Para um surfista como Nicolau Von Rupp a vitória era o único bom resultado possível no Moche Capítulo Perfeito. E este campeonato não lhe podia ter corrido melhor pois o surfista da Praia Grande acabou o dia 7.000 euros mais rico e com mais uma taça para juntar a todas as outras que conquistou. Mas mais do que isso, Nic consolidou o seu estatuto de força dominante em todo o tipo de ondas! A ONFIRE falou com ele menos de 24 horas depois de levantar a taça para lhe arrancar algumas palavras sobre a sua primeira vitória do ano!

Nicolau, havia algum adversário que receavas mais do que outros?
Sim, o Ivo Santos, apesar de ter estado um pouco apagado nos últimos anos é um grande tube rider e está sempre presente nas melhores sessões do ano em picos como a Peralta e os Supertubos ou Pedra Branca. Ele sempre foi uma grande inspiração para mim, pois cresci a vê-lo dar grandes tubos. Era quem eu receava mais juntamente com o Marlon Lipke. Havia também o Filipe Jervis, que é um tube rider incrível apesar de ainda pouca gente ainda ter noção disso, o Rodrigo Herédia e o Tomás Valente. Praticamente todos eram muito bons em tubos!

Treinaste muito para este campeonato?

Eu acredito que certos surfistas tenham feito o esforço de ir para Supertubos constantemente para treinar naquelas condições, mas para mim não é treino. É o mar que eu mais gosto de surfar. Se houvesse Capítulo Perfeito ou não, eu ia estar naquela sessão de treinos. Há cinco anos que faço isso, com ou sem evento, por isso não considero que tenha treinado, é uma paixão para mim!

As condições mudaram bastante a meio do dia, com a entrada no on-shore. Tiveste de adaptar muito a tua estratégia ou mantiveste a mesma?
Eu nunca pensei que este se fosse tornar num campeonato de manobras. As pranchas que tinha ali eram só “pins” e quads, que são pranchas com que eu nem tento fazer manobras. Para além disso tinha-me magoado no joelho no dia antes e fui visto pelo Nuno Morais, da Fisiotrauma, que me tinha feito uma recomendação muito explicita: não fazer manobras pois só me ia magoar mais. Foi um bocado um choque quando me disseram que, como as condições tinham mudado, ia passar a contar manobras. Mas eu tinha ido lá para fazer tubos por isso decidi levar a minha quad pin na mesma e andei atrás deles.

Mas nos quartos de final fizeste uma nota de 8 pontos com duas manobras…
É engraçado que eu nunca tinha feito manobras com aquela prancha, o posicionamento daquelas quatro quilhas é mesmo para os tubos. É muito rápida para a frente mas para fazer cutbacks… não vale a pena! Mas, por acaso, fiz aquela onda em que dei uma rasgada e um reentry. Tenho momentos em que não penso, simplesmente vou! Quando vi a filmagem percebi que me podia ter magoado à séria, a junção era praticamente um tubo para a direita (risos). Mas correu tudo bem, passei o heat à mesma.

Fala-me da onda do 10!
Surgiu do nada. Eu sabia que a alguma altura ia entrar uma esquerda e que me ia mandar para dentro. O Marlon parecia estar no sítio certo para apanhá-la mas afinal estava um bocado mais para fora. Eu vi aquilo como uma oportunidade, as minhas quatro quilhas agarraram-se à parede de uma maneira incrível e quando senti o bafo nas minhas costas achei que ia ser um 9 e tal ou 10! Basicamente foi a melhor onda que entrou naquele dia, não foi o melhor tubo da minha vida mas como não estava à espera de fazer tão boas notas ainda soube melhor.

Sentiste que a final estava ganha com essa onda?
Não porque o Marlon apanhou a onda a seguir e eu achei que ela ia ter mais pontos. Teve cinco mas se não tivesse sido logo a seguir à minha onda, ou se tivesse sido noutro heat, tinha tido uma nota mais alta. A minha era mais pesada e o bafo também deve ter impressionado os júris e se calhar o “claim” também ajudou!

Para terminar, o teu “claim” foi bastante expressivo! Foi espontâneo ou…

Foi super espontâneo. Eu sou uma pessoa de “claims” mais humildes mas aquela onda deixou-me tão emocionado… eu não estava nada à espera. O drop foi tão intenso e quando consegui sair foi aquele “boost” de emoções que não consigo explicar. Foi incrível, não estava a acreditar que aquela onda tinha vindo ter comigo. Fez-me lembrar uma visão que eu tive na Irlanda, quando entrei num tubo e saiu o bafo. A água estava castanha, e não via nada mas sabia que tinha de acertar a linha para sair do tubo. Foram momentos semelhantes, e incríveis, para mim!

 

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