A tempestade entrou, como se esperava, para o último dia do Montepio Cascais Pro e apesar de não haver condições para fazer a prova em Carcavelos havia um bom “plano B”. A praia de Santo Amaro está sempre mais protegida e nestas ondulações “fora de controle” é regularmente usada como escapatória para os surfistas da linha e arredores. E hoje foi a escapatória da Liga MOCHE.

Por volta das 12:30 já estava praticamente tudo montado e pronto para começar os quartos de final man-on-man da última etapa do ano. Apesar de estarem “surfáveis”, as ondas estavam bastante desordenadas e a escolha, ou a sorte na escolha, fazia toda a diferença.

Marlon Lipke era provavelmente o menos experiente nas ondas de Santo Amaro dos oito surfistas ainda em prova, mas isso não o impediu de dar algumas das melhores batidas de backside do dia para conseguir a melhor nota do seu heat. Mas Zé Ferreira fez “a sua magia” em duas ondas, ficando com duas notas sólidas e a vitória no heat.

De seguida Vasco Ribeiro impôs o seu forte ritmo competitivo a Francisco Alves, que encontrou algumas dificuldades em “negociar” os “degraus” nas suas ondas. Na sua última surfou mais perto do seu nível, mas era pouco e tarde já que Ribeiro tinha duas notas de 7 pontos a contar e venceu o seu heat.

A esta altura parecia que o surf de backside era uma desvantagem neste dia, até Nicolau Von Rupp provar o contrário. No seu heat contra Filipe Jervis, Nic começou logo com uma onda de 9.5, graças a três poderosas rasgadas de backside, que deixaram o seu adversário de imediato numa situação complicada. Filipe respondeu bem, com uma onda com uma boa variedade de manobras, mas nenhuma das secções era tão críticas e a nota saiu apenas 5.25. Von Rupp não conseguiu um back up alto e deixou a porta aberta para Jervis recuperar, mas este também não conseguiu melhorar a sua situação e foi eliminado.

Depois foi a vez de se realizar o primeiro de (potencialmente) três “title heats”, baterias que seriam instrumentais na decisão do título da Liga. Isto porque Tiago Pires precisava de vencer esta bateria e mais duas se quisesse superar Frederico Morais, mas o seu primeiro adversário do dia, Eduardo Fernandes, tinha outros planos. “Edu” é um homem “on a mission” e sem patrocínios luta heat a heat para conseguir continuar a seguir o seu sonho no QS. E foi essa garra que mostrou neste heat, usando a sua prancha bem colorida para destacar as fortes pauladas de backside e garantir uma liderança forte. Saca, por sua vez, era o grande favorito para vencer o seu heat e o campeonato. Quando ainda era júnior o (futuro) melhor surfista português de todos os tempos morava na linha e regularmente surfava e destacava-se neste pico, muito antes de começar a dar cartas a nível internacional. Mas neste dia não conseguiu escolher as ondas certas e apesar de ter mostrado bom surf, acabou mesmo eliminado, “oferecendo” assim o título ao seu amigo e rival Frederico Morais.

Seguiram-se as meias finais, que defrontaram mais uma vez Zé Ferreira e Vasco Ribeiro. Zé é talvez o melhor surfista português que ainda não venceu na Liga e mais uma vez percebeu-se porquê! Ferreira tem surf para disputar este título mas quando se cruza com Vasco Ribeiro nestas fases o surfista de S. João do Estoril consegue fazer o seu melhor surf e vencer. Desta vez fez duas ondas “down the line” cheias de manobras explosivas, e recebeu dois 8s, deixando Zé a precisar de uma nota excelente, o que não aconteceu.

Na outra meia final Nicolau Von Rupp também fez um par de 8s para bater Eduardo Fernandes, vingando a derrota na etapa anterior, quando foi derrotado no seu “quintal”. A final foi um encontro dos dois surfistas mais em forma deste dia, Ribeiro e Von Rupp. Nicolau mais uma vez mostrou que é de backside que faz o seu surf mais competitivo, e abriu com uma nota de 9.25. Vasco conseguiu notas de 8.25 e 6.50 para atacar a liderança, mas quando o goofy fez um back up de 7 pontos, quase que garantiu a vitória. No fim Vasco precisava de 8.31 mas não conseguiu fazer e o circuito acabou com mais uma vitória de Nicolau Von Rupp!

Comentários

6 comentários a “Nicolau Von Rupp vence o Montepio Cascais Pro”

  1. Fernando Fernandes diz:

    ( Zé é talvez o melhor surfista português que ainda não venceu na Liga ), interessante o ponto de vista, dá margem a muita conversa…
    Bem, Parabéns ao Kikas, Ao Nic, ao Saca, ao “melhor que ainda não venceu e a todos aqueles que de alguma forma, com humildade e vontade, estiveram dentro d’agua desde o round 1, desta e das outras 4 etapas anteriores.
    Perder em uma competição de surfe é algo bem relativo, cada um dos atletas presentes em cada etapa da liga Moche, tem seu incomensurável valor.
    Parabéns Pedro Henrique, não deixe que o descaso que lhe está sendo atribuído lhe entristeça, surfe é antes de tudo um estado de felicidade plena, com o tempo, acabarão por te aceitar e te ver como um igual. Aqui acontecem estas coisas. Veja só, você arrastou para Portugal o 1º título Europeu e ” Zé é talvez o melhor surfista português que ainda não venceu na Liga”, pouco ou nada de extraordinário se falou de sua ímpar conquista. Você ainda não estava aqui e aconteceu um fato surreal com o Eduardo Fernandes, ele estava em ótima fase e foi convocado para a Seleção Portuguesa, imagina só! Um Português nascido no Brasil, filho de Portugueses, optante por sua nacionalidade originária e disposto a tudo para enaltecer sua pátria no desporto, enfim, chamaram-lhe de o Liedson do surf Português e isso deu a maior polêmica, fez-me rir…
    Mas isso já é passado, contudo, como infelizmente, aqui o passado sempre se repete, não dê a mínima, siga seu caminho rumo ao WCT e quando aí chegar, vamos ver o que eles falam.
    Mas o assunto é a Liga Moche e então vamos lá, que 2016 venha com o maior número possível de etapas, com uma premiação justa e que motive os atletas, que os comentários sejam justos e as notas tão demoradas a sair, venham acompanhadas de verdade e sem favorecimentos, que os do bem, continuem do bem e que os invejosos e aldrabões do mal, procurem outros caminhos, pois não fazem a menor falta.
    Meus agradecimentos aos patrocinadores, sem vocês nada haveria no Surfe deste país que se lança internacionalmente como destino turístico de ondas surfáveis de alta qualidade.
    Para encerrar, vai uma mensagem que aqui ficará registrada e que tem morada completa, tal mensagem vai para o meu filho, Eduardo Fernandes, mas também, para todos aqueles que nela se enquadrarem:
    Filho, meu maior orgulho não está em você ter ganho em Praia grande, nem de ter ficado em 3º lugar em Cascais, meu maior orgulho foi ver que você é um homem de fibra e coragem, foi vê-lo cheio de dor competindo as 3 primeiras provas, se expondo ao descrédito e a críticas, a dar a oportunidade para acharem que você estava acabado. Quando você faz o que fez, você mostra de que fibra é feito, de qual ferro foi forjado e que merece todo respeito e admiração daqueles que te conhecem, não só como excelente atleta, mas principalmente como uma pessoa obstinada, humilde e apaixonada pelo que faz. Força Edu, força Pedro, força pra você que aqui não citei. Força, foco e determinação, ao menos este PORTUGUÊS aqui estará torcendo sempre por vocês.

    • Boa tarde. De facto o Pedro Henrique é um português tão recente que ainda nos esquecemos dele, não foi descriminação. Na verdade o comentário mais correcto diria que o Zé é um dos melhores portugueses que ainda não venceu na Liga. Não nos podemos esquecer de nomes como Filipe Jervis, Miguel Blanco, Pedro Henrique e ainda faltam mais dois ou três para esta lista ficar completa. Sorry…

      • Fernando Fernandes diz:

        Boa tarde. Obrigado por responder.
        Só me resta uma pergunta a fazer para encerrar definitivamente este assunto. De quanto tempo é necessário para se ser considerado um português com antiguidade?
        Pelo que sei, só portugueses podem competir no Nacional, então, porque não dizer: Que o Zé é um dos melhores atletas, competidores, participantes, etc… que ainda não venceu na Liga, o Zé é um competidor, tem um talento enorme e não existe esse estigma de cruzar com o Vasco e perder, o surfe tem muitos fatores naturais e quem sabe até “sobrenaturais”, basta ver o Slater e por vezes o Medina. Baterias se passam em minutos molhados, e o Zé é capaz de vencer a qualquer, desde que haja a conjuntura certa para isso, respeitar o adversário sempre, temê-lo jamais.
        E de uma vez por todas, Português é Português, não tem Português recente e nem Português com data de validade.
        Abraço a todos.

        • Ola Fernando. Concordamos plenamente que “Português é Português, não tem Português recente e nem Português com data de validade”. A única desvantagem para quem se naturalizou recentemente é que poderá haver um esquecimento ou outro, mas não será por nenhuma razão senão a “força de hábito”. De resto consideramos um previlégio ter surfistas do calibre do Eduardo ou Pedro Henrique, ou mesmo Justin Mujica, Marlon Lipke, Nicolau Von Rupp, Guga Gouveia, Almir Salazar e muitos outros que só trouxeram coisas boas ao surf português!

          • Isabel diz:

            Pelo que sei o Nicolau é Português, nasceu em Portugal e nunca viveu noutro local que não em Portugal…

          • Ola Isabel, sim, mas tal como o Marlon Lipke, até há pouco tempo competiam pela Alemanha e optaram por passar a representar o nosso país!