RIDING PORTUGAL, apresentado pelo surfista profissional, músico, cantor lirico e Storyrider, João Kopke, e produzido pela White Flag Productions, é, resumido numa linha, uma missão por Portugal guiada por uma prancha de surf. O principal objectivo desta série é responder a uma pergunta: na procura por ondas, que lugares e experiências mágicas terá o nosso incrível país para nos mostrar?

O primeiro episódio, “A Quest To The West”, já o viste e reviste com toda a certeza mas neste Scrapbook tens, em modo scroll down interativo de vídeo, fotografia e descrição (pelo teclado de João Kopke), uma boa parte por trás desta primeira aventura.

(Riding Portugal Ep.01 – “A Quest to the West” // TEASER)

 

Episódio I – A QUEST TO THE WEST
A Costa Oeste portuguesa era o nosso óbvio primeiro destino. Porquê? É a Meca do surf do nosso humilde país, o nosso Santo Graal das ondas, com a Nazaré, Peniche e Ericeira no centro da arena aquática na Europa e no mundo.

São lugares especiais: a Nazaré bate records de ondas grandes desde que o Garret Mcnamara surfou “aquela” onda há uns anos atrás – é agora a sua casa. Peniche é um dos dois únicos eventos da WSL a ser realizado na Europa. Supertubos é o seu principal brasão. Uma onda com quem (sim, quem) tenho uma relação intensa de amor/ódio e que já me proporcionou os melhores e piores momentos na minha vida surfística. Não é, no entanto, o único beach break que leva a malta ao delírio por aquelas bandas. Por fim, a Ericeira é talvez o melhor pedaço de costa do nosso velho continente para amantes do deslize nas ondas.

Apesar da crescente importância no panorama nacional e internacional de surf, estes lugares nem sempre foram vistos como terras de ondas. Outra coisa que estas três terras têm em comum é o facto de todas terem sido vilas piscatórias durante séculos. Esta outra vida do mar ainda faz parte da sua essência e toda a cultura destes lugares foi moldada por histórias de homens que partiam para o mar nas madrugadas, sem saberem se iriam voltar nessa noite para as suas famílias.

Só nos anos mais recentes é que estas vilas têm mostrado os primeiros sinais de transformação para verdadeiras “surf towns”.

Como é que esta transição aconteceu? E, mais importante, como é que estes lobos-do-mar do passado e do presente influenciam a vida que se vive, no OESTE. Esta é a pergunta que guia esta aventura.

O mítico porto da Nazaré, nos dias de hoje, é o palco de dois tipos de homens do mar: pescadores e surfistas de ondas gigantes. Photo by João Kopke

Nazaré
O Porto da Nazaré é talvez o lugar onde melhor se pode ver este paralelismo. Numa garagem podem estar guardadas redes de pesca e as boias. Na seguinte, as motas d’água e as pranchas de ondas grandes. Os barcos de pesca rumam a Sul, na procura pelos cardumes das várias espécies que habitam as profundezas desta costa. Quando há uma tempestade no horizonte, o porto é o seu abrigo. Os surfistas, por outro lado, anseiam por essa tempestade, vasculham as previsões para que, quando os jet skis cruzarem a segurança do porto, o destino seja o “Canhão da Nazaré” e as suas ondas gigantes.

Um peixe morto, lixo dos pescadores, faz o deleite de uma gaivota no cais. Centenas de peixes podem ser vistos a apodrecer por todo a doca. Photo by João Kopke

Peniche
Nos tempos mais recentes Peniche tem sido mais reconhecido pelos cilindros do mar. Mas nem sempre assim foi. Ademais de uma vila piscatória, Peniche foi a terra que albergou uma das mais temidas prisões políticas durante o Estado Novo. O contacto direto com as histórias que nos contou um testemunho vivo do que se vivia ali, nesse tempo, levou-me às lágrimas e as câmeras tiveram que ser desligadas. Agora um museu, é um lugar frio que nos fará sentir emoções fortes, mas uma visita obrigatória. Para que possamos ter um futuro melhor, o primeiro passo a dar é olhar para o passado. Esta era a mensagem que pretendia passar com esta cena, no documentário. Houve quem achasse que este momento acabou por parecer “pesado”, no vídeo. Talvez o tenha sido, mas para mim, um lugar como este, um lugar real, não poderia ficar de fora do RIDING PORTUGAL. O momento mais intenso de toda a aventura, para mim.

A antiga prisão de Peniche (hoje museu) tem uma carrega uma pesada carga histórica de Portugal, uma realidade que poucos surfistas têm em conta quando usufruem dos tubos de Supertubos, praia que enquadra a vista de muitas das celas desta prisão.

No meio do banco de areia que nos conduz à “Ilha” de Peniche. Este é o lugar que divide duas costas com orientações diferentes, característica que faz de Peniche um lugar tão especial. Quase todas as direções de vento são off shore em algum lado e ondulações diferentes proporcionam ondas de qualidade por toda a península. Acabámos por ser forçados a surfar mais a Norte, dado o mínimo tamanho do mar. Mas, mesmo assim, o mar divertido que apanhámos terá sido um dos últimos recursos disponíveis em Portugal naquela semana, no que toca a ondas. E ainda nos divertimos bastante num banco de areia, algures…

Um carve, pelas areias de Peniche.

Conhecer as pessoas de um lugar é a melhor forma de viajar. Um casal de anciãos das montanhas de Serra D’aire e Candeeiros, comigo, na foto em baixo. Por razões que me são desconhecidas, esta senhora estava extremamente feliz por me agarrar, com força, pelo braço, conversar comigo e beijar-me a face… um ligeiro grau de desconforto foi graciosamente sentido, sim, mas, no geral, os meus hóspedes eram a última batata do pacote. Vindos da Nazaré em direção a Peniche, este desvio para o interior foi um momento que, para um surfista, teria sido sempre algo estranho: não é fácil para nós estar longe do mar. Ainda assim, as paisagens da montanha e os céus cheios de estrelas fizeram a decisão valer a pena.

Um casal de anciãos das montanhas de Serra D’aire e Candeeiros. Gentes e sabedoria de outros tempos…

O Cabo Carvoeiro é um dos melhores lugares que tive a oportunidade de conhecer para ver o sol a desaparecer. Podemos ver nas colunas esculpidas pelo vento e pelo sal, as camadas de rocha empilhadas ao longo de milhões de anos. Parece que ali foram postas por um gigante. Para captar uma das imagens deste lugar, fui obrigado a escalar uma destas colunas de trinta metros de altura. Estava vento e a ficar de noite e um deslize teria consequências bastante desagradáveis (tipo, morrer). Durante os vinte e poucos segundos em que me aguentei em pose para a foto e para a filmagem, o meu coração esteve na iminência de me saltar pela boca. Não consegui conter os gritos dirigidos ao Nuno, o produtor, rogando para que, por favor, fosse rápido com o foco. O que se faz por um bom Instagram…

Pôr-do-sol no Carbo Carvoeiro, Peniche.

Ericeira
Esperámos o dia todo por um swell que “supostamente” estava para chegar. No último segundo, decidimos olhar para o mar nos Coxos antes do pôr-do-sol. Estava muito pequeno, mas eu adoro fins de tarde no mar, pelo que acabei por surfar quase sozinho numa onda conhecida por albergar várias dezenas, até centenas de surfistas.

 

As incríveis torres sineiras do Convento de Mafra, perto da Ericeira, são uma das atrações de um dos mais imponentes monumentos de Portugal, construídas no tempo de um dos nossos mais magnânimos reis: D. João V.  Muitos morreram no processo da sua construção, um prémio Nobel foi ganho a propósito de um romance escrito em seu nome e as nossas chaves do carro quase viram o seu fim escrito nos seus interiores. Por duas horas, estiveram perdidas, enquanto nós freneticamente as buscávamos no perímetro dos duzentos metros que circundam o monumento. Lá apareceram, mas perdemos meio dia de filmagens. Esteve-se bem.

As incríveis torres sineiras do Convento de Mafra, perto da Ericeira. Photo by João Kopke

Nick Uricchio é um dos ícones do surf na Ericeira. Integrou alguns dos primeiros grupos que exploraram ondas como os Coxos ou Ribeira D’Ilhas. É hoje um dos mais reconhecidos shapers de Portugal e, melhor ainda, parte a loiça na harmónica. O documentário acaba com um dueto na sala de shape: “Summertime, and the livin’ is easy…

Nick Uricchio e João Kopke improvisam uma jam session de luxo.

(Riding Portugal Ep.01 – “A Quest to the West” // Episódio Completo)

 

Podes seguir todas as Aventuras do João Kopke, muitas elas para lá do Riding Portugal, aqui!

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