A semana que passou foi bastante atípica para Nicolau Von Rupp. De regresso da Nicarágua, onde se sagrou vice-campeão do mundo no ISA World Surfing Games e ajudou a selecção portuguesa a chegar a um histórico 2º lugar por selecções, a procura dos media a este surfista tem sido grande o seu nome tem aparecido em todo o tipo de meios de comunicação. Mesmo assim Nic cedeu uns minutos à ONFIRE para falar da sua primeira participação na selecção portuguesa.
Não estava a ser um bom ano a nível competitivo, sentiste que na Nicarágua se fez um “click”?
Não, estava-me a sentir bem com o meu surf. Tanto no Prime de Trestles como em Saquarema estava consistente e não tirei um resultado lá por acaso, perdi dois heats muito apertados. Mas competição é assim, toda a gente surfa muita bem, tens é que esperar pela tua vez até tirares um bom resultado.
Já conhecias a onda do campeonato?
Não, já tinha ouvido falar de Popoyo, mas o “outer reef”, não conhecia o reef do inside. Deu altas ondas, todos os dias estava de sonho, um metrão off-shore, esquerdas e direitas, mesmo bom! Era uma onda muito fácil de surfar, principalmente de backside. Estava tudo a partir, o Vasco (Ribeiro) (no free surf) fazia 9s em todas as ondas, o Miguel (Blanco) e o Zé (Ferreira) também estavam a surfar muito. Eu não era o que me estava a destacar mais no free surf, para dizer a verdade. Demorei mais tempo para me adaptar e encontrar a prancha certa, mas nos últimos dias antes do campeonato já estava muito mais confiante.
Tu fizeste o campeonato todo no main event. Isso deu-te mais confiança, por saberes que tinhas mais uma hipótese mesmo se perdesses?
Chegou a uma altura que o main event estava mais fácil que as repescagens. Estavam lá os portugueses mais o Damien Hobgood, Carlos Munoz, Nathaniel Curran, Miguel Tudela, surfistas muito fortes que já tinham perdido. E eu já estava com o “mindset” de ter de me manter no main event pois era mais fácil de chegar mais long.
Muitas das tuas melhores ondas foram muito semelhantes, davas um grande carve de rail lá fora e no inside arriscavas um pouco mais. Era a tua fórmula para o sucesso?
As ondas são todas muito parecidas mas os heats dos ISA são muito curtos, 20 minutos não dá praticamente para nada por isso foi o “stick to the basics” e não mexer na equipa quando está a ganhar.
Como foi o acompanhamento da equipa técnica da selecção nacional?
Eu estou habituado a viajar sozinho por isso foi muito diferente. O surf é um desporto muito solitário, não estou habituado a ter um treinador na praia, mais uma pessoa a tratar-te das coisas. Normalmente reservo o meu próprio hotel, apanho o autocarro ou alugo um carro sozinho, estou habituado a orientar o meu próprio caminho. Mas este acompanhamento e ter uma equipa a apoiar fez toda a diferença! Foi a primeira vez que competi pela selecção retirei muito da experiência, aprendi muito. No passado competi pela Alemanha mas nunca representei a selecção alemã pois sempre competi sozinho. Nunca tive o acompanhamento e trabalho em conjunto que se fez neste campeonato. Nesta vez lutei mesmo com “unhas e dentes”, tínhamos uma equipa, queria mesmo que nos déssemos bem!
Chegaste à final com confiança para ganhar o evento?
Eu estava confiante, sabia que era uma questão de apanhar as ondas certas e fazer o que tinha feito até lá. Havia um australiano de quem nunca tinha ouvido falar mas ele partia a loiça toda, o Shane Holmes. Tinha um backside incrível, muito afiado e explosivo, mas lá está, é um surfista que dá para ver que não tem muita experiência competitiva, que dava vacilos… que me recordava um bocado de mim (risos). Ele dava tudo ali nas duas primeiras manobras e se for preciso caía mas ainda fazia um 8. Depois o Noé Mar obviamente começou logo muita bem, com um 8 e um 9, e eu comecei logo a apontar para o segundo lugar. Nunca desisti mas queria construir scores para pelo menos ficar em segundo!
Sentes que a foi uma “missão cumprida”?
A missão cumprida mesmo era se tivéssemos ganho. Mas acho que foi um grande passo em termos de confiança e expressão. Foi bom saber que podemos estar ali, no top2, no meio de selecções fortíssimas como a dos Estados Unidos, ter ficado à frente deles já é um grande resultado em si.
Como foi a recepção à chegada a Lisboa?
Foi boa, não estávamos à espera, veio muita gente, nunca tinha tido uma recepção assim com amigos, media e mesmo os adeptos. É sinal que o surf está a crescer em Portugal, por tudo o que o Saca alcançou e o Kikas e Vasco, a pouco e pouco começamos a ter recepções mais de estrelas desportivas do que dantes.
E depois de chegares? Consta que foste muito procurado pelos media…
Essa semana a seguir foi um inferno. Nesse dia cheguei às duas da manhã a casa, cheio de jet lag, não adormeci até às 5. Às 8 da manhã tinha de estar na TVI para o directo, depois vieram à Praia Grande fazer uma reportagem, depois foi a Gala e esta semana tem sido mais ou menos assim. O que é sempre bom!
Como é que comparas este resultado num evento da ISA com o que procuras atingir na WSL?
O WSL está milhas à frente do ISA! São como os jogos olímpicos do surf mas não se pode comparar com um WCT ou um Prime, aquilo está ao nível de uma etapa 4 ou 5 estrelas. Tudo bem que fui vice-campeão do mundo, mas não me deslumbro com este resultado. Sei exactamente o que vale.
E agora, para onde segues?
Agora estou a preparar-me o Prime de Balito. Estou com pica, mas estive sempre, não me deixei ir abaixo pelos maus resultados do início do ano.
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