Estou baralhado. Não consigo perceber o que se passa nesta carambola sobre o Ribeira Surf Camp de Ribeira d’Ilhas na Ericeira. Ouve-se falar, comentar, protestar, mal-dizer e contestar. Ouvem-se contradições, desdizeres, gritos de revolta e choros de tristeza. Ouvem-se os contestadores, ouvem-se os contestados.

Há quem defenda em prol da criação das infra-estruturas, há quem defenda a estabilização das arribas. Há quem conteste a “expropriação” do terreno, há quem comente que a onda se perderá.

E a verdade? Quem contesta sobre a verdade? Ou protesta com a ausência dela? A confusão embrulha-me os neurónios num dilema sem saída. Quem tem razão? Quem está em falta? Quem não cumpriu e quem fez a sua parte? Opto por registar as incoerências das duas partes em vez de tomar partidos.

Quando se falou nesta notícia pela primeira vez, foram feitas acusações de expropriação de propriedade. Foi dito… não! Foi exclamado que a polícia chegou sem aviso prévio, fechou a estrada e mandou despejar tudo. No início dizia-se que o Tiago Oliveira (alguém que eu respeito) não tinha sido contactado pela Câmara de forma a chegarem a um acordo, “a Gentleman’s Agreement” como alguém me disse. Mas agora já se diz (inclusive o Tiago Oliveira na sua resposta ao “Saca”) que a Câmara é que rejeitou um acordo. E então? Em que ficamos?

Como pode a Câmara rejeitar um acordo sobre o uso de um terreno privado ao qual não tem o mínimo direito? Como pode ir a Polícia fechar um espaço privado com uma ordem judicial? A corrupção das Câmaras tem um alcance tão grande que chega aos tribunais? E o que é que se dá a um juiz? Um escritório em Ribeira, na praia?

E a onda? Vai ser prejudicada pela criação de estruturas que beneficiem o único rendimento com saldo positivo que Portugal tem: o Turismo?! Sim, se calhar em termos de localismo, talvez afecte. 1000 pessoas por dia parece muita gente para pessoas com palas nos olhos que não olham para lá do que se vê. Mas tenhamos em consideração dois pontos: Mesmo que passem 1000 pessoas (?) por dia ali quantas dessas, farão surf? E dessas, quantas ficarão a surfar naquela praia com uma multidão dentro de água e quantas irão procurar outra alternativa com menos crowd como tanta gente faz? Mas o mais importante é: em que medida é que a onda em si será afectada e destruída? Com um apoio de praia bem necessitado construído fora de água? Fora do raio de acção da onda e do seu fundo?

Por outro lado, todos sabemos como funcionam as Câmaras Municipais neste país. É um facto que a Ericeira veio a perder um pouco do seu brilho com tantos prédios e condomínios a serem construídos em tão pitoresca vila. E se é certo que o progresso existe e temos que andar para a frente, porque não fazê-lo com classe e encaixando-o na cultura existente do espaço, vila ou cidade? O “Saca” realça com razão, o absoluto pesadelo que é a estrada de Ribeira. O apoio parece-me útil também, mas porque é que no início só se falava em betão e agora já se fala em madeira na construção eminente? Afinal qual é a decisão da Câmara? Parece-me um factor importante.

E aos Srs. da Câmara envolvidos nesta questão: Não seria, por ventura, melhor para o nosso país estarmos todos unidos e a arranjar soluções que consigam agradar uma maioria (visto que não se podem agradar Gregos e Troianos)? Mas mais uma vez, acumulam-se mais perguntas do que respostas. Parece-me que até o Tiago Oliveira tornar pública essa tentativa de acordo com a Câmara, até virem à tona d’água (brilhante expressão para usar no mundo do surf) os documentos judiciais da expropriação, até conseguirmos saber todos os pormenores desta carambola por nós próprios em vez de pelo o que os outros dizem, não me parece justo tomar um partido.

Parece-me mais relevante o que não sabemos, do que o que sabemos.

Pedro Jervis

 

Notas Finais:
– As opiniões expressas nesta texto não são necessariamente as mesmas que as da ONFIRE ou pessoas relacionadas com o autor;
– O autor não segue o novo acordo ortográfico por opção própria (aliás, como o staff da ONFIRE).

Sobre o autor (um dos mais recentes blogger da ONFIRE):
Pedro Jervis, 23 anos, surfista desde os seus 12. Actualmente a viver em Inglaterra, a estudar Engenharia de Som, dá aulas de surf regularmente em S. Torpes, onde aprendeu a surfar, onde surfa e onde tirou o Curso de Professor de Surf – Nível 1. Apaixonado pela leitura desde os 7 anos de idade, Pedro Jervis, irmão do surfista profissional Filipe Jervis, já devorou mais livros do que ondas!

 

Comentários

7 comentários a “Ciclo Vicioso das Verdades (In)Convenientes | by Pedro Jervis”

  1. Pacifier diz:

    Infelizmente o que se passa em Ribeira D´ Ilhas é o que se passa pelo país inteiro. Veja-se o exemplo do Narciso na Praia de Carcavelos, onde câmara de cascais, e instituto da água tentam roubar desde o início do ano 2002 o empreendimento aos legítimos donos, que mais não puderam fazer do que recorrer a tribunal. Já chegou ao Supremo, as provas a favor da família Narciso são evidentes, mas a justiça funciona de forma misteriosa e surpreender-me-ia se a família ganhasse. O Estado é demasiado poderoso em Portugal e os juízes estão demasiado ocupados a defender a lei, estão-se a borrifar para factos e para justiça. Viva o Estado, viva a Corrupção, viva!!!! – Força Ribeira D´ Ilhas, ainda têm a sorte de ter à vossa volta gente que se preocupa!!!

  2. Pedro Machado diz:

    Se o Pedro Jervis está baralhado, e é normal que esteja se está a acompanhar o assunto à distância, o melhor seria ter-se informado antes de ter debitado esta diatribe com que nos “presenteou”. E é triste que a Onfire lhe dê espaço para escrever sobre um assunto sobre o qual ele visivelmente nada sabe, porque apesar de não passar de um blogger e da sua opinião não responsabilizar a revista, existe na minha opinião uma obrigação de informar o seu público num caso tão sensível como este, que é de todo desvirtuada com este artigo.

    Talvez por ser novo, o Pedro não saiba que a onda de Ribeira D’Ilhas é hoje substancialmente pior do que era há uns anos, exactamente porque a câmara de Mafra, dirigida pelas mesmas pessoas, decidiu alterar o curso do rio que hoje debita areia, colocada também artificialmente pela mesma câmara, e que a coloca onde nunca houve, no inside da onda e à frente das pedras entre Ribeira e o Alibaba. Talvez também não saiba que esta mesma câmara é responsável pela colocação do emissário submarino que debita esgoto e resíduos mesmo no meio da onda. Talvez não saiba que o projecto da câmara contempla uma nova intervenção no curso do rio, cujo impacto na onda é imprevisível. Talvez não saiba que todo o projecto para a zona comercial assenta numa sapata de betão que sai de fora do terreno, a mais de um metro de altura. Talvez o Pedro, tal como o Saca, defenda um acesso “confortável” à praia, quiçá com duas vias para cada lado e separador ao meio,mas provavelmente não sabe que a resolução desse problema do estacionamento e do acesso a Ribeira D´Ilhas nada tem que ver com a expropriação do surf camp, uma vez que aquele estacionamento da praia até vai desaparecer, e mesmo que quisessem alargar a via de acesso, o que não vai acontecer, não seria preciso, nem possível, expropriar toda a propriedade e sim só a área estritamente necessária. Talvez não saiba que os únicos que defendem a nova infraestrutura a construir pela câmara são basicamente os que nela têm algum tipo de interesse e os que não conseguido formar uma opinião, canibalizam a de um líder de opinião fazendo-a sua. Talvez não saiba, que excepção feita ao Saca, os outros cujos interesses são contemplados no novo projecto, só o apoiam através do seu silêncio envergonhado. Talvez não saiba que sobre a expropriação, que o Pedro opta, por razões que só ele sabe, por colocar entre aspas, não foram acusações, foi uma expropriação de facto, com todas as letras e sem aspas. Talvez não saiba que a câmara já foi grande defensora do projecto do Ribeira D’Ilhas Surf Camp antes de outros valores mais altos se levantare. Talvez não saiba que esse era o gentleman’s agreement, até porque o projecto já estava aprovado por outras entidades. Talvez não saiba que só haviam gentleman’s de um dos lados. Talvez não saiba que a partir do momento em que a câmara decidiu que queria o surf camp para si, nunca esteve em cima da mesa nenhum acordo que não passasse pela saída de lá dos proprietários. Talvez não saiba que quando se investe muito dinheiro e muito tempo, dez anos de vida e muito sacrifício num projecto, quando ele é nosso, quando o terreno é nosso, e ele foi posto de pé com o nosso trabalho e o nosso esforço para construir um lugar com alma e que respeitasse a essência do lugar, não se sai dele porque sim, porque os podres poderes instituídos dizem que temos que sair. Talvez não saiba como é que a câmara pode fazer o que fez. Talvez não saíba o que é o estatuto de utilidade pública, ou como é utilizado, ou no caso, o como deveria ser. Talvez não saiba como funcionam os nossos tribunais, sobretudo os das comarcas de província. Talvez não saiba quais são as estruturas que beneficiariam o turismo no caso de Ribeira D’Ilhas. Talvez não saiba porque é que Ribeira D’Ilhas é procurada e conhecida por surfistas do mundo inteiro. Talvez não saiba que Ribeira D’Ilhas é muito mais do que só a sua onda. Talvez não consiga perceber a alma e a essência de Ribeira D’Ilhas. Talvez tenha palas nos olhos e não veja para lá do que a maioria de nós consegue ver. Talvez não perceba, por ser jovem que a Ericeira perdeu mais do que um pouco do seu brilho, muito mais, exponencialmente mais. Talvez não perceba, ainda novamente por ser muito jovem, o que é realmente o progresso. Talvez não perceba a cultura de Ribeira D’Ilhas. Talvez não perceba que o legítimo proprietário de um terreno e de um projecto não tem que lhe mostrar coisa nenhuma. Talvez não saiba quem são os Gregos e quem são os Troianos, embora a analogia seja muito bem escolhida, porque é mesmo de Gregos de cavalos de Tróia que se trata.

    Se o Pedro sabe disto tudo o que escreveu é gravíssimo, se não sabe mesmo nada como aparenta, também é grave que escreva com esta veemência sobre um assunto de que nada sabe. Por isso sugiro ao Pedro que se informe, que processe com calma essa informação e que então depois então dê a sua opinião sustentada, a tal verdade! Pois é para isso que servem os tais neurónios, que andam tão confusos exactamente porque estão desinformados. Talvez nessa altura o Pedro perceba quem tem razão!
    Pedro Machado

    PS: O partido do Pedro é tão claro como a água de Ribeira D’Ílhas, quando não há descargas da ETAR claro!

    • Jose Maria Pyrrait diz:

      Grande Pedro, saber que ainda existem portugueses como tu, faz-me olhar para este país com uma réstia de esperança. Putos, olhem á vossa volta, formem opiniões, pensem sobre as coisas e não comprem as opiniões e pensamentos que vos impingem. Eu sei, dá mais trabalho mas é muito mais reconfortante e útil.
      Ass: José Maria Pyrrait

  3. Luis M. diz:

    “Como pode a Câmara rejeitar um acordo sobre o uso de um terreno privado ao qual não tem o mínimo direito? Como pode ir a Polícia fechar um espaço privado com uma ordem judicial? A corrupção das Câmaras tem um alcance tão grande que chega aos tribunais? E o que é que se dá a um juiz? Um escritório em Ribeira, na praia?”

    A sério que escreveste isto..? Este tipo de questões retiram-te toda a credibilidade para escreveres sobre este assunto… o que faz deste post tão relevante como a opinião do Sr que vende gelados na praia em Espanha.

  4. Eduardo Mascarenhas diz:

    Quanto á onda factor relevante não so para a reserva mundial, tem a ver com a intervenção na Ribeira, que advém da criação de um parque de estacionamento tipo supermercado com capacidade para centens de carros, que vai obrigar á terraplanagem do terreno que serve de esponja para a ribeira no inverno, e serve de parque de estacionamento natural no verão com capacidade para centenas de carros também…essa criação do parque e assentamento das terras adjacentes á ribeira, como é óbvio vai interferir e muito, na onda porque vai desviar artificalmente o leito, pelo projecto aponta inclusive para o meio da praia de ribeira, em que se o areal já é minusculo, ontem parti-me a rir a ver as 100 pessoas que estavam na praia fugir das ondas com tudo encharcado, como se impermebalizações, e semi impermeabilização de terrenos adjacentes á ribeira não vai influenciar a onda? o trabalho da camara de intervenção deveria de ser ecológico e sustentável, melhoria do acesso, melhoria e manutenção do parque natural que já lá existe, estabilização da ribeira estudando a orientação de despejo que menor impacto terá na onda, amterias recicláveis, manutenção das carcteristicas do local e da envolvente….já agora para quem não se lembra são exigências da World Surf Reserve, que inclusive emitiu em comunicado oficial a sua posição. em relação ao acordo é simples, a camara fez uma proposta, eles fizeram uma contra proposta e a camara deixou de falar com eles…isto p+orque gastar dinheiro só em sustentabilidade eengenharia ecologica não dá dinheiro, mas betão, terraplanagem, materias novos e comprados a monte, impermeabilizações de solo, materiais de semi impermeabilização isso sim dá dinheiro imediato, assim como depois a melhor forma de rentabilizar é cortar a arvore que era de todos, fazer umas sombras manhosas e cobrar por isso…mete-me impressão que nem sou surfista a forma como vocÊs em vez de aprofundarem a informação, se deixam levar pelo diz que disse mantendo os politicamente correctos e os “amigos” em alta queimando os “amigos” em baixa…é só ir ler os documentos, o projecto todo, a forma como foi prosposta e aprovada na assmebleia, o que se passa no tribunal de contas com a obra, isto para não falar no curriculum da camara de mafra no que a conservação e surf diz respeito…se vocÊs realmente se unissem pelas ondas estas coisas não aconteciam de certeza, é o que o save the waves, com o world surf reserve está a tentar, ir contra exactamente estes lobbies camarários de construção e aqui têem dúvidas…??!!!