Os line ups portugueses têm estado tão vazios como estiveram antes dos primeiros praticantes de surf terem aparecido no nosso país. Apesar de algumas pessoas estarem a “furar” a interdição e, contra todas as indicações, civismo e bom senso, continuarem a surfar, a esmagadora maioria dos portugueses está a cumprir a sua parte, que é algo tão simples como ficar em casa e aguardar algum tempo para voltar à água. A ONFIRE falou com alguns dos melhores surfistas do país para saber como têm sido os seus dias de quarentena…

Neco Pyrrait
Nesta altura que não dá para surfar tenho estado a maioria do tempo com a minha namorada para compensar o tempo que não estou com ela quando o mar está bom! Tenho feito uns treinos físicos em casa, visto séries, filmes, etc! Voltei a ter contacto com os meus alunos da escola de surf com aulas online, pois o surf também é importante para eles e há coisas que podem ser trabalhadas a partir de casa! Eu tenho o privilégio de viver praticamente na praia, o que faz com que tenha a oportunidade de passear perto de casa e de aproveitar um pouco da liberdade que ainda nos resta. E basicamente tem sido isso!
Queria deixar aqui um GRANDE agradecimento não só aos médicos e enfermeiros que têm feito um trabalho incrível por todos nós, mas também a quem trabalha nos supermercados, mini-mercados, homens do lixo, polícias, e a todos aqueles que se expõem ao perigo para nos servir e para nos ajudar a superar esta situação! E também queria dar uma palavra a toda a comunidade surfista que tem respeitado a proibição do surf, está a ser difícil para todos aqueles que amam o surf! Eu admito que até já me caiu uma lágrima quando vi o mar lindo e perfeito, mas aguentei por mais que me quisesse entrar e surfar horas sem fim! Mas não estamos em altura de sermos egoístas e pensarmos só em nos, temos que pensar nos outros também!

 

Jácome Correia
Já não fazia surf há dois meses antes disto pois lesionei-me no meu último heat no Volcom Pipe Pro. Desde aí tenho estado em processo de recuperação. Estava a ser acompanhado por fisioterapeutas mas com o vírus aí a passear de um lado para o outro tenho de fazer tudo em casa sozinho, mantendo o contacto com os fisioterapeutas à distância, o que provavelmente atrasará o processo. Distanciei-me um bocado de Lisboa mas não voltei para os Açores, vim para o campo e aqui sempre tenho algum espaço para dar umas voltas de bicicleta ou a correr como complemento aos exercícios de fisioterapia. Para além destes passeios e da fisioterapia, aproveito para ler, para jogar um bocado PlayStation e cozinhar. Aproveitei também para juntar umas imagens com o André Pinto e lancei um clip no meu instagram.

 

 

Luís Perloiro
Desde que começou a quarentena eu tenho estado por casa no Lumiar. Tenho mantido a minha rotina de treinos físicos, com o meu preparador, o Duarte. Felizmente vivo num condomínio que tem espaços exteriores e aproveito para fazer alguns treinos. Como tenho piscina tenho ido nadar de fato e fazer outros tipos de treinos. Para além disso mantenho o contacto com a minha psicóloga, que às vezes é importante nestes tempos em que não estamos habituados a estar tanto tempo em casa. Também tenho aproveitado para estudar, estou a tirar um curso online. Além disso tenho visto alguns filmes, tenho visto muitos filmes de surf também, analisado filmagens antigas, heats meus antigos, tirado notas de vários tipos de coisas. No geral tenho aproveitado para fazer coisas que às vezes não se tem tempo no dia a dia normal que envolve estar o dia todo fora de casa. Claro que preferia estar a surfar mas há coisas positivas a tirar deste lockdown, podemos aproveitar para explorar áreas diferentes e desenvolver aptidões importantes para o surf e para a competição que às vezes exigem estes tempos diferentes e estar mais tempo em casa.

 

 

José Champalimaud
Nos últimos dias tenho ficado em casa. Foi muito difícil deixar de surfar mas estou a conseguir ocupar a cabeça com outras coisas. Faço treinos físicos todos os dias, ando de skate, vejo muitos vídeos de surf, e passo tempo com a família a fazer jogos de mesa, ver filmes e actividades em casa. Tenho mantido rotinas e a cabeça no sítio.

 

João Kopke
Tenho ocupado o meu tempo a gerir projectos a nível de comunicação. Ainda havia bastante conteúdo que tinha produzido com a White Flag Productions para sair, nesse aspecto ainda temos muito trabalho a fazer. A parte da gestão e planificação de novos projectos e talvez até na projecção de novos caminhos também tem ocupado o meu tempo. A crise económica que vai seguir a isto provavelmente vai mudar um bocadinho as nossas vidas. Nós dependemos essencialmente de marcas, que vivem do verão e das pessoas comprarem o nosso lifestyle, e não sei até que ponto é que isso vai existir este ano. No imediato, o nosso trabalho, produzir conteúdo e contar histórias, é possível com as reservas que nós tínhamos para lançar. Nesse sentido, se excluirmos a parte psicológica e mental de não poder fazer surf, até tem sido positivo pois podemos ter mais tempo para planear e etc. Estamos a trabalhar para que os danos sejam os menores possíveis e para que continuemos a trabalhar e a viver e ter este estilo de vida de sonho. Isto em termos de trabalho, muita planificação. Tenho dedicado muito tempo também a perceber o problema e a tentar encontrar soluções, não individualmente mas em conjunto, juntando-me aos movimentos que já existem para tentar ajudar o máximo possível. Em relação ao lazer, eu nunca quero ver filmes pois prefiro gastar o meu tempo com outras coisas, mas agora tenho conseguido ver tipo dois filmes por semana, que para mim é um mega recorde. Tenho tocado muito, tenho cantado muito, tenho lido bastante, estou a ver se adianto o “Maravilhoso Mundo Novo”. Nem tudo é mau, a verdade é que arranjei tanta coisa para me entreter que tenho tão pouco tempo como sempre, tirando à noite que vejo um filme.

 

 

Diogo Appleton
Nunca vi tanto as notícias como tenho visto agora, a televisão está ligada de manhã à noite, coisa que antes não acontecia. Ando a dedicar muito tempo a tentar ficar informado e tentar perceber o que se anda a passar no mundo e no nosso país. Ando a trabalhar bastante, focado na minha vida profissional já que o surf em si está-nos a ser tirado, portanto estou a investir todo este tempo para ver se evoluo em dinâmicas de redes sociais, melhorar o meu site, pesquisar, investigar, explorar e fazer novos modelos. Já fiz lives no instagram com o processo de fazer uma prancha do início ao fim. Têm sido dias calmos e serenos, é estranho ver a calma que está nas ruas. Eu estou a viver agora em Lisboa, em Campo d’Ourique e é assustador o barulho, às vezes é constrangedor, mas muito bonito. Eu estou muito perto do Jardim da Estrela e parece uma selva logo de manhã com o som dos pássaros, é incrível. É isso, espero que quando esta loucura acabar que ganhemos outra consciência e outra realidade e que possamos proteger o mundo de uma forma como não o estamos a fazer agora. Espero que no fim acabe tudo bem e que comecemos a dar valor às coisas que realmente importam e que sejamos gratos com as coisas que temos.

 

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