“Se não chegarmos a pé onde queremos ir, não vemos o que queremos encontrar…”
Provérbio Sadhu, em O fim é o meu início, de Tiziano Terzani
Surf é aldeia na cidade. Pode crescer para os subúrbios mas não deve esquecer que é praça bonita e café de bairro, banco de jardim e árvore centenária. Surf é velocidade mas tem que ser lento, surf é mar e vento, é areal extenso. Surf é Tom Curren e a sua guitarra, é John John em corrimões de água. Surf é cesta de palha, mesa de madeira maciça e lareira no inverno. Surf é também prancha sem logótipo e surfista anónimo. É água fria e pôr-do-sol, é olho aberto num bico de pato perfeito. Surf é deslizar em neve virgem e em rampa de skate, surf é emoção, é down hill é vulcão.
Surf é dizer Bom dia na tua praia a alguém que nunca viste, porque um dia vais gostar de ouvir as mesmas palavras numa onda que não conheces. Surf é esperar pela energia do oceano, é caminhar por baías, ser crente e olhar o vento como gente. Surf não é futebol nem comentadores de bancada. Surf é muito mais do que tácticas ou mexericos de bastidores. Para falar é preciso sentir, para sentir é preciso fazer. Surf não são ondas em estádios nem “prognósticos no final”. Surf é tradicional e moderno, é igualdade de género. Surf é beleza, seguindo o rasto das quilhas da Teresa. Surf é parar de remar para olhar a fluidez do nosso parceiro de mar.
Surf é a nossa gente que grita de entusiasmo com a velocidade de Fanning, mesmo sabendo que batalha contra o nosso menino de ouro. Surf é festejar a vitória de Portugal e perceber que Frederico é diamante sem sangue, Daila Lama dos oceanos e gladiador da Roma antiga. Surf é emocionarmo-nos com um beijo entre um miúdo campeão e seu pai, que perante a multidão que os aplaude conseguem olhar -se no silêncio e, numa sintonia telepática partilham uma lágrima invisível que lhes diz:
Valeu a pena.
Para ler mais textos de João “Flecha” Meneses visita o seu blog “Caderneta de Mar”.
Sobre o Autor:
João “Flecha” Meneses | Com quase três décadas de surf nos pés, “Flecha” enquadra dois adjectivos de respeito no surf, “underground” e “Soul” surfer. Originalmente local das ondas da Caparica, João tornou-se residente da Ericeira há mais de uma década e é um daqueles surfistas que não aceita insultos do “Sr. Medo”. Nos seus tempos livres é escritor de mão cheia e esta é mais uma grande colaboração com a ONFIRE.
Comentários
Um comentário a “Diamante sem sangue | By João “Flecha” Meneses”
Sem medo e sem vírgulas, é isso mesmo que o surf é! Belo texto, cheio de inspiração.??