Luís Perloiro é um surfista que tem tudo para “explodir” a nível competitivo a qualquer momento e começar a colocar-se entre os melhores portugueses. Este local de Carcavelos tem feito tudo certo para evoluir, mas uma lesão prejudicou o seu percurso em 2019, ano em que já começou a “ameaçar” fazer resultados mais expressivos. Entre o circuito QS e a Liga, o sucesso está a caminho e para perceber como está a ser o seu processo de maturação como surfista profissional falámos um pouco com ele entre provas e treinos…

 

Tens competido em muitas etapas do circuito QS nos últimos anos. Como analisas os teus resultados face aos objectivos que definiste?
Nos últimos anos, e este ano não vai ser diferente, o meu objectivo foi ganhar horas e experiência em ondas onde há eventos do circuito QS. A ideia é, a longo prazo, me ir sentindo mais confortável para poder depois atacar resultados. O objectivo este ano é acabar no top165 no final do ano e a longo prazo é qualificar-me para o CT, em 2024. É um objectivo difícil, mas é um que já está a ser pensado há muito tempo. Tem uma série de passos e um processo grande junto do meu treinador, do meu preparador físico e psicóloga para conseguir atingi-lo.

Sabemos que não deixaste os estudos completamente de lado, conta-nos em que ponto estás a nível académico…
Actualmente não estou a estudar mas quando acabei o 12º ano candidatei-me ao Instituto Superior Técnico, em engenharia física e tecnológica, congelei a minha matricula e deixei a minha vaga garantida. O meu objectivo é fazer o curso quando o surf acabar para mim, seja para o ano ou daqui a 15 anos…

Quando decidiste seguir o caminho do surf como profissão e o que isso envolveu?
Foi mais ou menos no final do 10º ano. Não quis deixar totalmente de lado os estudos porque acho que é um factor importante na minha vida, mas parei temporariamente para dedicar-me inteiramente ao surf. Isso envolveu uma conversa com os meus pais, treinador, patrocinadores, para mostrar o que queria fazer, e dedicar-me inteiramente e foi uma decisão de que me orgulho bastante ter tomado.

 

 

Como é o teu dia a dia quando não estás a viajar?
Quando estou cá o meu dia a dia é voltado para o treino, treino de surf com o Kike (Lenzano) às terças e quintas o dia todo, mais segundas e sextas de manhã e por vezes à quarta-feira de manhã. Faço treino físico às segundas, quartas e sextas à tarde, e psicóloga às quartas. No fim de semana costumo sempre de surfar e muitas destas sessões de treino estou acompanhado de um camera man, para produzir conteúdos para as redes sociais. Para além disso, quando tenho tempo, estou com os meus amigos. É uma rotina muito à volta do treino, de me focar nos campeonatos seguintes e fazer o trabalho necessário para estar preparado da melhor forma para o tipo de onda que vou encarar de seguida.

Quais são as áreas do teu surf que mais tens trabalhado para te enquadrares no nível do circuito mundial?
Os tubos, daí ter viajado ao México, Indonésia e Chile, e mesmo em Portugal tenho ido mais aos Supertubos, Carcavelos e Coxos, não só para os campeonatos, mas também para as redes sociais. No instagram, por exemplo, eu paro o feed quando vejo uma imagem de um tubo bom, mais do que em manobras. Trabalhar as redes sociais é importante para os patrocinadores, e isso foi mais um ponto que me levou a trabalhar essa área, para ter mais conteúdo e visibilidade. Quis treinar também os aéreos este ano e no ano passado, mas tornou-se difícil por causa da minha lesão, o movimento que faço por causa dos aéreos é exactamente aquele que me levou à lesão, por isso deixei essa parte um bocado de parte nos últimos tempos mas quero trabalhar para poder ter os aéreos no pé e ir para os campeonatos com um jogo aéreo mais sólido, aéreos mais altos e rotações mais rápidas. Também tenho trabalhado bastante com o Kike a capacidade de fazer mais ondas boas, mais ondas completas, que a nível competitivo seriam acima dos 6/7 pontos, de forma a ser mais consistente nos heats. Em vez de fazer uma ou duas ondas boas por heat, em 20 minutos quero estar mais activo, fazer 6, 7, 8 ou 9 ondas boas de forma a melhorar essa parte do meu surf.

Quantos dias por ano tem passado fora do país?
Por ano passo mais ou menos 4 a 5 messes fora de Portugal, entre campeonatos e viagens de free surf.

 

 

Tens tido a oportunidade de conhecer os locais que visitas ou assim que estás despachado da prova segues para o próximo?
É uma coisa que valorizo bastante, conhecer os locais e os pontos interessantes dos países que visito. É importante para mim, ir ao Havai e visitar Honolulu, onde foi filmado o Jurassic Park, ou Pearl Harbour, onde os japoneses atacaram, o que fez com que os Estados Unidos entrassem na segunda guerra mundial. Ir aos locais e fazer surf é a prioridade mas é importante para mim aproveitar para conhecer o sítio.

Por falar em Havai, como foi surfar no North Shore nesta época do ano. Que ondas surfaste e como é o factor crowd fora de época?
Gostei imenso, foi uma experiência muito boa, estive lá um mês, surfei muitas horas, muitas ondas diferentes, Pipeline, Sunset, Rocky Point, Makaha, os beach breaks, e outras ondas no West Side e foi óptimo. Competi em Pipe e Sunset, foi uma aprendizagem muito boa, foi tempo investido da forma certa. Estava à espera de apanhar menos crowd nesta altura, fui de meio de Janeiro a meio de Fevereiro mas acho que aumenta exponencialmente de ano para ano, estava mesmo muito crowd. Especialmente em Pipeline, onde é sempre muito difícil fazer ondas, é preciso estar 3 ou 4 horas na água para apanhar uma ou duas ondas. Não é o melhor destino para fazer uma viagem para te divertires e apanhares altas ondas, mas é um destino importante para um surfista que queira competir, aprende-se muito. Eu gosto de estar lá, e espero voltar em breve.

Fala um pouco sobre a última etapa da Liga MEO de 2019…
Essa etapa foi sem dúvida um dos pontos mais altos do meu ano. Infelizmente, por causa da minha lesão, não fiz as primeiras três etapas mas a última correu bem. Consegui dar um grande tubo e cheguei à final, a minha primeira na Liga e isso deu-me motivação extra. A Liga (MEO Surf) é um circuito muito bom, é algo que temos de aproveitar. A organização, as praias escolhidas, os prémios monetários, é tudo muito bom. Não sei se vou conseguir fazer a primeira etapa deste ano porque vou estar em Israel, mas vou tentar ir a todas as outras.

 

 

Hoje em dia está a tornar-se cada vez mais difícil ser patrocinado, principalmente por grandes marcas. Como têm mudado as necessidades dos patrocinadores ao longo dos tempos?
De facto no início de 2020 muitos surfistas foram despedidos das marcas que os patrocinam. Eu não estou por dentro das marcas, dos budgets ou do que têm para oferecer a nível financeiro, mas a ideia que tenho é que se vivia um bocado num mundo de sonho, como se as marcas de surf pudessem pagar milhões aos seus patrocinados. Acho que agora a indústria caiu um bocado na realidade e deixou de haver dinheiro para tudo e chegou-se à conclusão que apostar em atletas nem sempre será o que dá mais retorno. Acho que agora para nós surfistas a solução passa muito por procurar patrocínios fora das marcas de surf. Agora a Billabong para mim, que me patrocina há muitos anos, é a minha família. Eles apoiam-me em tudo o que eu preciso, são impecáveis e espero continuar com o apoio deles durante muito tempo.

 

 

Comentários

3 comentários a “Luís Perloiro fala sobre o circuito QS e os seus objectivos | Entrevista”

  1. Margarida Appleton diz:

    FORÇA LULA!!!

  2. Tiago Perloiro diz:

    Grande Luis Perloiro, Grande Surfista.

  3. Mitttermayer diz:

    Grande Lula. Yewww!