O sentimento de pertença existe desde sempre em todos os segmentos da nossa existência, a sobreposição de poderes é avaliada por parâmetros hierárquicos ou locais. É desta forma que flutuamos por cima de subjugados ou nos encolhemos perante superiores momentâneos ou por outro lado, também podemos tentar contornar toda a lógica (como se houvesse uma lei universal) e seja em que situação for ou com quem for passamos por visionários oportunistas.

A minha opinião em relação ao localismo, no que ao surf diz respeito, é bastante clara e presumo, parecida com a grande maioria – Se existirem surfistas existe localismo. Em situações bem menos complexas temos alguns ataques de possessão desmedida, seja naquele determinado lugar de estacionamento em frente à porta de casa, o poiso na faculdade ou o canto da pista da discoteca lá da terra – casos em que existe pseudo-localismo. Já a apropriação legítima de tal pedaço de costa, é feita por aqueles que, por inerência do tempo que passam de molho no pico, mostram cara feia quando são confrontados com a invasão do forasteiro, ditam as regras do bom comportamento e… apanham umas à tua frente.

Em determinados sítios, o localismo tornou-se um utensílio de filtragem e orientação perante as mais diversas atitudes e/ou excesso de à vontade perante o próximo. É frequente ver, em alguns dos line-ups mais congestionados da nossa costa, a atitude do “deixa ver se pega”, ou a aquela “sou daqui desde pequeno”. É por estas e por outras que os guardiões do pico passam muitas vezes por maus da fita.

O localismo é um dado adquirido, não é algo que se possa construir ou desconstruir. Está inerente ao processo de maturação dos surfistas e demais utilizadores constantes do pico. O que se pode e deve fazer, é educar e procurar a melhor forma de gerir os pontos mais cinzentos existentes na batalha das prioridades.

Muitas vezes, até o próprio desconhecimento serve para criar problemas em momentos de descontracção. É por isso que regular o local onde se surfa é algo que acaba por ser útil e vantajoso para todos. Se não vejamos, não havendo localismo iria sempre imperar a lei do mais forte, por outro lado, se houver algum “alcaide” bem intencionado, consegue gerir-se a coisa de forma a que até o mais “maçarro” consiga pelo menos apanhar uma no rabo da mais pequena do set.

Sobre o Autor:
Pedro Soeiro Dias | Individualista, enigmático, muito atento e crítico em relação a tudo o que rodeia. A convicção e a solidez com que defende os seus pontos de vista transmitem muitas vezes a ideia de arrogância.
Tem 33 anos e desde os 15 que tem prancha.
É realizador de formação e no início do século ainda explorou a indústria, mas a celeuma do mercado, fez com que se dedicasse à escrita.
As viagens marcaram o seu processo de maturação e, recentemente, viajou até ao Hawai, cumprindo um dos seus sonhos.
Vive, trabalha e surfa na Ericeira.
A paixão por “marcas” aliada a traços de personalidade que lhe conferem extrema sensibilidade para o marketing redesenharam o seu percurso profissional. Hoje é um marketeer apaixondado.

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