O primeiro circuito mundial de surf organizado dava pelo nome de International Professional Surfing (IPS), que existiu entre os anos de 1976 e 1982. Seguiu-se a Association of Surfing Professionals (ASP), que eventualmente evoluiu para a actual World Surf League. Fica a conhecer o percurso dos surfistas portugueses até ao histórico top10 de Frederico Morais em 2021…
Anos 90 – As primeiras tentativas
O circuito com duas divisões, QS e CT, foi inaugurado em 1992, sendo que, anteriormente a esta fase, já alguns surfistas portugueses tinham competido em provas do circuito mundial, com pouco impacto. Esse foi um ano importante para o surf português, que teve o seu primeiro verdadeiro circuito nacional, com várias etapas e um bom prize money. O nível dos surfistas portugueses, tirando raríssimas exceções, estava muito aquém da média do circuito mundial, o que deu ao circuito nacional e ao europeu (EPSA) um papel importante de preparação para o futuro.
Em 1993 já alguns surfistas portugueses começaram a apostar mais no QS, com destaque as presenças nos oitavos de final de João Alexandre “Dapin” no Pukas Pro e de Marcos Anastácio no Staroup Pro, mas foi Rodrigo Herédia quem acabou melhor classificado no ranking, na 207ª posição. No ano seguinte tanto Herédia (que furou o top200 pela primeira vez) como Nuno Matta marcaram as primeiras presenças nos quartos de final em provas na Costa Rica e Pantin e João Antunes mostrou muito bom surf na etapa da Ericeira. No entanto mais alguns anos se passaram sem grande evolução ou dedicação ao circuito mundial e até ao final de 1997 a melhor classificação lusa no circuito QS foi o 137º lugar de João Antunes.
Classificações mais relevantes:
1992 – João Alexandre “Dapin” – 223º no circuito QS
1994 – Rodrigo Herédia – 176º no circuito QS
1997 – João Antunes – 137º no circuito QS
A era de Tiago Pires
Foi em 1998 que surgiu no circuito Tiago Pires, na altura com 18 anos, o primeiro surfista nacional a olhar para a qualificação com um objectivo sério de chegar à elite do surf mundial, o Championship Tour. Ao fim do seu primeiro ano a tempo inteiro Saca já tinha alguns resultados sólidos, acabando numa histórica 76º posição do ranking. Nos anos que se seguiram o surfista da Ericeira começou a quebrar barreiras, ficando à porta do CT logo no ano 2000, quando terminou a última etapa do ano em 2º lugar numa prova em que a vitória lhe garantia uma vaga no tour. Seria quase impossível enumerar todos os resultados históricos de Tiago Pires, mas entre as estreias destacam-se a primeira vitória portuguesa numa prova QS, a primeira final no Havai (2º lugar em Sunset), primeira vitória QS fora de Portugal (prova 5 estrelas no Japão), a primeira vez que um surfista liderou o circuito QS e, claro, talvez o momento mais importante da história do surf português, a primeira qualificação para o Championship Tour.
Foi em 2008 que Saca se estreou como membro do Championship Tour, um feito reservado apenas para os melhores entre os melhores. O português qualificou-se quando o tour ainda era constituído por 44 surfistas, permanecendo por 7 temporadas, apesar de numa delas ter ficado de fora por lesão. O seu 21º lugar de 2010 acabou por ser a melhor classificação da sua carreira, mas também se destacam três 3ºs lugares em etapas e muitas vitórias sobre praticamente todos os grandes nomes do tour. Depois de 9 anos no circuito QS e 7 no CT, Tiago Pires reformou-se do tour mas o seu trabalho estava feito, Portugal estava no mapa do surf mundial e o percurso estava delineado para outros o seguirem.
Classificações mais relevantes:
1999 – Tiago Pires – 76º no circuito QS
2002, 2002 e 2003 – Tiago Pires – 27º no circuito QS
2005 – Tiago Pires – 19º no circuito QS / Justin Mujica – 75º no circuito QS
2007 – Tiago Pires – 5º no circuito QS
2010 – Tiago Pires – 21º no Championship Tour
A geração seguinte
Quando Tiago Pires se afastou do surf competitivo a nível mundial, já a geração seguinte estava em full force, de olho em continuar o legado. Tanto Frederico Morais como Vasco Ribeiro, este último já com um título mundial júnior da WSL, mostrarem potencial desde cedo, mas foi Frederico quem conseguiu a qualificação. Em 2013 tornou-se no segundo português a fazer uma final no Havai, também em Sunset, e em 2016, ano em que venceu a sua primeira prova QS, na Ilha de Martinique, fez mais duas finais no Havai, ambas terminando em segundos lugares que mereciam ter sido vitórias, qualificando-se em 4º lugar no QS.
No primeiro ano no tour não parou de surpreender, batendo muitos dos nomes mais sonantes, e garantindo a melhor classificação de um português até aí, o 14º lugar. Outro destaque foi a sua final em Jeffreys Bay, um feito nunca antes conseguido por um português, e nunca repetido desde aí. Em 2018, depois de várias derrotas apertadas, e uma lesão grave antes da última etapa, ficou fora do tour por um lugar, garantindo mesmo assim algumas presenças no CT do ano seguinte. 2019 começou mal mas acabou por ser um ano muito marcante, com um 3º lugar na prova do Championship Tour do Brasil, e três vitórias no circuito QS, duas em Portugal e uma no Havai, em Haleiwa, tornando-se no primeiro português a vencer no Havai e o primeiro a vencer o circuito QS. Em 2020 a pandemia colocou o circuito mundial em stand by, mas Frederico ainda bateu o campeão mundial em título, Ítalo Ferreira, na final de um special event, o MEO Portugal Cup of Surfing. O seu momentum foi levado para este ano, conquistando vários resultados sólidos para acabar num histórico top10 do Championship Tour, um marco que ficara marcado para sempre no surf português.
Classificações mais relevantes:
2016 – Frederico Morais – 4º no circuito QS
2017 – Frederico Morais – 14º no Championship Tour
2019 – Frederico Morais – 1º no circuito QS
2021 – Frederico Morais – 10º no Championship Tour
O próximo objectivo seguramente será “furar” o top5 do CT. Será Frederico Morais, Vasco Ribeiro (se conseguir a qualificação para o tour) ou ficará a cargo de uma nova geração de surfistas nacionais?
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