Pedro Soeiro Dias, Director do Departamento de Marketing da Despomar, partilha a sua visão sobre o estado do mercado de surf em Portugal, e não só…

(Continuação da Parte 1)

A Despomar tem tido um percurso de grande sucesso em Portugal, o que achas que fez desta empresa um sucesso tão distinto?
A palavra que melhor define este trajecto, é a mesma que define as pessoas (Paulo Martins, Artur Fernandes e Luís Alves) que estão por detrás desta organização – Seriedade.
Só com muita seriedade, empenho, energia e visão é que se consegue chegar até aqui e continuar a olhar para o futuro. A gerência tem sabido entender os desafios, criar soluções, adaptar-se e consecutivamente acrescentar valor ao mercado.
A Despomar é um dos maiores empregadores do conselho de Mafra e largamente o maior na Ericeira, valoriza as suas parcerias e olha para a sua origem (o surf) como mote para o futuro.

O que é sustentável e não sustentável neste momento?
Esta é uma pergunta muito difícil e de análise pessoal, penso ser impossível alguém afirmar com toda a certeza o que é ou não sustentável na industria do Surf…
Acredito muito no valor emocional do Surf e da experiência que ele promove. É uma actividade que tem definido vidas, mas como em tudo neste mundo, tem a sua dimensão limite e penso que essa já foi ultrapassada. Se pensarmos numa qualquer estancia de neve, toda as propostas comerciais estão limitadas à dimensão da própria estancia. O número de camas não aumentará, porque a estancia não comportará mais pessoas nas pistas. O mesmo acontece com o Surf, tem uma determinada dimensão.
Mesmo a nível comercial e sendo uma proposta aspiracional, a sua dimensão será sempre definida pelo mercado e o passado recente provou que não era sustentável pensar num mercado crescente e sem limite. Infelizmente com efeitos negativos e sem retrocesso.
Todavia, e também como em tudo na vida, os ajustes são feitos e a sustentabilidade aparece.

O que tens a dizer sobre as apostas do mercado em geral?
O Surf, a sua indústria e, por sua vez, o mercado viveram um período de transição e adaptabilidade durante o ano de 2011. Correspondeu ao período em que a crise mundial teve a sua máxima expressão na nossa indústria, a qual teve repercussões enormes, foi o descobrir de fraquezas que não eram de todo perspectivadas, muito menos foram antecipadas… Toda a indústria teve que sofrer reformas profundas, o que naturalmente mexeu na forma como se expressava e se explorava.
A trilogia eventos, surfistas e meios, sofreu ainda mais, porque estavam sobrevalorizados. Esta é uma opinião polémica, mas se fizermos uma análise fria, percebemos que haviam surfistas assalariados a mais, eventos explorados por promotores em défice e muitos meios com as mesmas propostas nas mesmas regiões e canais. Reforço ainda que, a qualidade estava longe da quantidade e a médio prazo os efeitos são sempre de ajuste, no limite foi isso que acabou por acontecer, a própria indústria adaptou-se.
As opções de investimento ocupam muito da minha analise diária, e acredito que estes são os pilares da nossa proposta, todavia é fundamental perceber qual o valor que está inerente ao projecto, seja ele o indivíduo, o evento ou o meio de comunicação, e segundo esse valor, qual o investimento justo e possível.
Há algo muito obvio, as marcas endémicas não têm, nem vão ter, os argumentos que outros players tem para intervir ao nível de investimento. Isto é claro.
Assim, o desafio é entender e explorar outras formas de continuar a contribuir e investir no mercado endémico, valorizando-o.

Há uns tempos escreveste que – “A culpa é dos surfistas…” ainda acreditas nisso?
Essa frase foi apenas o título de uma crónica, na qual fundamento essa opinião. Foi apenas um título impactante, todavia acredito que a componente emocional inerente ao Surf teve um peso na indústria insustentável e que abriu as portas a outras estruturas profissionalizadas, as quais, hoje, tem mais sucesso operando na indústria do Surf.
Há 10 anos ouvi um comentário de Kelly Slater num webcast, na altura em amena cavaqueira com Shaun Thomson, que nunca mais me esqueci, dizia a propósito do comentariado das provas de surf – “forget the bros, bring the pros…”. Em 2011 esta frase passou a fazer todo o sentido na indústria do Surf.
O Surf é uma actividade que teve um impacto profundo na minha vida e ainda hoje a primeira coisa que faço é olhar para a aplicação da Nixon para ver as condições de mar, no entanto, o Surf também é um negócio e aí a parte emocional tem que ser colocada em perspectiva, e esse é um exercício fundamental. Pegando no titulo da crónica, nem sempre os “surfistas” estão disponíveis para isso.

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