Confesso que nos últimos tempos, diria nos últimos 3 anos, já não acompanho em directo o circuito mundial online (em streaming). Não encontro uma razão óbvia, talvez o facto de haver transmissões em broadcast, talvez fique aborrecido com os 27 minutos que sobram para os surfistas remarem à procura das ondas… Todavia, nem que seja porque faz parte da minha profissão, mantenho-me atento, informado e, aqui e ali, exploro as opções e encontro as minhas opiniões.

Assim, e até porque, recentemente tem aumentado o número de críticas em relação às transmissões online da WSL (ex-ASP para os mais distraídos) sobre aquilo que possa vir a ser um serviço de streaming pago (pay per view), não quis deixar de reflectir sobre o assunto.

Este é um tema que na minha opinião, e apesar de o surf ter sido pioneiro nesta proposta (streaming grátis), deixou de ser assunto há muito tempo. Quero dizer, deixou de ser assunto na sua perspectiva comercial, porque no perspectiva legal, deveria estar a ser discutida até à exaustão.

E as razões são simples – comercialmente o serviço de streaming/webcast (fundamental esta distinção. Já que são dois serviços distintos…) deverá ser pago ou viabilizado pelas marcas que pagam os eventos, ou talvez até um elemento de negociação em exclusividade com uma qualquer marca/serviço como o são os vários suportes de comunicação dos eventos (ainda recentemente foi apresentado pela WSL o apoio da Tag Heuer para o “relógio” oficial do Circuito de Ondas Grandes). Porém, há um factor decisivo nos valores que deveriam estar imputados às transmissões online e que não tem sido tidos em conta, muito menos tem sido discutidos ou sequer analisados, que são os valores inerentes aos direitos de exploração de imagem e que devem ser acautelados.

Naturalmente, a WSL estará precavida desta temática, sendo que nas clausulas contratuais dos surfistas do tour, acredito eu, constará a devida permissão para a exploração dos direitos intelectuais e imagem. Todavia, é fundamental, que este tema seja explorado pelos mais diversos intervenientes, principalmente pelos surfistas, já que são eles os mais prejudicados, bem como, curiosamente, a WSL.

As razões são várias, mas além das legais, (apesar de estarem contratualmente contempladas, são “frágeis”…) existem as financeiras, e aqui entram os valores pagos aos surfistas, claramente insuficientes, e os valores gastos pela WSL na realização das provas, também claramente insuficientes. Ou seja, se por um lado temos um baixo valor pago aos profissionais para cederem a sua imagem, por outro temos um promotor que o único suporte financeiro que tem é o operacional e prize money, sendo este último, o único valor pago aos surfistas (em muitos casos não há prize money). Sendo esta uma situação completamente incompreensível, aliás, diria ultrajante, já que um qualquer surfista com baixo ranking, ainda a explorar o QS de baixa premiação, aparece online para um numero de IPs não monitorizado por ele e sem receber o retorno de tal exposição. Adiciono ainda o facto, de que os tempos mudaram e que hoje a grande maioria dos surfistas não tem patrocínios, logo não estão a comunicar nada, nem ninguém, apenas eles próprios.

Em suma, estamos perante um “sem-fim”, no qual a única solução é o pagamento do serviço que fornece a imagem dos protagonistas, nem que seja porque desta forma o mercado está a colocar valor directo nos indivíduos que cedem a imagem, bem como há um impacto imediato entre pagante/serviço, ou seja, os surfistas estarão a receber o valor real do numero de pessoas reais que os estão a ver. Negócio justo portanto.

Curiosamente, no meio das várias criticas, há uma que parece ter mais força, que é o facto de ser grátis há muito tempo, logo haverá uma negatividade no pagamento. Talvez seja verdade numa primeira fase, mas a internet já não é necessariamente significado de grátis e se houver a oferta dos dois serviços, grátis e pagante, facilmente encontram-se formas de dinamizar a escolha entre uma oferta e outra.

Uma coisa é certa, este é um caminho sem retorno, e se numa determinada altura o Surf foi pioneiro, neste momento é fundamental que se pense porque outros desportos com muito mais impacto financeiro nunca optaram por serviços online grátis.

Pedro Soeiro Dias

Sobre o Autor:
Pedro Soeiro Dias | Individualista, enigmático, muito atento e crítico em relação a tudo o que rodeia. A convicção e a solidez com que defende os seus pontos de vista transmitem muitas vezes a ideia de arrogância.
Tem 36 anos e desde os 16 que tem prancha.
É realizador de formação e no início do século ainda explorou a indústria, mas a celeuma do mercado, fez com que se dedicasse à escrita.
As viagens marcaram o seu processo de maturação e, recentemente, viajou até ao Havai, cumprindo um dos seus sonhos.
Vive, trabalha e surfa na Ericeira.
A paixão por “marcas” aliada a traços de personalidade que lhe conferem extrema sensibilidade para o marketing redesenharam o seu percurso profissional. Hoje é um marketeer apaixonado.

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