Odeio a tecnologia da visualização de ondas… às vezes… raramente!!! Apercebi-me desta realidade numa daquelas alturas em que o trabalho é tanto que não há tempo para ir surfar. E, infelizmente, todos nós passamos por isto regularmente, para não dizer diariamente para a maioria.
Tenho a sorte de me incluir nos que regularmente (e admito, muito ocasionalmente) não conseguem surfar durante alguns dias, sabendo perfeitamente que para a grande maioria o surf existe muitas vezes ao fim-de-semana apenas ou, para quem consegue, bem cedo antes do trabalho (no Verão já o final de tarde joga para uma grande parte dos surfistas nacionais).
E tenho tido a sorte de nestes períodos em que o trabalho aperta, que acontecem no fecho de uma revista, de um Scrapbook ou durante a cobertura de um campeonato, o mar estar por norma mau. E sei que é sorte porque, em quase 10 anos (tempo de existência da ONFIRE), acho que só recentemente senti na pele não poder surfar quando estiveram três dias de luxo de surf por Portugal inteiro.
Tinha vindo dos Açores (em trabalho) e esperava-me o fecho de mais uma edição (a ONFIRE 58), processo que dura sempre pelo menos três dias entre acertos finais, revisões e mudanças de última hora. O último dia que estive nos Açores o mar estava tão mau que não deu surf. No dia seguinte, já em trabalho no escritório da OF, começou o fecho da revista e com este coincidiu o primeiro dia de surf perfeito no continente. Acreditei que o fecho demoraria esse dia e o seguinte, e na minha mente já planeava um dia inteiro de surf para me desforrar de dois dias de ondas perfeitas sem surf.
Nada disso aconteceu, e quando por fim fechei a revista o glass desapareceu e entrou o onshore. E, acredites ou não, nem uma matinal ou fim de tarde deu para fazer durante esses três dias. Ao todo foram então quatro dias longe da água salgada.
Uma ressalva importante. De certeza que muitos já devem estar a preparar-se para me “ofender” nos comentários deste post (escrevendo coisas como, “Coitadinho, ficou quatro dias sem surf!!! Eu faço surf só ao fim-de-semana, não te queixes!!!”), daí a seguinte ressalva: sei perfeitamente que sou um privilegiado no que a ter tempo para surfar diz respeito, tenho PERFEITA noção e consciência disso. Mas, como penso que seja fácil perceberes, afinal és surfista, quando te habituas a surfar (praticamente) diariamente, mesmo que na maior das vezes às 10 ou 11 da manhã já esteja no activo (e que geralmente nunca acaba antes das 20 e com direito a prolongamento das 22 às 24, pelo menos), não é fácil gerir dias seguidos sem surf quando as condições estão ÉPICAS (se ao menos este trabalho pudesse ser feito durante a noite acredita que o tinha feito para não perder um onda sequer durante estes dias)!
Mas o pensamento que aqui queria transmitir mesmo, é como este episódio me levou a perceber o quanto todas as tecnologias de visualização de ondas são desesperantes quando não podes surfar. Cameras nas praias, Instagram, Facebook, emails, mms!!! E isto para não falar dos telefonemas, ou melhor, dos “telemóvemas” (uma chamada de um telemóvel de um amigo que está na praia a ver as ondas, algo que com o verdadeiro telefone não dá para fazer) dos amigos a dizer que apanharam altas, etc, etc. E depois, tendo também como um dos cargos da OF filmar surf, ainda tive mais não sei quantos surfistas a ligar para irmos filmar que está CLÁSSICO!!! E, alguns, mesmo já lhes tendo dito que não ia dar nesse dia, tentavam novamente depois de almoço pois “estava mesmo LINDO e tínhamos de ir”. Resumindo, um massacre!!!
Juro que ao fim do primeiro dia, e vendo a previsão para os dias seguintes, optei por não ir ver nenhuma webcam, Facebook ou Instagram (o que não foi fácil pois este último é o meu grande vício tecnológico). O que de pouco ou nada serviu pois o telemóvel tocava regularmente e, vendo o nome, sabia que tipo de conversa viria do outro lado. E por isso, tenho mesmo de admitir, que chegou a haver telefonemas de amigos que não atendi, ainda por cima tenho um certo amigo cuja nossa “brincadeira” é humilhar o outro quando sabemos que ele não pode surfar, largando bombas como: “Estava lindo!!! Ninguém na água!!! PERFEITO!!! E nesses dias sabia que ele não estava a exagerar (é também um dos afortunados que pode surfar praticamente todos os dias).
Não imaginam as saudades que senti, nesses dia, dos tempos em que tinha de ver as cartas meteorológicas do jornal e o boletim metereológico na RTP1 para perceber como iria estar a ondulação e o vento para decidir a praia a ir. Este era o tempo sem telemóveis, Facebook e Instagrams, e não ver a página do tempo de um qualquer jornal diário ou perder o boletim meterologico era algo simples de fazer.
Resumindo, o progresso tecnológico no que ao surf diz respeito é sem dúvida nenhuma fantástico pois permite qualquer um, independentemente de poder surfar diariamente, semanlamente ou mensalmente, garantir mais surf e de mais qualidade. Mas quando estamos enclausurados sem perspectivas nenhumas de surf… então que venham os tempos da idade da pedra de volta!
NB
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