. Eu aprendi a surfar ali perto de Haleiwa, daí fui migrando para Chun’s Reef, depois fui evoluindo para V-Land, onde aprendi a fazer uns tubos, e aos poucos ia surfando mar maior nos outros picos do North Shore.

É possível crescer no North Shore e não se ser surfista?
A alguma hora vai ter algum tipo de contacto com o surf, ali não tem como não ter, acho que é impossível não se ser surfista.

E a competição, quando surgiu?
Eu comecei mais tarde que “todo mundo”, o meu pai nunca me empurrou para competir. Então com 12 anos entrei pela primeira vez num campeonato de grommets em Haleiwa e ganhei. Eu já tinha os meus amigos do surf lá no North Shore que competiam desde os 6 anos, já a levar aquilo a sério, cheio de autocolantes na prancha e tudo. Eu surfava mais por curtição e nunca pensei em competir até esse campeonato. Gostei daquela sensação de entrar e querer fazer o meu melhor, ser progressivo na evolução da técnica, testar-me contra os outros, e como tive aquele gostinho de ganhar pedi ao meu pai para competir no NSSA (circuito escolar norte-americano) e o HASA (circuito havaiano de surf), que dava acesso a provas em Trestles e em Huntington. Comecei a correr os campeonatos lá no Havaí, qualifiquei-me para a Califórnia, entrei na Quiksilver, e decidi que queria ser surfista (profissional). Depois competi em mais circuitos juniores e mais tarde no QS.

Quais consideras os resultados mais expressivos do teu percurso competitivo?
As vitórias nos QS em Puerto Escondido e em Sunset! Também ganhei uns Pro Juniores no Havaí, e no mundial fiquei em terceiro algumas vezes.

O que te trouxe a Portugal pela primeira vez?
A primeira vez vim foi para competir no QS dos Açores, no meio de Verão, uma prova que cancelaram por falta de ondas. Ao continente vim pela primeira vez em 2013, um QS Prime em Carcavelos. Na altura não conhecia nada de Portugal então instalei-me em Carcavelos e durante vários dias surfei só Carcavelos. Só no fim percebi que tinha altas ondas no Guincho e Ericeira.

Já não estás a competir, achas que a competição é essencial para a evolução de um surfista?
Eu sinto falta da competição por esse lado, porque é uma motivação para entrar sempre no mar em qualquer condição. Acho legal porque dá essa motivação, de surfar todos os dias e buscar esse progresso. Hoje em dia sou mais selectivo, ainda tenho isso, mas de outra forma. Eu acho que (quem compete) entra no mar com um foco diferente, essa motivação de trabalhar.

Fala-nos da transição da Channel Islands para a Polen…
Foi muito natural, eu fui da Channel Islands desde os 14 anos e sempre fiz esse trabalho de passar pela Califórnia para trabalhar nas pranchas, mas sempre senti também um pouco de dificuldade de ter um trabalho mais aprofundado, de entrar na sala e estar envolvido no processo. Eu já conheço o Alvaro (proprietário da Polen) há muitos anos e já vinha à fábrica muitas vezes, mesmo antes de ser team rider. Consegui agora fazer um trabalho bom com as minhas pranchas, estava há muito tempo com o mesmo shaper, estava buscando uma coisa nova, e também de ter esse trabalho mais próximo. É incrível, a Polen toda esta estrutura, a presença de vários shapers internacionais, estou bem animado de “botar” as pranchas na água, está a ser bem positivo.

Como tem sido o trabalho com o Paulo do Bairro?
O Paulo é impecável, super atencioso, gosto muito de trabalhar com ele. É fácil de falar com ele, é uma comunicação fácil, ele faz as pranchas com carinho e amor e tem um background por detrás, é um surfista muito bom. Eu já conhecia ele dos Coxos, admirava o surf dele e acho fácil trabalhar com ele. Desenvolvemos um modelo durante o Inverno, o 3-Sixty, que temos gostado bastante e recebeu bom feedback dos outros team riders. Tem sido uma motivação grande desta fase pós-competição, tentar entender mais sobre os designs, trocamos ideias, e estamos a fazer um trabalho muito próximo.

(Podes ficar a saber mais sobre o modelo 3-Sixty AQUI)

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